Londrina acolhe a tocha de braços abertos com presença de medalhistas olímpicos

Publicado em Quarta, 29 Junho 2016 10:55
 
Primeira cidade a receber o revezamento da tocha no Paraná, Londrina mostrou sua cultura de grande influência japonesa e a força do esporte com os medalhistas olímpicos do vôlei Giba e Elisângela nesta terça-feira (28.6). Segunda maior colônia japonesa no Brasil, atrás apenas de São Paulo, Londrina abraçou a chama olímpica e seus campeões do voleibol com uma multidão nas ruas e uma calorosa celebração com o acendimento da pira pelo narrador esportivo Galvão Bueno.
 
Animados com a chegada da chama olímpica no estado, os paranaenses se mobilizaram para ver a passagem da tocha nas mãos de 60 condutores. Com um percurso de 12 quilômetros, a cidade do norte do Paraná escolheu o Centro Cívico para o início do revezamento, que começou com o gari Edivino Correia e muitos curiosos. Foi assim que as histórias dos conterrâneos, anônimos ou famosos, se juntaram com a da própria cidade e deram boas-vindas as Jogos Olímpicos no Brasil.
 
Maior ídolo esportivo local, o ex-jogador Giba foi um dos condutores na sua cidade natal. Considerado um dos melhores atletas da história do vôlei mundial, o londrinense conquistou com a Seleção Brasileira nada menos que oito títulos da Liga Mundial, três Mundiais e três medalhas olímpicas: ouro em Atenas-2004, prata em Pequim-2008 e Londres-2012. "É muito especial conduzir este símbolo na cidade onde eu conheci a modalidade", revela.
 
Confira galeria de imagens do revezamento em Londrina:

Revezamento da Tocha - LondrinaRevezamento da Tocha - Londrina

Aos 39 anos e agora na função apenas de comentarista, Giba disse estar feliz com o reconhecimento das pessoas com o que ele fez dentro de quadra e para o Brasil. "De alguma maneira, estamos mostrando o que fizemos no esporte e as pessoas reconhecem isso. Hoje estamos sendo protagonistas fora das quadras, porque vamos ajudar a contar uma nova história, que é a primeira edição dos Jogos Olímpicos na América Latina", festeja. Carregar a tocha traz ainda outras lembranças para Giba que, além do ouro, teve um dos melhores momentos da sua vida em Atenas. "Minha filha nasceu na Grécia durante os Jogos e ainda fui eleito o melhor jogador da competição. Imagina a emoção que eu senti", conta.
 
A expressão "Giba Neles" também nasceu em Atenas. Coincidentemente o narrador Galvão Bueno foi quem acendeu a pira às margens do Lago Igapó. Uma parceria de anos que continua hoje com trabalho de Giba como comentarista na Rede Globo, a mesma emissora de televisão de Galvão. "Foram várias histórias em uma única Olimpíadas. Muita gente ainda fala a expressão do Galvão quando me vê ou pergunta sobre o meu bigode", sorri o ex-jogador, que exibiu um longo bigode durante a final dos Jogos de Atenas.
 
Mais uma estrela do vôlei
Os fãs do ex-ponteiro da Seleção Brasileira não estavam apenas nas ruas esperando por fotos e sorrisos. No ponto de coleta, no bairro Jardim Leonor, onde os condutores se encontram para a retirada dos uniformes e uma breve orientação, estava outra grande fã: Elisângela. Medalhista olímpica em Sydney-2000, a conterrânea fez questão de enfatizar a importância do jogador para o voleibol. "Sou amiga e meia fã. Para mim ele sempre será o melhor do mundo. Nunca vi ninguém jogar igual", confessa.
 
Desde criança, Elisângela sonhava em participar de uma Olimpíada e vestir a camisa da seleção de vôlei. "Assisti aos Jogos pela primeira vez em Barcelona-1992 e meus olhos brilhavam com as atuações do Marcelo Negrão e do Maurício", recorda a londrinense, que se aposentou das quadras neste ano.
 
Conduzir a chama no Paraná foi para a ex-jogadora um filme de toda a sua dedicação ao vôlei. "Estar com a tocha é reviver um pouco a minha vida inteira no esporte", afirma Elisângela. "Acho que a passagem da tocha nacionaliza, valoriza e divulga os jogos. Toda cidade poderia ter esse contato que vem por meio da tocha. Todos se comovem e os meus conterrâneos estão vivendo esse sentimento olímpico por um dia".
 
Elisângela acredita que os brasileiros saberão dividir isso dos Jogos. "Espero que possamos separar o momento de crise no país e que respeitem a história dos Jogos. É uma festa, vamos aproveitar, porque vai acontecer de qualquer jeito e nunca mais teremos essa oportunidade", ressalta.
 
Carisma, hospitalidade e educação. Tudo o que a medalhista olímpica quer ver do Brasil além do pódio do vôlei. "Estou confiante que o voleibol do Brasil suba no pódio", aposta a ex-jogadora, que voltou para Londrina e criou um projeto social para ajudar crianças carentes e desenvolver o vôlei na região. "Espero retribuir um pouco tudo o que eu conquistei como atleta e dar chances para as crianças saírem das ruas, praticarem esportes e terem sonhos", concluiu.
 
 
Influência japonesa
O nome da cidade explica as origens da pequena Londres, colonizada pelos ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná. A névoa característica da mata da região lembrou a neblina da capital britânica e, por isso, a homenagem. Entretanto, o primeiro terreno agrícola comprado em Londrina foi de um japonês, como lembra Kimiko Yoshii, uma das condutoras da tocha. "Nosso povo sempre procura terra de qualidade e, na época do café, muitos imigrantes saíram de São Paulo em busca de novas oportunidades. Encontraram aqui a terra roxa e ficaram", explica.
 
A praça Tomi Nakagawa foi construída exatamente para homenagear esses pioneiros e foi lá que a sansei (neta de japonês) conduziu o fogo olímpico. "A tocha simboliza a força, a transformação, energia. Pegar um pedacinho dela é uma honra muito grande e jamais pensei em ter esse privilégio na minha vida", explica Kimiko. Nascida em Assai (nome originária da palavra Asahi - sol nascente), Kimiko mudou para Londrina com os pais e orgulha-se das conquistas e legados da comunidade japonesa na cidade. "Dizem que quando tem três japoneses juntos, eles fundam uma escola. E assim foi em Londrina, com custeio do próprio bolso", conta.
 
Com parte da vida dedicada ao trabalho social, ela é diretora da instituição que fundou com o marido, o Instituto Atsushi e Kimiko Yoshii, que trabalha com jovens em situação de vulnerabilidade social. "Nós os preparamos como menores aprendizes e temos uma parceria com mais de 500 empresas que dão a chance do primeiro emprego. Não dizemos não para nenhum jovem porque acreditamos que o melhor caminho é a educação".
 
Quarta geração dos imigrantes japoneses e sobrinho de Kimiko, o publicitário Lucas Muraguchi foi um dos pioneiros no resgate da cultura nipônica ao fundar o grupo Ishindaiko, que em português significa tambores de um só coração. Por isso foi convidado para conduzir a chama. "A tocha olímpica une as pessoas e os povos, o mundo inteiro numa energia só. E o taiko (tambor) também tem esse objetivo, unir todo mundo no mesmo som. Enquanto a tocha queima, o tambor vibra, está tudo interligado", afirma ele.
 
Lucas fundou o grupo há 13 anos e disse que foi tudo muito natural. "O meu primeiro contato com os tambores foi durante festivais tradicionais aqui mesmo na cidade. Eu ouvia aqueles sons e me sentia bem, queria tocar. Até que tive uma aula com um professor japonês e não parei mais". Da mesma forma aconteceu com as composições, o jovem yonsei (bisneto de japonês) se viu obrigado a compor músicas para poderem participar de competições. Muraguchi explica que a modalidade é mais do que uma expressão musical. "Precisamos mostrar a obra completa: o som, a coreografia, a energia, a expressão, o espírito do tocador, tudo tem que ser bom".
 
Lorena Castro e Lilian Amaral - brasil2016.gov.br
Ascom - Ministério do Esporte