Etapa de Brasília coroa os melhores enxadristas com deficiência visual do país

Publicado em Domingo, 08 Dezembro 2019 18:53

O brasiliense Luiz Eduardo Dorneles, de 12 anos, desliza os dedos pelo tabuleiro com casas brancas mais baixas que as pretas, avalia pelo tato cada peça que encontra pelo caminho e fixa o dedo mindinho no topo de uma torre no segundo quadrante do fundo. "Torre de G1 para E1", avisa. Enquanto ele move a peça e encaixa no espaço que escolheu, a adversária faz o mesmo no tabuleiro dela.

Luiz Eduardo: tato como sentido indispensável para jogar o xadrez. Foto: Gustavo Cunha/Min. CidadaniaLuiz Eduardo: tato como sentido indispensável para jogar o xadrez. Foto: Gustavo Cunha/Min. Cidadania

A descrição indica algumas das adaptações que o xadrez para deficientes visuais exige para que os atletas possam disputar a modalidade em igualdade de condições. "Cada adversário tem um tabuleiro, até mesmo quem enxerga quando joga com a gente. Falo a jogada e aciono o relógio. Ele fala, faz no tabuleiro dele e faço no meu, manuseando as pedras no tabuleiro. Cada peça tem formato diferente. As pretas e brancas tem diferenciação também, na textura ou com uma pontinha", ensinou Luiz Eduardo, que nasceu com cegueira total e foi descoberto para a modalidade num projeto para crianças com altas habilidades na rede pública do Distrito Federal.

Na mesa ao lado, Geraldo Pereira, de 59 anos, disputava uma partida num tabuleiro de tamanho bem maior, com casas brancas e alaranjadas, peças grandes e iluminação de um quase holofote sobre a área de jogo. Com baixa visão em função de uma retinose pigmentar, o paulistano joga xadrez desde os dez anos de idade e passou a acompanhar o circuito nacional em 2009.

Geraldo Pereira no tabuleiro maior e adaptado para sua visão parcial. Foto: Gustavo Cunha/ Min. CidadaniaGeraldo Pereira no tabuleiro maior e adaptado para sua visão parcial. Foto: Gustavo Cunha/ Min. Cidadania

"Minha adaptação é isso. Um tabuleiro mais amplo, com luz de foco, cor que dá contraste e peças maiores. É um privilégio estar aqui. Sempre que possível, tento estar presente, tanto pelo esporte quanto pela inclusão, por poder oferecer os dois ombros aos amigos que não têm esse privilégio meu de ter baixa visão", comentou.

Neste domingo, Brasília recebeu a etapa final da Copa Brasil de Xadrez para Deficientes Visuais, no Hotel Nobile, em Taguatinga. Após quatro etapas realizadas durante o ano em Itajaí (SC), Cuiabá (MT), Salvador (BA) e São Paulo (SP), o torneio final reuniu os oito melhores da Classe A e os 16 melhores da Classe B.

Na elite, o mineiro Jaderson Lucio Pontes, de 50 anos, foi o mais consistente nas sete partidas que disputou e chegou ao bicampeonato. O segundo lugar ficou com Adroildo José Martins e o terceiro com Rodrigo Souza Silva. "Sempre brinquei de xadrez, mas também praticava judô. Há um tempo aposentei dos tatames e passei a investir mais no xadrez, inclusive com aulas com mestres. Tomei mais gosto. Este ano, participei de duas etapas e desta final", celebrou Jaderson. Na Classe B, após cinco rodadas, o título ficou com Olyntho Vitoria Meirelles, seguido por Marcia Maria Dias Lopes e João Batista Coimbra.

Claudio Sato, do Ministério da Cidadania, entrega o troféu de bicampeão ao mineiro Jaderson Pontes. Foto: Gustavo Cunha/ Min. CidadaniaClaudio Sato, do Ministério da Cidadania, entrega o troféu de bicampeão ao mineiro Jaderson Pontes. Foto: Gustavo Cunha/ Min. Cidadania

Suporte federal

A competição contou com a presença de Claudio Sato, da coordenação de projetos da Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) do Ministério da Cidadania. Ele representou na cerimônia de premiação o ministro Osmar Terra, que é enxadrista e entusiasta dos benefícios da prática da modalidade, que tem caráter inclusivo, a ponto de poder ser adotada por crianças, adultos, idosos e pessoas com deficiência.

"Várias experiências ao redor do mundo atestam os inúmeros benefícios do xadrez para a sociedade e crianças em idade escolar, com repercussões exponenciais no aprendizado. O anseio do ministro é partir dessas experiências positivas, como as de França, Holanda e Japão, e fazer do Brasil uma potência", afirmou.

Sato anunciou também a intenção em estudos no governo federal de criar um prêmio voltado para o esporte escolar. "Estamos colhendo boas ideias, mas temos um projeto em fase de desenvolvimento que prevê um prêmio de esporte escolar em que serão contemplados cinco mil atletas de seis modalidades: futsal, basquete, handebol, vôlei, atletismo e xadrez. As eliminatórias serão ao longo de 2020 para contemplar os estudantes em 2021", afirmou Sato. Em outra vertente, Sato também manifestou o interesse da pasta da Cidadania em estabelecer parcerias com o Ministério da Educação para incluir o xadrez na grade curricular.

Copa Brasil de Xadrez para Deficientes VisuaisCopa Brasil de Xadrez para Deficientes Visuais

RESULTADOS
Classe A

1. Jaderson Lucio Pontes
2. Adroildo José Martins
3. Rodrigo Souza Silva

Classe B
1. Olyntho Vitoria Meirelles
2. Marcia Maria Dias Lopes
3. João Batista Coimbra

Gustavo Cunha - Ascom - Ministério da Cidadania