“A mudança precisa ser imediata e de forma contínua”
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Publicado em Quarta, 28 Setembro 2016 14:30
Rafael Brais/ME
Os desavisados que veem aquele mineiro de Lagoa da Prata se aproximando, com um jeito meio tímido, nem imaginam que se trata de um dos grandes nomes da história do futebol brasileiro. Gilberto Silva, atualmente diretor de futebol do grego Panathenaico, clube que defendeu entre 2013 e 2015, carrega como principal conquista da carreira o pentacampeonato da Copa do Mundo Japão/Coréia 2002.
Sua história no esporte, porém, foi construída em várias etapas, passando por vários times e diversas experiências. Em 2011, foi para a Inglaterra jogar pelo Arsenal, onde conviveu, segundo ele, com o melhor modelo de organização e governança no futebol. No Brasil, atuou pelo América-MG, Atlético MG, Grêmio. Fora de campo, Silva foi um dos líderes da classe de jogadores em busca de melhorias nas condições de trabalho.
Rafael Brais/ME
O camisa 8 da Copa do Mundo de 2002 esteve nesta semana na Soccerex, em Manchester, onde participou de duas palestras a convite da organização do evento. Muito assediado por imprensa e fãs, Gilberto Silva conversou com o Portal do Ministério do Esporte para explicar um pouco de sua visão sobre o futebol e como está encarando o novo desafio: atuar como diretor de futebol na Grécia. Ao ser perguntado sobre qual a melhor seleção brasileira de todos os tempos, não pensou duas vezes: “tenho que valorizar meu time de 2002”.
O que o Brasil pode fazer para melhorar o futebol?
Gilberto Silva - Olha, eu penso que você precisa ficar atento ao que está acontecendo no mundo do futebol para trazer, trocar ideias, adaptá-las e implementá-las no Brasil. Tem muita coisa que podemos adaptar o formato. Não podemos achar que, por ser o nosso país pentacampeão, não precisamos mais aprender com ninguém. Pelo contrário. O mundo todo, cada um da sua maneira, procura e precisa aprender. Acima de tudo, as pessoas precisam ter a boa vontade de fazer a coisa certa. É importante quando vemos as pessoas procurando conhecimento, tentando melhorar o sistema atual, seja de um clube, seja na governança ou nas partes tática, técnica, no marketing. Só assim vamos melhorar nosso futebol.
Quais medidas poderiam ajudar?
Gilberto Silva- É preciso que as pessoas entendam que é preciso buscar melhorias o tempo todo. (Mudar) o sistema de governança é algo urgente. A criação do Profut foi importante para esse processo dos clubes e será fundamental que haja fiscalização, cobrança e que os clubes que não cumprirem com suas obrigações paguem o preço por isso. Além disso, as pessoas devem pensar na melhor forma para melhorar o sistema. É preciso ter profissionalismo acima de tudo. Mas no Brasil alguns clubes ainda estão longe do ideal. É preciso humildade por parte dos clubes, federações, CBF para tratar disso. A mudança precisa ser imediata e de forma contínua.
Dos países que você jogou, qual é o mais organizado e qual precisar de uma intervenção maior?
Gilberto Silva - Para mim, a referência é a Inglaterra. Não tenho dúvidas disso. Até porque eles conseguiram, nesses 25 anos de Premier League, criar um produto que todo mundo compra, em todo lugar, a qualquer hora. Falou Premier League, falou em ponto de referência. Obviamente, o Brasil precisa aproveitar esse momento que vivemos de sediar os grandes eventos esportivos, como a Copa e as Olimpíadas, para realmente fazer valer o legado significativo para o país e não somente a empolgação do evento em si.
O Brasil viveu dois momentos distintos ultimamente no futebol: perdeu uma Copa do Mundo e foi campeão olímpico. O que você acha disso?
Gilberto Silva - (O título olímpico) tem um lado positivo como forma de resgatar a seleção e trazer o torcedor para perto. Mas tem um lado perigoso nisso. Não pode acontecer o que aconteceu na Copa das Confederações. Achar que já fizemos tudo, que já estamos preparados e criar uma grande expectativa de que seremos campeões da Copa do Mundo novamente. Foi o que aconteceu em 2013, quando Brasil venceu a Espanha, que era atual campeã do mundo. A gente tem que desfrutar desse lado, valorizar (a vitória), mas, ao mesmo tempo, não se acomodar e achar que já suficiente e que não precisamos buscar mais nada, nem melhorar o sistema. Temos que considerar os dois lados: o positivo e o que não é tão positivo, que servirá como alerta para evitar o comodismo.
E o fator Tite na seleção?
Gilberto Silva – Sobre a questão do Tite, o que já melhorou bastante, logo de cara, foi a relação com a imprensa. Existia uma rejeição muito grande com o Dunga, desde quando ele era jogador. Com o Tite, houve uma aceitação quase unânime da imprensa. Mas, com certeza, é um treinador capacitado e não é por acaso que está na seleção. Se perguntar para os brasileiros, a grande maioria é a favor do Tite. Torço para que dê certo e para que os resultados venham.
Como tem sido a carreira de diretor de futebol? Como foi definido que você iria para a Grécia?
Gilberto Silva - Quando decidi parar de jogar futebol, parti para uma ideia de prestar consultoria para clube, atletas e, de alguma forma, estar envolvido no futebol. Então, ofereci um projeto de consultoria para o Panathinaikos, onde já tinha atuado como jogador. De repente, eles pediram auxílio para cuidar de um caso deles no Brasil e, em seguida, me convidaram para ser gestor de futebol. Pedi alguns dias para pensar, pois não estava esperando o convite. Eu já tinha morado fora do país por nove anos. Na Grécia mesmo, por três. A adaptação é tranquila.
Qual a melhor seleção brasileira de todos os tempos para o Gilberto Silva?
Gilberto Silva - Tenho que valorizar a minha seleção. Apesar de ter jogado com outros grandes jogadores e ter visto craques consagrados jogarem, tenho que valorizar o meu time campeão da Copa do Mundo de 2002.
Rafael Brais, de Manchester
Ascom – Ministério do Esporte