Atleta de Taguatinga (DF) patrocinado pela Bolsa Atleta diputará o Pan no taekwondo

Detalhes

Publicado em Segunda, 14 Maio 2007 15:15

Em Taguatinga, cidade do Distrito Federal, um professor-atleta é a grande atração do público estudantil de uma escola da rede privada. No Colégio Araberi, palavra que na língua indígena tupi-guarani significa peixinho dourado, as aulas que Ibi Aires de Paula Teixeira, 24, ministra, nada tem a ver com esportes aquáticos e sim com a defesa pessoal do taekwondo. Modalidades à parte, a cria do Bolsa Atleta, programa do Ministério do Esporte que ajuda atletas sem patrocínio, é agora o único representante da capital federal a defender o Brasil nos Jogos Pan-americanos nessa modalidade. Se depender da determinação de Ibi Aires e da empolgação da torcida de seus alunos o Pan do Taekondô já é do Brasil. Todas as crianças e adolescentes da escola alimentam o sonho de ver o Ibi Aires subindo ao pódio, com a medalha de ouro pendurada no pescoço. Ainda na escola, o professor Ibi foi literalmente assediado pelos alunos que não perderam tempo em garantir uma lembrança do futuro campeão. "Eu e minha irmã Manuela da 9ª série tratamos logo de pegar nosso autógrafo", revelou Gustavo Filipo Machado, estudante da 1ª ano do ensino fundamental. O motivo de tanta pressa dos alunos nada tinha a ver com horários e datas de provas da escola. É que o educador faixa preta estava de malas prontas para viajar para Belo Horizonte (MG) e ficar na concentração da seleção. No último fim de semana Ibi Aires embarcou para a China onde disputará o primeiro mundial de sua carreira: o campeonato de Beijing, que acontece de 18 a 22 de maio, com a participação de lutadores de 130 países. "Estou preparado para enfrentar o desafio", revelou o também campeão do Panamericano de 2006, em Buenos Aires, Argentina. Graças a esse ele foi contemplado com a Bolsa Atleta da categoria internacional, no valor de R$ 1.500 mensais. A classificação para o Pan-2007 ocorreu no final do ano passado, no Rio de Janeiro (RJ), durante uma seletiva na Escola de Educação Física do Exército, na Urca. Ibi Aires derrotou, na primeira luta, Vander Valverde, atleta do Rio de Janeiro, e na final, Leonardo Gomes, "Macarrão", atleta de Goiânia (GO). Além da seletiva, somente três motivos poderiam deixar Ibi Aires fora do Pan: uma séria contusão, ausências nos treinamentos e concentração e um não desempenho do atleta durante os treinos. Os requisitos foram cumpridos pontualmente pelo atleta. Superar desafios faz parte dia-a-dia de Ibi Aires. Ainda criança, aos 12 anos, ele enfrentou aquele que seria, sem dúvidas, o maior desafio de sua vida: encarar com a família a morte do pai. Não bastava a tristeza da perda, a família - inicialmente de classe média morava em Taguatinga - enfrentou dificuldades financeiras e precisou mudar para a cidade de Samambaia. A determinação foi colocada a prova. O garoto montava em sua bicicleta e pedalava 24 quilômetros todos os dias, de uma cidade à outra, para treinar. A alternativa, apesar de arriscada por causa do trânsito, foi sábia. "Resolveu o problema da falta de dinheiro para pagar a passagem de ônibus e encontrou nas pedaladas, mais uma forma de reforçar a musculatura das pernas", recorda emocionado Dalton Nogueira cunhado de Ibi Aires. Arte dos homens voadores - O taekwondo é um esporte de origem coreana onde utiliza-se 70% das pernas e pés e 30% os braços. A palavra taekwondo significa Tae (pé) e kwon (mão) e do (caminho):, ou seja, caminho dos pés e das mãos. E esse caminho, Ibi Aires conhece bem. O mais recente sacrifício que Ibi Aires precisou fazer aconteceu no início deste ano quando ele trancou a faculdade de Direito para dedicar-se exclusivamente aos treinos. "Estou tranqüilo e muito satisfeito por saber que mesmo adiando um sonho estou preste a realizar outro", anuncia. Atualmente o jovem treina na Academia Olímpica em Taguatinga centro e tem como técnico, o professor Jorge Gonçalves, "mestre Jorge". Para André Arantes, secretário Nacional de Alto Rendimento, Ibi Aires é campeão por sua própria história. "A forma de o atleta se comportar frente aos problemas demonstra seu potencial de vencedor. Acredito que é o dever do Bolsa Atleta identificar esses talentos e oportunizar esse apoio financeiro durante as etapas de treinamentos e disputas para que esportista realize o sonho de ser vitorioso", justifica. Carla Belizária Ascom - Ministério do Esporte