Sul-americanos fazem festa com a chegada da tocha em Foz do Iguaçu

Publicado em Sexta, 01 Julho 2016 12:18
 
Português, inglês, espanhol, árabe e chinês. Esses foram alguns dos idiomas falados durante o revezamento da tocha nesta quinta-feira (30.06), em Foz do Iguaçu, no Paraná. Com brasileiros e estrangeiros, a passagem da chama olímpica pela cidade reforçou o espírito olímpico de união entre os povos e provou que a primeira edição dos Jogos na América do Sul é, especialmente, de todos os latinos.
 
Não foi por acaso que Foz foi escolhida para receber tantos estrangeiros. A Terra das Cataratas faz parte da tríplice fronteira, juntamente com a cidade paraguaia de Ciudad del Este e da argentina Puerto Iguazú. Com 552 metros de extensão, a Ponte da Amizade é o símbolo que separa o Brasil do Paraguai e os vizinhos aproveitaram para invadir Foz em busca da tocha olímpica. Mas não foi só a chama que atraiu os paraguaios. Pela primeira vez no revezamento do Brasil, dois estrangeiros deram o "beijo" entre as tochas. Os ex-atletas olímpicos Ramón Jiménez e Leryn Franco estavam eufóricos com a oportunidade.
 
"Estive em três olimpíadas e a primeira aos 14 anos em Atlanta-1996, quando conduzi a tocha e iniciei minha carreira esportiva. É a primeira vez dos Jogos Olímpicos na América do Sul e o comitê do Paraguai conseguiu a vaga para a gente. Ramon era meu ídolo quando fui aos Estados Unidos" lembra Leryn, que até hoje é recordista paraguaia de lançamento de dardo. "É incrível poder receber a chama dele, que praticava o lançamento de disco. Encerrei a carreira em Londres-2012 e não poderia ter um final melhor após 20 anos me dedicando ao esporte", sorri.
 
Com a família, amigos e fãs, a passagem da chama aconteceu na rua República da Argentina. Leryn conta que correu o mais devagar possível para aproveitar o momento. "Queria que isso não terminasse nunca. Diferentemente do atletismo, fiz tudo bem lentamente", brinca Leryn, de 34 anos, que representou seu país em Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. "Nunca pensei na minha aposentadoria. Como atleta, só pensamos em competir, ganhar e fazer recordes. Estou certa de que minha mãe, que já faleceu, me enviou esse grande presente", concluiu.
 
O paraguaio Ramón Jiménez carrega a tocha pelas ruas de Foz do Iguaçu. Foto: Francisco Medeiros/MEO paraguaio Ramón Jiménez carrega a tocha pelas ruas de Foz do Iguaçu. Foto: Francisco Medeiros/ME
 
Tiro com arco chileno
Não foi só o Paraguai que contou com condutor em Foz. Após oito meses lutando para carregar a tocha, o chileno Cristobál Barra, de 22 anos, realizou seu sonho. "Estou muito emocionado. É minha primeira vez no Brasil, nunca pensei que poderia carregar a tocha. É um momento marcante na minha vida", revela o atleta, que faz parte do time chileno de tiro com arco. Apesar de não ter conquistado a vaga para 2016, o arqueiro destacou a importância da Olimpíada. "Venho do outro lado da América da Sul. Sou o quinto na história do Chile a carregar a tocha e, em agosto, nossa delegação será a maior desde Sydney-2000", vibra.
 
O caminho para carregar a tocha foi longo. Cristobál tentou inscrever sua história em um dos patrocinadores e, como é estrangeiro, não conseguiu em função do regulamento. Mas a partir daí o Comitê Olímpico do Chile entrou em contato com o COB. "Fiz uma vaquinha para arrecadar dinheiro, quando descobri que minha luta deu certo. Sempre gostei dos Jogos, desde que tinha 6 anos. Pensava em algum dia participar e acho que é uma grande oportunidade para os brasileiros sentirem o espírito olímpico", explica o arqueiro, que veio ao Brasil acompanhado da mãe e espera estar nos Jogos em Tóquio-2020.
 
Completando a lista de hermanos condutores, a atriz argentina Calu Rivero era só sorrisos, tentando esconder a ansiedade. "Eu não achei que ficaria nervosa. Para mim é um momento cheio de emoção". Com 29 anos e oito de carreira, Calu disse que o esporte é um importante instrumento de transformação e por isso, carregar a tocha é uma grande responsabilidade. A artista ficou honrada em conduzir a chama no Brasil. "Temos que nutrir o sentido de união e esta é um celebração entre todos os países: Brasil, Argentina, Chile e Paraguai. Estamos em contagem regressiva para os jogos e queremos transmitir pensamentos positivos para todos os atletas que nos representam", deseja.
 
O beijo da tocha entre o chileno Cristóbal Barra e a paraguaia Leryn Franco. Foto: Francisco Medeiros/MEO beijo da tocha entre o chileno Cristóbal Barra e a paraguaia Leryn Franco. Foto: Francisco Medeiros/ME
 
Luta pela paz
Mais a frente, na avenida das Araucárias, foi a vez da maratonista Reem Hamed conduzir o fogo e inspirar a todos com sua mensagem. Nascida em Jerusalém e naturalizada brasileira, ainda tremendo e com gritos de alegria, Reem lembrou de seu país com emoção e esperança. "É orgulho demais. Esse objeto, que parece uma coisa simples, é símbolo da paz. Mas para mim é muito mais do que isso, é um pouco de esperança para meu povo, vendo uma mulher palestina no Brasil carregando a tocha da paz".
 
Há 32 anos em Foz do Iguaçu, que tem a maior comunidade mulçumana no Brasil, Reem diz ter estranhado tudo quando mudou. "Vim de uma família rígida, o início foi difícil. Era outro planeta, comida, vestuários, pessoas, clima, ar, tudo", relembra. Aos poucos, foi se familiarizando com os novos costumes, mas enfrentou outras barreiras, uma delas quando começou a correr, a convite de uma amiga, em 2006. "As pessoas perguntavam: como pode uma mulher árabe correndo?".
 
Reem disse que não vê o esporte como brincadeira, mas como uma arma poderosa e foi isso que ajudou na aceitação de sua comunidade, especialmente por ter o costume de sempre exibir uma bandeira da Palestina com a palavra paz. "Eles viram que eu não estava correndo para me exibir, mas para divulgar a paz para o nosso povo. Em fevereiro de 2017, vou correr a maratona de Jerusalém e essa tocha vai comigo!", promete. Hoje, a comunidade apoia a atleta que foi uma das fundadoras da Associação dos Corredores de Rua de Foz do Iguaçu, onde também trabalha como secretária.
 
Revezamento
O 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado foi escolhido para ser o ponto de largada do revezamento na cidade. A escolha foi determinada pela presença constante do exército na região, primeiro durante a Colônia Militar, no período de colonização, e depois com a primeira Companhia Independente de fronteira, criada em 1932. A sede do Batalhão está numa área de 118 hectares no centro da cidade, dos quais dois terços correspondem a uma reserva ecológica de preservação ambiental.
 
Na sequência, a tocha passou por pontos importantes da cidade de Foz, como o Antigo Hotel Cassino e o Palácio das Cataratas, onde funciona a Prefeitura Municipal. No bairro Vila Yolanda, Lang Lang, o primeiro pianista chinês a ingressar para as orquestras filarmônicas de Berlim e de Viena, disse estar lisonjeado em conduzir a tocha no Brasil. "É minha quarta vez no país, mas agora tenho uma responsabilidade maior. Voltarei para os Jogos", confirmou. Ainda no percurso, a tocha passou pela Mesquita Omar Ibn Al-Khatab, construída pela comunidade islâmica de Foz do Iguaçu e inaugurada em 1983.
 
Antes de chegar no Gramadão, local da celebração, o revezamento passou também pela Catedral Nossa Senhora de Guadalupe, em homenagem à padroeira da América Latina. Localizada em um dos pontos mais altos da cidade, a construção moderna, planejado em cima do formato de uma Cruz Grega, se mistura com algumas partes em estilo gótico. Nesta sexta-feira (01.07), as belezas naturais das Cataratas de Iguaçu e do Parque das Aves, assim como a hidrelétrica de Itaipu e o Templo Budista, serão o destinos da chama.
 
Lilian Amaral e Lorena Castro, brasil2016.gov.br
Ascom – Ministério do Esporte