Uso de genes desperta preocupações

Publicado em Sexta, 22 Março 2002 10:12

Agência Mundial Antidoping está de olho em técnica que pode aumentar desempenho JOHN JEANSONNE Para o caso de haver por aí algum cientista maluco pensando em usar a tecnologia de transferência genética para melhorar o desempenho dos atletas, a Agência Mundial Antidoping (Wada) já está propondo uma ampliação na definição de doping e a extensão dos métodos para detectá-lo. Em conferência no Cold Spring Harbor Laboratory, especialistas em esportes, ciência, tecnologia e ética concluíram que os "riscos são evidentes, em meio à imensa promessa terapêutica das descobertas médicas. "Se conseguirmos lidar com o problema no estágio inicial, seremos capazes de desencorajar os atletas a tentarem usar a genética de modo errado. Se não os desencorajarmos, ao menos poderemos identificá-los e tirá-los das competições", disse o presidente da Wada, Richard Pound, ex-vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional. Para Theodore Friedmann, professor de genética da Universidade da Califórnia, a reposição genética "já não está restrita ao campo teórico". E, apesar de o grupo não levar em consideração idéias futuristas como a do time de basquete sob encomenda, concordou que as experiências atuais podem levar, em poucos anos, à capacidade de regenerar músculos ou aumentar a resistência pelo transplante de determinados genes. Outra conclusão da conferência foi que, como hoje ocorre com o doping, a tecnologia de transferência genética não terapêutica, destinada apenas a melhorar o desempenho, deveria ser proibida. "Queremos estabelecer padrões internacionais de ética e comprometimento", disse Pound. Segundo Joseph Glorioso, diretor do Centro de Terapia Genética Humana de Pittsburgh, um dos desafios da empreitada é "a área cinzenta, a tênue linha que separa um tratamento médico de um processo para melhorar o desempenho". Onde acabam os cuidados médicos de uma lesão, que podem incluir a transferência de genes, e começa a ajuda artificial ao desempenho? "Este é um assunto muito importante", disse Friedmann. "A incerteza sempre vai existir. Não há limite claro entre tratamento e aprimoramento da forma física."
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