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Artigo de Alberto Carlos Almeida: A Copa é um sucesso, e ponto

A Copa é um sucesso, e ponto

Por Alberto Carlos Almeida | Para o Valor Econômico

Diz o ditado que recordar é viver. Hoje, desejo recordar o que escrevi tempos atrás acerca do que ocorreria em nossa Copa do Mundo. Fui voz dissonante. Na contracorrente, afirmei que a Copa seria um sucesso. Não disse isso baseado em "wishfull thinking", mas na análise de informações reais acerca de como nos comportamos nas Copas anteriores (ainda que não tivessem ocorrido no Brasil), de como o brasileiro vê o futebol e o que ele significa para nossa sociedade.

Como uma vez disse Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. A mídia se comportou como principiante quando se tratou de supor o que iria acontecer na Copa brasileira. Gerou enormes expectativas negativas em torno do evento, mas nenhuma se realizou. Bastava ter visto como fora a Copa das Confederações, quando oito seleções lotaram de torcedores vários estádios. A Copa do Mundo seria quatro vezes maior em termos de movimentação, embora espalhada por mais cidades. A mídia inteira ignorou esse fato.

Mais grave ainda, os jornalistas brasileiros ignoraram que o país tem capacidade de organizar inúmeros grandes eventos. Em artigo publicado nesta coluna em 10 de janeiro, sob o título "Blatter fala e a caravana vai passando", afirmei:

"A imprensa, motivada pelo complexo de vira-latas, termo de Nelson Rodrigues que imortalizou a falta de autoestima que temos, já fez um longo e competente trabalho ao plantar tais expectativas na cabeça dos brasileiros. Essa visão predominantemente negativa da população não é ruim para o governo. O motivo é simples: não haverá engarrafamentos em dias de jogos, os turistas terão onde se hospedar e haverá voos suficientes.

"Não há pressão sobre a logística maior do que a provocada pelo Réveillon e pelo Carnaval. O deslocamento anual causado por ambos os eventos para cidades que serão sede de jogos, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, é maior, e sempre será, do que aquele que ocorrerá durante a Copa do Mundo. Estamos nesse período e não houve nenhuma notícia sobre engarrafamentos, falta de vagas em hotéis e de lugares em voos. Pode ser que a imprensa não dê importância a isso e seja inteiramente enviesada, isto é, problemas logísticos não são noticiados no Révellion e no Carnaval, mas o serão na Copa do Mundo. Ora, se for isso mesmo, trata-se realmente de um caso único de complexo de vira-latas e, acima de tudo, de péssimo jornalismo. Não creio nisso. O mais provável é que a expectativa negativa dos brasileiros não venha a ser realizada: os engarrafamentos não serão maiores ou menores em dias de jogos, e haverá onde se hospedar, assim como voos suficientes.

"Igualmente importante é o clima criado pela Copa do Mundo. As estrelas do noticiário serão Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, dentre outros. O que a população vai querer ver no noticiário não são coisas negativas, mas sim os gols mais bonitos e os jogos mais disputados. A televisão dará mais espaço no noticiário para a chegada das seleções ao Brasil do que aos voos atrasados. O clima jornalístico e publicitário de uma Copa é avassalador quando ela é realizada fora do Brasil. Imagine-se agora, quando será no país do futebol".

Em outro artigo, também nesta coluna, publicado em 24 de janeiro, sob o título "As lições de Nelson Rodrigues", escrevi:

"O grande problema em que se incorre ao falar mal da organização da Copa do Mundo no Brasil é que, de acordo com pesquisa do Instituto Análise, 83% dos brasileiros torcem pela seleção, 82% dizem que assistem aos jogos do Brasil durante as Copas, 70% torcem por um time de futebol, 64% se interessam por notícias sobre futebol e 60% conversam ou fazem brincadeiras sobre futebol com parentes e amigos. A proporção dos que respondem afirmativamente a todas essas cinco perguntas é de impressionantes 51%. Ou seja, pouco mais da metade da população brasileira torce pela seleção, assiste seus jogos, têm um time de futebol, se interessam por notícia de futebol e fazem brincadeiras e conversam sobre o tema com parentes e amigos. Para bom entendedor, meia palavra basta: no Brasil, o futebol não é brincadeira".

Sobre as previsões de protestos intensos durante a Copa, escrevi em 7 de fevereiro, sob o título "Copa do Mundo e protestos":

"É impossível afirmar se haverá protestos ou não durante a Copa do Mundo. Muitos previram que haveria durante a Jornada Mundial da Juventude, e acabou não acontecendo. Aqueles que são contra o governo têm previsto que os protestos serão intensos. Os que apoiam o governo dizem que não haverá protestos, ou que serão mínimos. É fato que a população acredita que ocorrerão manifestações e que será uma oportunidade de pressionar os políticos a resolverem de forma mais efetiva os problemas. A população crê que a mídia internacional, na presença dos protestos, dará ampla cobertura e que isso resultará em decisões efetivas dos governos. A simples crença em um fato não o leva a acontecer. Por outro lado, no caso dos acontecimentos sociais, tal crença pode resultar em uma profecia que se autocumpre. Contra o governo, estão as expectativas da população de que ocorrerão manifestações. Está a favor o clima criado pela mídia em uma Copa do Mundo. Afinal, quem trocará assistir várias vezes ao gol mais bonito, a análise do erro do juiz, comemorar com os amigos a vitória em cada partida da seleção, quem trocará isso por acompanhar as notícias negativas acerca da organização da Copa?"

Foi interessante reler isso agora, durante a Copa. Igualmente interessante foi relembrar a capa da revista alemã "Der Spiegel" com a bola da Copa, a brazuca, pegando fogo e caindo sobre o Rio de Janeiro. A matéria da revista era fortemente crítica à Copa e recheada de previsões catastróficas, nenhuma das quais se verificou. Aqui no Brasil, a matéria da "Der Spiegel" foi considerada por muitos o atestado de que a Copa seria um fracasso retumbante. Afinal, eram os alemães que estavam dizendo e, considerando-se nosso complexo de vira-latas, eles são superiores aos brasileiros.

O que dizer, então, do "imagina na Copa"? "Imagina na Copa" quantos erraram o que estava previsto para acontecer. "Imagina na Copa" o sucesso que estão sendo os jogos e a receptividade aos turistas. E tome-se "imagina na Copa". Espero que não seja iniciado desde já o "imagina na Olimpíada".

O sucesso da Copa tem a ver com algo que escrevi, também nesta coluna, em 8 de fevereiro do ano passado, no artigo intitulado "A Copa do Mundo será um outro Carnaval":

"Mais do que nacional, a Copa do Mundo, no país do futebol, será um evento social. As pessoas se mobilizarão para acompanhar os jogos, vão economizar para pagar suas viagens rumo às cidades-sede, para ver várias seleções em suas concentrações, obter autógrafos de estrelas do futebol. Não haverá indiferença, não apenas a respeito de nossa seleção, mas acerca de todas as delegações que desembarcarão no Brasil para disputar o torneio. O motivo mais importante que impedirá o fracasso de nossa Copa do Mundo é que ela será carnavalizada. Vale repetir, a Copa é o maior evento do mundo do futebol que ocorrerá no país do Carnaval e do futebol. Ora, isso não pode ser desconsiderado. Quem ignora essa combinação não sabe o que faz o Brasil, não compreende nossas especificidades".

Espero que aqueles que previram o fracasso da Copa tenham aprendido um pouco sobre o Brasil.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro"

Artigo do ministro Aldo Rebelo: Altruísmo e vergonha na Copa

Duas cenas iluminaram contradições na jornada da Copa do Mundo no Brasil:

Proteção da imagem – A enfermeira Luzimar Nascimento achou um mochila no ônibus em Natal, levou-a para a casa da família Aquino, onde trabalha como cuidadora e encontrou documentos, cartão de crédito e nove ingressos para jogos da Copa. Desencadeou uma cruzada altruísta para localizar o dono da mochila, o mexicano Eric Tejeda, com telefonemas internacionais para a operadora do cartão, peregrinações nos hotéis e nas ruas, até se devolverem os pertences ao turista estrangeiro. “Eu não queria que ele saísse com uma imagem ruim do Brasil,” disse Luzimar.

Selvageria antinacional – A imagem ruim do Brasil foi impressa nos olhos do mundo pelos que xingaram a presidente Dilma Rousseff no estádio do Corinthians. O insulto obsceno não atingiu a presidente da República, a cidadã, a mãe acompanhada da filha. Foi um bumerangue que deu volta indecorosa e ferreteou em seus lançadores o estigma da infâmia. Se diziam que a Copa iria nos envergonhar, o episódio constituiu a grande vergonha que o Brasil passou no momento de maior visibilidade internacional de sua História.

Atribuiu-se a virulência a uma vaga “elite branca”, talvez os grã-finos de Nélson Rodrigues que perguntavam quem era a bola. Mas o gesto colide com o conceito do que há de melhor na sociedade. Não era a elite de que saíram homens de Estado como José Bonifácio, Júlio Mesquita, Roberto Simonsen e tantos outros protagonistas do nosso processo civilizatório. Tinham noção de país, de interesse nacional, da impessoalidade das instituições.

Convém lembrar aos desbocados que “noblesse oblige”, ou seja, devem honrar o nome e a ascendência. Se não a que acham que têm, ao menos a da realeza herdada do tuxaua Tibiriçá, pai de Bartira, casada com João Ramalho, ancestrais dos quatrocentões paulistas que irradiaram o progresso no Brasil.

Não lhes cabe a pretensão de nova aristocracia, com privilégios hereditários, nem a exclusividade do poder nem achar que podem desrespeitar os escolhidos do povo. Como observou o filósofo Álvaro Vieira Pinto, em Consciência e Realidade Nacional, “a eleição na democracia serve exatamente para refutar a ilusão aristocrática, que consiste em supor que são os melhores que fazem o melhor”. A enfermeira Luzimar não figura no “quem é quem”, mas fez o melhor.

Aldo Rebelo
Ministro do Esporte


Artigo publicado na edição de sábado (21.06) do Diário de S. Paulo

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