Fogo crioulo tem encontro histórico com a chama olímpica

Publicado em Terça, 05 Julho 2016 11:40
Um dia depois de entrar em terras gaúchas, a chama olímpica fez uma viagem no tempo e descobriu não só a história dos Jesuítas, que atravessaram o Atlântico para evangelizar os índios, como a magia da cultura indígena Guarani. Conhecer São Miguel das Missões foi desvendar uma história adormecida nos caminhos dos Sete Povos do Rio Grande do Sul. A segunda-feira (04.07) foi marcada pelas belas imagens das ruínas do Sítio Arqueológico São Miguel de Arcanjo, que contou com dois condutores no revezamento.
 
A região também costuma contar com um tour da tocha. Inspirada no fogo dos Jogos, a chama crioula surgiu em 1947, com o objetivo de preservar tradições gaúchas. Assim como na Grécia antiga, o fogo brasileiro percorre regiões tradicionais no Rio Grande do Sul em cavalgadas, relembrando, entre outras histórias, o movimento Farroupilha. Nesta segunda-feira, as duas chamas estiveram lado a lado, uma na tocha conduzida pelo cacique da aldeia Guarani, Aniceto Gonçalves, e a outra conduzida por um representante gaúcho. O ato simbólico ocorreu em frente às ruínas da igreja de São Miguel de Arcanjo, Patrimônio Mundial da UNESCO, sob os olhares curiosos da população.
 

Cacique há apenas três meses, Aniceto disse ter ficado ansioso no início. "Eu não acreditei, fiquei nervoso, mas agora estou feliz. Foi uma surpresa e toda minha família está feliz". A aldeia Guarani fica a 30 quilômetros da cidade e vive, basicamente, do plantio para consumo próprio e do artesanato vendido na entrada do Sítio. "Significa muito para o nosso povo, pois a passagem da tocha pode trazer mais turistas para a região", afirma. A Igreja foi construída por missões jesuíticas evangelizadoras, e os índios respeitam o local e o entendem como sagrado, embora tenham mantido vivas suas crenças. "Respeitamos esse templo e sabemos que existem segredos do passado aqui. Meu avô contava", revela.
 
Aniceto recebeu a chama olímpica das mãos de Valter Rodrigues Braga, primeiro condutor do dia e idealizador do Ponto de Memória, espaço dedicado a preservar e divulgar a memória missioneira da região. "Temos a consciência de que muitas partes da nossa história já não existem. Era uma história adormecida e temos a felicidade de trazer para os olhos da humanidade", explica Valter. Outro reforço veio em 1938, quando o governo federal assumiu a preservação do local. Neto de indígena, Valter tem dedicado a vida pela causa e acredita que a passagem da chama olímpica será uma aliada para a luta. "A tocha vai se fortalecer mais ainda com a chama do tatarandê, artoche e da chama crioula", acredita.
 
Chama Olímpica e Fogo Crioulo numa interação que une tradições culturais gaúchas e esportivas. Foto: Francisco Medeiros/MEChama Olímpica e Fogo Crioulo numa interação que une tradições culturais gaúchas e esportivas. Foto: Francisco Medeiros/ME
 
Valter explica que o fogo era venerado nas culturas mais antigas. "Eles acreditavam que era fonte de cura, saúde e energização, por isso era um símbolo presente nos locais de purificações", diz. Por isso, a importância de terem conseguido restaurar um dos sete tatarandês existentes na época. "Esse era o sistema de comunicação utilizado nas reduções e têm origem milenar, os Incas, Maias e Astecas já usavam o método. Ele alimentava a fonte para acender os artoches e informar algo para o povo. Dez artoches acesos, por exemplo, significava festa e eram usados para anunciar os jogos na aldeia", conta.
 
Os dois fogos levaram a fazendeira Roselaine Maria Everling e o filho Bernardo que moram em São Miguel há seis anos a participarem da festa no Sítio Arqueológico. Nascida em Santo Ângelo, município conhecido como "Capital das Missões", ela disse ter ido pela primeira vez nas ruínas quando tinha 10 anos e voltou com o filho quando passou a morar na cidade. "Gostamos muito, não perderíamos por nada, fui esportista nos tempos de escola e tinha que estar aqui", conta.
 
Roselaine acredita que o momento mais interessante da passagem da chama em São Miguel foi a fusão simbólica da chama olímpica com a crioula. "Há 25 anos a chama crioula do Centro de Tradições Gaúchas permanece acesa. Ela fica com cada ex-patrão da entidade durante quatro semanas e passa de um para o outro", revela. A Centelha da Chama Crioula marca o ritual de encerramento das festividades da Semana da Pátria e início das comemorações da Semana Farroupilha. A chama é acesa desde 1947 e é o símbolo das tradições gaúchas que remete ao calor, paixão, hospitalidade e coragem.
 
A tocha saiu de São Miguel das Missões e seguiu para Santo Ângelo. Depois foi para Ijuí e terminou o dia em Cruz Alta, cidade celebração.
 
Lilian Amaral e Lorena Castro, brasil2016.gov.br
Ascom – Ministério do Esporte