Confira entrevista do ministro George Hilton ao jornal francês Le Figaro

Publicado em Domingo, 03 Janeiro 2016 12:48

O Brasil espera a presença de atletas russos nos Jogos do Rio, Le Figaro 29/12/15

A sete meses dos Jogos Olímpicos, George Hilton, o ministro do Esporte brasileiro, avalia os temas quentes para o Figaro

Martin Couturié

Le Figaro - A sete meses da cerimônia de abertura, como estão os Jogos Olímpicos do Rio?

George Hilton - Nós temos um plano de ação que tem correspondido a tudo o que foi planejado. Neste momento, de 70% a 90% dos trabalhos já foram realizados. Há obras concluídas antes mesmo da data prevista.

Le Figaro - Há críticas quanto à poluição das águas da Baía de Guanabara, onde serão realizadas as provas de vela. O que vocês estão fazendo?

George Hilton - O Governo do Estado do Rio de Janeiro vem tomando medidas para resolver o problema. Foram instaladas ecobarreiras para evitar a passagem de lixo, por exemplo. Quando o Rio ganhou o direito de sediar os Jogos, a água estava poluída a um nível de 80%. Hoje, conseguimos superar o índice de 50% de tratamento das águas que chegam à Baía de Guanabara. O objetivo é chegar aos 80% nos locais onde serão disputadas as regatas, mas esse trabalho continuará sendo realizado após as Olimpíadas.

Le Figaro - Ao pensar nos Jogos Olímpicos, o senhor dorme bem à noite?

George Hilton - Eu durmo muito bem e sonho todas as noites com medalhas olímpicas. Nossa meta é ficar entre os top 10 na classificação por medalhas dos Jogos Olímpicos e entre os cinco melhores nos Jogos Paralímpicos. Desejamos o ouro em esportes coletivos, como o futebol e o vôlei, mas também na natação, lutas, tiro com arco, canoagem...

Le Figaro - Antes da Copa do Mundo, numerosas críticas foram feitas pela população brasileira. Como está a situação antes dos Jogos Olímpicos?

George Hilton - O clima é diferente daquele que precedeu a Copa do Mundo. Agora a população brasileira se dá conta de que podemos organizar grandes eventos corretamente. De 2007 até agora, organizamos os Jogos Pan-Americanos, os Jogos Mundiais Militares, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, e tudo foi realizado com sucesso.

Le Figaro - Qual a importância dos Jogos Olímpicos para o Brasil?

George Hilton - Eles são importantes pelo legado que o Brasil deseja deixar com sua realização e para reforçar o turismo e os intercâmbios comerciais. Haverá 205 países envolvidos nas Olimpíadas. Já há negócios sendo feitos graças aos Jogos. E o legado será para o Brasil inteiro, pela construção de infraestruturas, de transporte, de estádios, de centros de excelência e de iniciação esportiva que vão permitir a prática do esporte para os jovens.

Le Figaro - Dick Pound, ex-presidente da Agência Mundial Antidoping, disse que os Jogos Olímpicos de Londres tinham sido "sabotados" pelo doping. O senhor se preocupa com o Rio?

George Hilton - Estive recentemente no Canadá, na sede da Agência Mundial Antidoping. E nosso laboratório foi oficialmente reconhecido e reacreditado. É apenas o terceiro no Hemisfério Sul e o primeiro na América do Sul. Os atletas brasileiros são atualmente controlados sem aviso prévio, uma maneira de demonstrar que o Brasil será rigoroso na luta antidoping. Não toleraremos casos de dopagem. Assumimos o compromisso de realizar os Jogos mais limpos da história.

Le Figaro - Qual o orçamento consagrado à luta antidoping para os Jogos do Rio e quantos controles serão feitos?

George Hilton - O Ministério do Esporte terá investido 159,3 milhões de reais (38,6 milhões de euros) nos equipamentos e ações operacionais do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD). Entre 2015 e 2016, 5.500 controles terão sido realizados no Brasil, sem contar aqueles que serão feitos durantes os Jogos, de iniciativa do COI.

Le Figaro - Após o escândalo de doping na Rússia, o senhor defende a ausência dos atletas russos no Jogos do Rio?

George Hilton - Eu espero que os atletas russos estejam presentes no Rio. A Rússia é um país importante no esporte. Sua ausência seria uma verdadeira perda. Seremos rigorosos na luta antidoping com a Rússia e também com todos os demais países, os atletas do mundo inteiro. Apoiamos todas as investigações e punições contra o doping decididas pela Agência Mundial Antidoping e pelo Comitê Olímpico Internacional. Nós queremos a vitória do esporte limpo.

Le Figaro - O Brasil vai apoiar a candidatura de Paris para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024?

George Hilton - Encontrei-me recentemente com Thierry Braillard (ministro do Esporte da França) e disse-lhe que o Brasil via com grande simpatia a candidatura de Paris. A relação entre os nossos dois países é forte. E estou certo de que a França reúne todas as condições para ter êxito na realização de grandes Jogos.