Tocha olímpica desbrava a Floresta Amazônica e anda de barco pelo Rio Negro

Publicado em Terça, 21 Junho 2016 18:19

Um dia entre penas, cocares, animais silvestres, canoas, rios caudalosos e o verde intenso da mata. Depois de percorrer cidades, sertões,  praias e regiões montanhosas do Brasil, a chama olímpica chegou, nesta segunda-feira  (20.06), ao coração da Floresta Amazônica. Um indígena, um representante de uma comunidade ribeirinha e uma ex-atleta foram alguns dos 15 condutores a levar a chama pelos 450 quilômetros de rota, percorrida por via terrestre e fluvial.

Revezamento Tocha Olímpica no encontro das águas. (Foto: Iano Andrade/Ministério do Esporte)Revezamento Tocha Olímpica no encontro das águas. (Foto: Iano Andrade/Ministério do Esporte)

O dia começou no Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs) considerada a melhor unidade militar de formação de combatentes de selva do mundo. A chama olímpica chegou pelo portão de entrada e foi conduzida até o pátio central da unidade pelo cabo Peter Kehinde, 24 anos, praticante de atletismo. Durante sua condução, ele marcou passo, ou seja, executou uma espécie de marcha, e demonstrou os gritos de guerra da corporação. "O militar já é um atleta por si só.  Sua rotina é uma rotina de exercícios", afirmou. Os números comprovam a afirmação de Peter: até o momento, 100 atletas classificados para os Jogos Rio 2016 servem às Forças Armadas. Destes, 39 são do Exército.

Durante seu percurso, o cabo foi escoltado por doze militares mulheres,  em uma atitude inclusiva do segmento feminino no universo militar. "Até hoje, mulheres desempenharam funções administrativas e de apoio, eram médicas, enfermeiras das Forças Armadas. Mas este ano, pela primeira vez, a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) abrirá vagas para 40 mulheres combatentes", destacou o tenente-coronel Silva Pena, do Centro de Comunicação Social do Exército.

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No pátio do Cigs, o cabo transmitiu a chama ao primeiro-sargento Edney Tomazini. Campeão pan-americano, bicampeão brasileiro e sul-americano de jiu-jitsu, o atleta e militar completava  quarenta anos e recebeu o inesperado presente de carregar a chama durante a passagem pela unidade militar. "Além de toda a segurança que proporcionamos à população, nós disseminamos o esporte", salientou Tomazini.

Ele levou a chama até as dependências do zoológico, que fica nas dependências da unidade militar, e a entregou ao condutor Igor Simões de Andrade. Fisioterapeuta, ele desenvolve um trabalho que ficou conhecido como a bototerapia, o uso desses animais em tratamentos cognitivos para crianças com Síndrome de Down e autismo, por exemplo. "Fiz um trecho dentro do zoológico, perto de animais poderosos dessa floresta, como onças,  botos, gaviões reais.  Essa oportunidade é um reconhecimento ao meu trabalho ", destacou.

Indígenas de comunidades da região também participaram do revezamento da tocha. (Foto: Iano Andrade/Ministério do Esporte)Indígenas de comunidades da região também participaram do revezamento da tocha. (Foto: Iano Andrade/Ministério do Esporte)

Botos
Depois do percurso por Manaus, a chama, pela primeira vez desde o início do revezamento, se entranhou na Floresta Amazônica. A primeira parada foi em São Tomé, a dezenove quilômetros de distância da capital amazonense. A estrela do lugar é o boto,  e foi justamente com os chamados golfinhos de água doce que o fogo olímpico foi fotografado.

Em seguida, o comboio fluvial seguiu para a comunidade indígena de São João do Tupé, distante 30 quilômetros de Manaus, e acessível de barco, pelo Rio Negro. Lá, foi levada a uma oca e passou por um ritual indígena sagrado,  conduzido pelo pajé da aldeia, Raimundo Kíssibi, da etnia Dessana. "Nós, os Dessanas, somos seres do dia, nosso símbolo é o sol, o fogo. Por isso estou muito honrado em conduzir a chama" afirmou o pajé. Paramentado com cocar de penas e pintura de urucum,  o indígena levou o símbolo olímpico a uma área de vegetação fechada e árvores frondosas, onde a luz do sol quase não entrava. Sempre seguido pela família e pelos membros da comunidade,  também trajados para a ocasião especial.

De barco, a chama seguiu para a orla de Ponta Negra, no ponto exato onde foi montada a festa de celebração. Ali, um grupo montou um comboio de caiaques e remou pelas águas do Rio Negro com a chama acesa. A parada seguinte foi em Iranduba, mais precisamente na Comunidade Catalão. Trata -se de um conjunto de 106 casas flutuantes, conectadas umas às outras por passarelas. Quem aguardava o comboio era Manoel da Silva, patriarca da maior família da região. Ele embarcou em uma rabeta, canoa típica da região, e percorreu, de tocha em punho, os braços de rio que banham o povoado.

Revezamento Tocha - Floresta AmazônicaRevezamento Tocha - Floresta Amazônica

Encontro das águas
Em sua jornada através do Rio Negro, o fogo olímpico passou pelo famoso encontro das águas, ponto em que as águas do Rio Negro e do Solimões se encontram e não se misturam, formando uma linha com diferentes tonalidades de marrom. A condutora deste trecho foi a ex-canoísta Raimunda de Freitas, 62 anos. No fim do dia, a chama ainda fez uma visita à cidade de Presidente Figueiredo, um dos destinos turísticos da região,  considerado a "Terra das Cachoeiras".

Nesta quarta-feira, a chama seguirá seu trajeto pelo Norte e chegará a Porto Velho, capital de Rondônia.  No dia seguinte, voltará ao Centro-Oeste,  iniciando o trecho por Cuiabá, a capital matogrossense.

Caso Juma
Durante o revezamento,  as onças Simba e Juma, mascotes do Cigs e do 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Bis), respectivamente, ficaram expostas para fotografias. No final da operação, Juma se desvencilhou dos tratadores e se escondeu na mata. No momento do resgate, avançou sobre militares e acabou sendo morta com um tiro. O Comando Militar da Amazônia emitiu nota sobre o assunto em que afirmou que o Comando de Instrução de Guerra na Selva determinou a abertura de processo administrativo para analisar o ocorrido.

Mariana Moreira,  de Manaus (AM)
Ascom - Ministério do Esporte