Uma década de ecoturismo

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Publicado em Sábado, 06 Abril 2002 11:54

Fazenda Vagafogo, primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural de Goiás, comemora dez anos de abertura para visitação Viviane Maia A fazenda Vagafogo, velha conhecida dos amantes do ecoturismo e freqüentadores assíduos de Pirenópolis, está em ritmo de festa. Hoje, a partir das 11 horas, os proprietários do local, Evandro Engel Ayer e Catarina Schiffer, recebem cerca de cem convidados para a comemoração de dez anos de abertura da reserva para visitação do público e inauguração das trilhas revitalizadas. Localizada a 5 quilômetros de Pirenópolis, com área de 46 hectares, fauna e flora riquíssimas, a fazenda já recebeu mais de 50 mil visitantes nesta década. A solenidade será aberta com discurso do embaixador britânico Roger Bone, que também decerrará a placa. Em seguida, os convidados seguem para um passeio pela mata e, no retorno, serão recebidos com coquetel. Participam também do evento o presidente da Agência Goiana de Turismo (Agetur), Marcelo Sáfade; a representante da Wild World Foudation (WWF), Ana Luce Freitas, e representantes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e de outras entidades ligadas à natureza. Formada por cerrado, cerradão e mata ciliar, a fazenda é cortada pelo Rio Vagafogo, que dá nome à propriedade. Privilegiada pela natureza, a reserva conta com 17 hectares de floresta. No interior dela, é possível encontrar pelo menos 80 espécies vegetais, identificadas com placas. Piúna, casco-d'-anta, folha-de-bolo, boca-de-cabra, jequitibá, cedro, pau-d'óleo, canela-de-urubu, cascudo, angico, araçá, aroeira e peroba-rosa são encontradas em abundância. O destaque é o jatobá (Hymenaea courbaril), que desponta na mata e é visto com facilidade. Além das espécies nativas, os visitantes podem saborear as frutas da estação plantadas no pomar. Entre elas, carambola, goiaba, manga, mexerica, mamão, amora, pitanga, que são utilizadas na produção artesanal de doces, geléias e sucos. Essas delícias são servidas juntamente com pães, frutas cristalizadas, tomates secos, biscoitos e lácteos no famoso brunch, que é servido no centro de visitantes, para os turistas que desejam matar a fome depois da caminhada. Cerca de 40 iguarias, que podem ser compradas na fazenda, com a garantia de que tudo é feito a partir da agricultura orgânica. A fauna também é um show. Até o momento já foram identificadas 170 espécies da avifauna. Dentre elas, nove espécies de pica-paus, macacos-prego, guaribas, micos-estrela, cotias, quatis e iraras, que podem ser vistos com freqüência na floresta. Se o visitante der sorte, pode até ouvir o uivo do lobo-guará à noite. Por meio do plano de manejo, os proprietários da Vagafogo puderam conhecer melhor quais são as espécies que habitam a fazenda. A cuíca-da-água, por exemplo, só é encontrada nos limites da reserva porque só vive em região de perfeito equilíbrio. Projeto nasceu como "sonho de hippie" A fazenda Vagafogo é a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de Goiás e uma das seis primeiras do Brasil. Em 1990, o Ibama criou as RPPNs, e a propriedade passou a fazer parte desse importante projeto de preservação da natureza no Brasil. Para conseguir o título, os proprietários não pouparam esforços. Quando Evandro Engel Ayer e Catarina Schiffer adquiriram a propriedade, em 1975, logo perceberam a riqueza natural do lugar. "Quando compramos a fazenda, a nossa primeira preocupação foi estabelecer metas de preservação e sustentabilidade deste pedaço do cerrado. Sabíamos da grandeza da mata e que a partir dela poderíamos aprender e ensinar as gerações futuras a viver bem sem destruir a natureza", relata Evandro. E assim tem sido há quase três décadas. No início, era "sonho de hippie", mas, à medida que os proprietários começaram a explorar o local, perceberam o potencial para o turismo ecológico. Foi então que eles começaram a buscar apoio e parcerias com fundações e ONGs. Em 19 de março de 1992, a Fundação Pró-Natureza (Funatura) abriu a propriedade para visitantes, com a presença do príncipe Phillip, da Inglaterra, país que apoiou a construção do centro de visitantes do local. Juntamente com a Funatura, foi possível a criação de um plano de manejo para a propriedade. Pesquisadores identificaram elementos da fauna, flora, geografia, geologia e hidrografia do local. Essa empreitada contou com o apoio financeiro da Wild World Foundation (WWF), o Fundo Mundial para a Natureza. A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza também ajudou na construção do centro de visitantes e viabilizou a contratação de pesquisadores para programas de educação na área ambiental, desenvolvidos junto à comunidade. Evandro informa que o governo de Goiás e a prefeitura de Pirenópolis têm colaborado para o reconhecimento e a promoção da reserva Vagafogo como um exemplo de ecoturismo sustentável. Recentemente, o Ibama forneceu madeira apreendida para a revitalização das trilhas.
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