Pelotas antecipa festejos de 204 anos com passagem da chama olímpica

Publicado em Quinta, 07 Julho 2016 11:33
No dia mais frio até agora do Revezamento da Tocha Olímpica, a chama passou por Pelotas (RS), nesta quarta-feira (06.07), e antecipou em um dia os festejos de aniversário de 204 anos da cidade com uma pitada de história e sobremesas deliciosas, dentre elas uma que leva o nome da tocha. O fogo percorreu oito quilômetros pelos principais pontos da cidade e nas mãos de 41 condutores contagiou os pelotenses que não se intimidaram com os 10° graus.
 
Escolhida como a primeira condutora em Pelotas, Andrea Pontes saiu do 9° Batalhão de Infantaria rumo à rua Duque de Caxias. Da paracanoagem brasileira, a pelotense desde criança sonhava em ser atleta, mas trocou o voleibol pelo diploma de direito. Após um acidente automobilístico em 2007, Andrea deu a volta por cima e viu que poderia realizar seu desejo mesmo em uma cadeira de rodas. "Justamente a partir deste momento que o meu sonho se tornou realidade. Estou brigando hoje por uma vaga olímpica no meu país. Espero me classificar e fazer parte desta festa inédita", conta.
 
Medalha de prata no Parapan de Toronto em 2015, Andrea (D) busca a vaga paralímpica na canoagem. Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.brMedalha de prata no Parapan de Toronto em 2015, Andrea (D) busca a vaga paralímpica na canoagem. Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br
 
Campeã brasileira na categoria KL1, Andrea conquistou o Sul-Americano e ainda foi medalha de prata no Parapan de Toronto em 2015. No dia 23 de julho, a canoísta terá a última chance de conquistar vaga para os Jogos Rio 2016. "Minha prova é um tiro de 200m e não permite erros. Até porque, agora, todas as adversárias estão em busca do mesmo objetivo, que é uma vaga olímpica", revelou a atleta, bolsista do Ministério do Esporte.
 
Andrea falou, ainda, da emoção de conduzir a tocha na sua cidade. "É uma sensação indescritível, que eu vou guardar para o resto da vida". Apaixonada por Pelotas, Andrea lembrou que sua cidade é culturalmente conhecida pela sua história, com o passado das charqueadas e, agora, com os doces tão famosos Brasil afora. "É uma honra enorme e uma festa grande para a população. Que presente de aniversário! Um privilégio ver Pelotas como uma das cidades a ter recebido a tocha olímpica", comemorou.
 
Segurança
Na avenida Duque de Caxias, o secretário Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, Andrei Rodrigues, inverteu os papeis e por 400m conduziu a chama olímpica. "A missão hoje é conseguir relaxar e curtir o momento de ser um dos condutores da tocha, como um brasileiro que tem orgulho de receber os Jogos no Brasil", afirmou. Natural de Pelotas, mas fora da cidade há 20 anos, Andrei diz ser um momento muito marcante mesmo tendo acompanhado a operação na Grécia. "Estou emocionado de poder estar aqui na minha cidade, participando desse evento", revelou.
 
Para o secretário, a passagem da chama na capital dos doces é uma boa chance de maior projeção. "Pelotas respira cultura, história, e, portanto, receber esse símbolo de celebração, de alegria, é uma oportunidade da cidade ser divulgada e, com isso, mais pessoas conhecerem as belezas dessa terra que hoje está fria, mas é uma cidade muito acolhedora", finaliza.
 
O comboio passou, ainda, pelas praças 20 de Setembro, Cipriano Barcelos (Santa Tecla e Marechal Floriano) e Praça Coronel Pedro Osório, até chegar no Largo do Mercado Central, onde os visitantes foram recebidos com o tradicional samba do Mercado e apresentações circenses.
 
A ex-ginasta Ana Levien (foto abaixo) acendeu a pira na cidade e foi escolhida por usar o esporte como ferramenta de transformação social. Quem conseguiu chegar antes do encerramento pôde provar os quitutes e conferir artesanatos vendidos no local. A cidade mais ao sul do trajeto da tocha pelo Brasil deixou um recado nos corredores de um dos prédios mais simbólicos de Pelotas, o Mercado: "A vida não tem receita, só precisa de tempero".
 
Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.brFoto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br
 
Do sal ao açúcar
O ciclo do charque foi o grande responsável pelo desenvolvimento da cidade, mas com o fim da escravidão no Século XIX, a economia da região teve que se reinventar e os doces assumiram o protagonismo. "O charque era o petróleo da época por ser o principal alimento dos escravos", explica o atual proprietário da charqueada São João, Marcelo Mazza Terra. Neto de charqueadora, o empresário nasceu na estância da família, onde mora até hoje. O casarão, que possui partes abertas para a visitação, é de meados do século XVIII e foi uma das testemunhas de como o açúcar convivia com o sal já naquela época. "Com a riqueza dos charqueadores, os filhos iam estudar na Europa e essa influência cultural também foi trazida nos doces. As damas foram dando aquele toque que deu origem aos tradicionais doces de Pelotas", explica Marcelo.
 
A passagem da tocha pela cidade representa um ciclo ainda mais novo, o do turismo. "A parte institucional que a tocha representa, a união dos povos, a globalização, nós, há muito tempo atrás vimos neste local. Hoje é um prazer mostrar a nossa cidade", comemora Marcelo.
 
O doceiro David Jeske também confia no crescimento do turismo. "Eu não acreditava no potencial de Pelotas até abrir a primeira loja há dois anos e me surpreender", afirma. Com fábrica desde 1997, Jeske lembra a transição econômica do sal para o açúcar. "Os doces começaram a ser vendidos nos saraus e passou a ser uma nova fonte de renda para as famílias que perderam os negócios no charque", lembra.
 
Marcelo preserva a tradição dos charqueadores de Pelotas. David mostra o doce batizado como "Tocha" em homenagem à passagem da chama olímpica pela cidade. Fotos: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.brMarcelo preserva a tradição dos charqueadores de Pelotas. David mostra o doce batizado como "Tocha" em homenagem à passagem da chama olímpica pela cidade. Fotos: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br
 
Neste ano, David inovou e criou um doce que leva o nome do símbolo do revezamento: a tocha. "A base é de coco, a cobertura é de ovos, uma mistura de Brasil e Portugal. É uma homenagem aos Jogos Olímpicos no Rio 2016 e à passagem da tocha pela cidade", disse orgulhoso. O doceiro quer investir mais ainda neste ramo, agora focado no turismo de experiência. Por isso a loja adquiriu o Expresso Quindim, um micro-ônibus da Chevrolet Brasil, fabricado em 1961, que já faz passeios turísticos pela cidade. "Queremos entrar na rota nacional pelo turismo de experiência, onde o turista poderá visitar uma fábria e fazer um doce tradicional de Pelotas", planeja.
 
Lorena Castro e Lilian Amaral - brasil2016.gov.br
Ascom - Ministério do Esporte