Tocha encanta Barretos e muda a rotina da capital nacional do rodeio

Publicado em Quarta, 20 Julho 2016 15:52
Foto: Ivo Lima/MEFoto: Ivo Lima/ME
 
Basta caminhar alguns minutos pelas ruas de Barretos, localizada no norte do estado de São Paulo, para entender a vocação da cidade. O campo está repleto de gado, a bota é um dos símbolos municipais e, por todo lado, ecoam as músicas do universo caipira. Estamos na capital nacional do rodeio e, por toda parte, existem rastros da cultura sertaneja.
 
Quando a chama olímpica passou por lá, nesta terça-feira (19.7), o símbolo dos Jogos acabou impregnada pelo clima rural. Dentre os 25 condutores que levaram a Tocha Olímpica pelos cerca de cinco quilômetros de percurso, alguns exibiam um dos acessórios mais tradicionais da região: o chapéu de cowboy.
 
Quem percorreu as ruas da cidade no começo da manhã não acreditaria no burburinho que se formaria em poucas horas. Sob uma névoa fria, o sino da igreja badalava e só os cachorros arriscavam uma soneca no meio da praça. Enquanto a cidade acordava devagar, um carro de som alardeava as alterações no trânsito e, nos cafés, os moradores comentavam sobre a quebra da rotina com a passagem do fogo olímpico.
 
Quando se trata de rodeio, Emílio Carlos dos Santos, o Kaká de Barretos, é rei. Nascido e criado na roça, ele estudou Engenharia, mas é fazendeiro e capta recursos na área de saúde. Apaixonado pelo ambiente de rodeio, ele criou a figura do comentarista da atividade e isso já o levou até Angola, na África, trabalhar em rodeios por lá.
 
"O comentarista faz um contraponto ao trabalho do locutor. É mais informativo e analítico, explora menos a emoção", explica. Kaká foi um dos primeiros condutores e causou alvoroço ao atravessar o centro da cidade com a Tocha nas mãos.
 
Para entender essa tradição local é preciso voltar no tempo. Houve um inverno rigoroso, seguido de um incêndio e, na área afetada, formou-se uma pastagem natural, que coincidiu com a importação do zebu, um tipo de gado originário da Índia. Quando foi criado o primeiro frigorífico da América Latina, a cidade tinha disponível a matéria-prima e a ligação ferroviária com o porto de Santos. Barretos virou, então, referência nacional em pecuária e as comitivas de transporte de gado passavam dias a fio na região, esperando para fazer negócios.
 
Foto: Ivo Lima/MEFoto: Ivo Lima/ME
 
Na convivência entre os grupos, um peão valente sempre encontrava um touro que não se deixava montar. Tentar montá-lo virou um desafio que evolui até tornar-se uma tradição na cidade. O primeiro rodeio foi realizado em 1947 e a primeira Festa do Peão, nove anos depois.
 
Hoje, a temporada de rodeios tem apelo internacional e eles são realizados no Parque do Peão, espaço que se expande por 200 hectares e recebe uma média de 900 mil visitas por edição. A arena comporta 40 mil pessoas sentadas e mais 18 mil quando se libera o círculo central para shows. Quarenta ranchos da região se instalam ali, sem contar os shows de artistas, que vão de Sérgio Reis a Wesley Safadão. O evento extrapola as fronteiras de Barretos e as taxas de ocupação em hotéis aumentam em um raio que abrange 150 quilômetros ao redor do município.
 
Outra personalidade barretense a conduzir a chama foi o ex-jogador de futebol Reinaldo Simão, 47 anos. Aposentado há 11 anos, ele foi vice campeão brasileiro com o São Caetano, jogou no Internacional de Porto Alegre, no Corínthians, na Portuguesa, no Goiás e em times do Japão e da Turquia. "Joguei futebol e futebol é um braço das Olimpíadas. Posso dizer que há um pouquinho do Simão nas Olimpíadas. Hoje, o sabor é de disputar um clássico", brinca o ex-atleta.
 
Quando ele cruzou a ladeira que conduzia até a Estação Cultura, antiga ponto ferroviário local, muitos de seus conterrâneos gritavam seu nome. Dentro da estação, um grupo de dançarinos de catira, o Espora de Prata, demonstrava o típico sapateado popular do Brasil. Outro som onipresente na região é o do berrante, uma corneta feita de chifre de boi e que é usada na orientação do gado no campo.
 
Mas nem só o universo rural influencia a atmosfera da cidade.  Em Barretos foi instalado o Hospital do Câncer Pio XII,  referência nacional em tratamento oncológico. De tão simbólico para a cidade, o local foi escolhido para encerrar o revezamento.
 
O último condutor foi o diretor-geral do hospital, Henrique Prata. "Tenho orgulho de representar os brasileiros que tratam de câncer. Minha missão é levar a Tocha para dentro do hospital e dizer aos pacientes: ‘todos vocês participaram’", afirmou.
 

Revezamento Tocha - Barretos SPRevezamento Tocha - Barretos SP

Cumprindo a promessa, ele fez sua condução diante dos olhos emocionados dos pacientes, em cerimônia fechada à imprensa.
 
Ainda na terça-feira, a Tocha Olímpica percorreu Sertãozinho, Jaboticabal, Bebedouro, Barretos e Franca. Nesta quarta (20.7), ela passará pelos municípios de Rio Claro, Limeira, Americana e Campinas.
 
Mariana Moreira – brasil2016.gov.br
Ascom - Ministério do Esporte