Confira artigo do ministro Aldo Rebelo publicado no Diário de S. Paulo

Última atualização em Sexta, 27 Dezembro 2013 21:20
Escrito por Paulo Roberto Rossi de Oliveira
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A magia da Jules Rimet

A deusa alada saiu da mitologia para enlevar a realidade de bilhões de pessoas. Na forma de um troféu, pequeno nas dimensões, com apenas 30 centímetros de altura, seu grande valor não era o ouro com que foi esculpida, mas ser o símbolo da conquista da maior festa competitiva do planeta, a Copa do Mundo. Era a Taça Jules Rimet, entregue pela Fifa desde 1930 à seleção que vencesse o torneio. Aquele que conquistasse o tricampeonato ficaria com ela definitivamente, e a honra coube ao Brasil, em 1970.

Daí porque, ao contrário do mencionado na coluna da semana passada, a Jules Rimet já não é oferecida a quem ganha a Copa. Outro troféu foi confeccionado, tão disputado quanto o anterior, mas sem o encanto que a taça representando a deusa grega da vitória, Nique, injetava em bilhões de torcedores. Para nossa tristeza, ela foi roubada da sede do CBF no Rio de Janeiro, em 1983, e seus 3,8 quilos de outro acabaram derretidos para venda do metal por um valor certamente infinitamente inferior ao do fetichismo que expressava como recompensa de uma façanha que atualmente mais de 200 países ou delegações nacionais perseguem com paixão  no campo de futebol.

A Jules Rimet testemunhava a influência da França na organização do futebol mundial. Os franceses criaram a Fifa e organizaram a Copa. Assim como o barão de Coubertin foi um apóstolo dos Jogos Olímpicos, o cartola Jules Rimet foi um tribuno do futebol. Criado pelos ingleses, o esporte, a começar do nome, propagou-se com termos deste idioma, mas o francês repassou numerosas palavras, acepções e expressões, como passe, prorrogação, linha de fundo e linha de ataque, atacante, defensor, clássico, tiro (mesmo que chute do inglês shoot), marcar um gol, meia, primeiro/segundo tempo, tempo regulamentar.

Galicismos que entraram no português com outros sentidos desdobraram-se em termos do futebol, como artilharia, balão, banheira, bicicleta, campeão/campeonato, chapéu, concentração, copa, equipe, petardo.

Da Jules Rimet guardamos ao menos uma réplica que nos distingue como o primeiro tricampeão do mundo.

Aldo Rebelo
Ministro do Esporte


Artigo publicado na edição de sábado (30.11) do Diário de S. Paulo