Scheidt chega à sexta Olimpíada sem favoritismo, mas confiante: “Já fiz e dá pra repetir”

Publicado em Terça, 28 Junho 2016 11:23
Robert Scheidt tem experiência de Jogos Olímpicos como poucos. E pouquíssimos podem se orgulhar de ter 100% de presença no pódio com cinco edições no currículo. De Atlanta 1996 a  Londres 2012, ele esteve em algum dos três degraus, sendo duas vezes no lugar mais alto. Sobre a sexta participação que se aproxima -  de volta à Classe Laser, após duas Olimpíadas na Star - o velejador costuma dizer que talvez seja a primeira em que não chega como favorito. Mas, duas décadas depois de o jovem de 23 anos, ainda solteiro e sem os dois filhos, levar pra casa o ouro de Atlanta, a vontade de vencer ainda é a mesma para o Rio 2016.
 
“Chego a essa Olimpíada sabendo que o jogo vai ser duríssimo, que eu não vou ter a vantagem competitiva que eu tinha em 1996, 2000 e 2004, onde eram dois ou três atletas muito superiores aos demais. Hoje a gente tem 10 a 12 atletas que têm um nível muito parecido. Sei que vai ser tudo na execução, vai ser tudo naquela semana, mas eu acredito na minha chance e é por isso que estou aí tentando melhorar a cada dia”, analisa o bicampeão olímpico.
 
O velejador afirma que os Jogos Olímpicos não são evento de participação e, sim, de performance. O principal, segundo Scheidt, não é se classificar. É colocar-se em condição de disputar uma medalha. E a certeza de saber como “chegar lá” gera tranquilidade.
 
Para o bicampeão olímpico, a vantagem de competir em casa diminui devido à presença constante dos principais adversários nas águas da Baía de Guanabara. Foto: Gabriel Heusi/brasil2016.gov.brPara o bicampeão olímpico, a vantagem de competir em casa diminui devido à presença constante dos principais adversários nas águas da Baía de Guanabara. Foto: Gabriel Heusi/brasil2016.gov.br
 
“Por eu ter passado por vários momentos, ter ganhado Jogos Olímpicos, ter perdido, ter ficado em todas as posições do pódio, eu tenho a segurança do que eu posso fazer. Já fiz e dá pra repetir e isso é uma segurança a mais. Quem nunca fez ainda tem aquela dúvida se realmente dá pra chegar ou se Olimpíada é um sonho impossível. Sei que não é”, garante.
 
Na vela, ele explica, o resultado vem de uma construção paciente. “Não dá chegar com muita sede ao pote, querer definir a Olimpíada no primeiro dia. Você precisa ir construindo a Olimpíada. Primeira regata, tirou um sétimo? Está ótimo. Segundo dia, tirou um oitavo? Ótimo. Vai construindo a tua média e, se ficar entre os dez em todas as regatas,  no final você vai estar disputando a medalha”.
 
Fator-casa?
Enigmática, traiçoeira, desafiadora... Não faltam adjetivos para definir a Baía de Guanabara e os desafios que ela impõe aos velejadores. Se os brasileiros a conhecem há mais tempo do que os adversários, também é verdade que as principais equipes investiram bastante no último ciclo olímpico para ter o maior volume de informações possível sobre a baía. Além de câmeras e outros equipamentos de coleta de dados, os estrangeiros também são presença constante nas águas olímpicas nos últimos anos. Para Scheidt, o diferencial vai ser a regularidade na semana de competição.
 
“Todos os atletas que vão competir com chance de medalha já vieram aqui no mínimo dois ou três anos atrás, como a Holanda, a Inglaterra e os Estados Unidos, que já têm base aqui, já conhecem tudo sobre a raia no Rio. O Brasil ainda leva um pouco de vantagem porque passamos mais anos treinando aqui. Eu já velejo aqui há mais de 20 anos, mas o que importa no esporte é a execução, é aquela semana na Olimpíada, são 11 regatas”, diz.
 
As seis raias de competição também podem trazer realidades diferentes e, por isso, a troca de informação é frequente entre os velejadores para saber o que ocorreu em cada uma no dia a dia dos treinos. Além dos dados coletados pela equipe brasileira com auxílio da tecnologia, a base de informações vai aumentando nessas conversas com os colegas, guardadas as diferenças de efeitos de corrente e vento sobre os diversos barcos.  “Você nunca sabe exatamente o que vai acontecer, mas a gente já tem uma boa noção do que pode acontecer e o que pode dar certo e dar errado”, explica.
 
O prato que está na mesa
Para o bicampeão olímpico, quanto mais variação de condição, melhor será, de forma a enfraquecer os “especialistas” em determinada situação, como em ventos muito fortes ou fracos.
 
“Se a gente tiver todas as condições, cada dia um vento diferente vence o velejador mais all-around, que é o meu caso.  Sou um velejador que consegue se defender bem em qualquer condição de vento. Aqui no Rio, dificilmente a gente vai ter sempre vento forte ou sempre vento fraco, vai ter dia com chuva, com maré forte, e a gente tem que estar pronto. Tem que comer o prato que está na mesa, estando pronto pra tudo”, afirma.
 
Comendo um pouquinho a cada dia, ainda que o cardápio não seja o preferido, Scheidt espera chegar à sobremesa, com o doce e único sabor que só a medalha olímpica tem.
 
“O que me motiva é o amor pelo esporte, o meu espírito competitivo, o sonho olímpico, porque na Olimpíada você vive emoções únicas, só quem está ali sabe o que é, e é um pouco viciante. Quando você sobe no pódio e ouve o Hino Nacional, você quer sentir aquilo de novo. Vale todo o sacrifício, todas as manhãs acordando cedo, todos os treinos, todos os percalços, todas as derrotas, pra você chegar lá e ter a chance de brigar mais uma vez. Isso é o esporte: é você se colocar na situação de poder lutar por um objetivo. A medalha pode vir ou não, isso depende de várias circunstâncias. Mas é trabalhar para chegar lá com a melhor chance possível”, ensina.
 
Medalhas olímpicas de Robert Scheidt
 
» Ouro em Atlanta 1996 na Classe Laser
» Prata em Sydney 2000 na Classe Laser
» Ouro em Atenas 2004 na Classe Laser
» Prata em Pequim 2008 na Classe Star, com Bruno Prada
» Bronze em Londres 2012 na Classe Star, com Bruno Prada
 
Carol Delmazo, brasil 2016.gov.br
Ascom - Ministério do Esporte