Ministério do Esporte O catador de tênis para as novas gerações
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O catador de tênis para as novas gerações

Gustavo Mariani Aos 33 anos, o campeão olímpico dos 800 metros rasos, Joaquim Cruz, começou a conferir a idade dos adversários nas listas divulgadas antes das provas. Como só tinha garotões pela frente, sentiu que era hora de cair fora. Preparou a cabeça para encarar o dia seguinte à última corrida, superou os problemas psicológicos e, aos poucos, foi se situando do lado de fora da pista. Mas a ficha demorou a cair. Hoje, ele trabalha, por fax, atletas de Taguatinga e imediações, para os quais junta tênis usados, mas em bom estado. Aliás, por causa da grande quantidade desse material que traz dos Estados Unidos, já teve problemas com a alfândega brasileira. Acharam que ele trazia os tênis para revenda e ainda foi acusado de falsificar nota fiscal, porque não acreditaram nele. Residindo em San Diego, ministra aulas de velocidade na Universidade da Califórnia e treina atletas de várias partes do mundo. Diz que gostaria muito agora de dar uma medalha olímpica ao Brasil como treinador, mas que corre o risco de ir às próximas Olimpíadas como técnico de triatletas estrangeiros, por que não trabalha com nenhum brasileiro. Até quinta-feira, Joaquim Cruz esteve em Brasília. Acompanhou os seus atletas na Corrida de Reis e depois foi para São Paulo assinar um contrato que lhe permitirá vir ao Brasil quatro vezes por ano, como coordenador-adjunto de um projeto de formação de novos atletas. COMO foi para você deixar as pistas como celebridade desportiva internacional para, aos poucos, ser abandonado por tietes e jornalistas? Eu trabalhei a minha cabeça para fazer uma transição tranqüila. Passei a treinar novos atletas para não me deparar com o choque brusco da mudança de vida. Quando senti que era a hora de parar eu já atuava mais como treinador do que como atleta. QUANDO pintou aquele terrível momento de se auto-expulsar das pistas? Em 1992, eu havia passado por quatro cirurgias. Em 93, voltei a correr, mas me machuquei logo no início da temporada. Em 94, recuperado, fui competir na Europa. Depois de três provas, senti que eu não era mais o atleta de antes, um dos favoritos nas provas que disputava. Aí, com mais cinco, seis provas, vêm os problemas psicológicos. Então, decidi disputar a minha última prova no Brasil, nas eliminatórias para o Pan-Americano de 95. Fiquei em segundo lugar nas eliminatórias e depois venci o Pan. Aquela, sim, foi a maior vitória, pois havia vencido contusões, problemas psicológicos e o descrédito de muitos. Até me animei a disputar o Mundial, na Suécia. Me preparei e comecei a fazer tempos que poderiam me dar uma medalha. No entanto, nas semifinais, fiz um esforço acima do que os meus músculos suportavam, sofri uma tendinite. Nas Olimpíadas de 96 eu já estava conferindo a idade dos adversários. Me via, aos 33 anos, enfrentando garotos de 19, 20, 21. Uma semana antes dos Jogos, num treino, caí e fraturei um osso da mão direita. Corri os 1.500 metros com uma tala protegendo a fratura, preocupado em não cair. Não fiz uma boa semifinal e saquei que era mesmo hora de cair fora. COMO você administrou aquela decepção? Intensificando o meu trabalho com os atletas que me procuravam em San Diego e com a minha irmã Elita, que competia entre veteranos de Taguatinga. Por sinal, desde o final da década de 80 que eu colaborava com os atletas taguatinguenses. Uns garotos me procuraram pedindo orientação técnica e eu passava os treinamentos por fax. O grupo, rapidamente, chegou a 10 atletas, para os quais passei, também, a trazer tênis dos Estados Unidos. COMO um campeão olímpico se porta na primeira vez que vai à pista torcer por outro? Em 97, a corredora brasiliense Solange Cordeiro estava nos EUA e me pediu ajuda técnica. Fiz um trabalho com ela para provas curtas e a acompanhei no Troféu Brasil. Ela, no entanto, competiu em provas longas e foi medalha de bronze nos 5 mil e de ouro nos 10 mil metros. Muitos treinadores e diretoras de clubes vieram me cumprimentar pela minha primeira vitória como treinador. Demorei a entrar no clima, descobrir que eu estava do outro lado da história. UM BOM começo para futuras emoções como treinador profissional? Sim, pois resultou num convite para trabalhar num projeto de formação de atletas, no Paraná. Foram dois anos de um bom trabalho, até que, em 99, acho, o patrocidor pulou fora. HOJE, os atletas ganham fortunas. No seu tempo, as competições internacionais premiavam bem? A vitória numa prova de Grand Prix valia US$ 15 mil. Hoje, os caras embolsam dez vezes mais. Eu disputa poucos GPs, porque, como campeão olímpico, era mais vantagem negociar cachês para grandes provas internacionais. Se eu corresse abaixo de 1min43, meu tempo olímpico nos 800m ou quebrasse algum recorde, ganharia mais um pouco sobre o cachê. O QUE é o Clube Descalço? É um ramo do Projeto Joaquim Cruz de Atletismo, uma forma de eu ajudar quem quer fazer atletismo. Quando eu comecei a correr, a minha família não tinha condições de comprar os tênis que eu precisava. Então, o meu treinador, o Luis Alberto Oliveira os comprava ou pedia favores para comprar os famosos conguinhas. Ajudando, por fax, atletas de Taguatinga, passei também a trazer tênis dos EUA para eles. VOCÊ compra os tênis nos EUA ou consegue com o seu prestígio de campeão olímpico? Em 98, quando R$ 1 valia US$ 1, fui contratado para participar de um evento em São Luis do Maranhão. Além do meu cachê, pedi US$ 500 dólares para comprar tênis para os atletas carentes de Taguatinga. Comprei 40 pares nos EUA dos chamados descontinuados, aqueles que o comprador troca após usar e sentir, por exemplo, um dedo doer. Saem baratinho, em promoções. No entanto, na alfândega de São Paulo, o material foi retido por acharem que eu os trazia para vender. Expliquei o motivo, que não eram tênis novos e apresentei a nota fiscal. Não adiantou. Fui acusado de ter apresentado nota fiscal falsa. Me revoltei, mas o material não foi liberado. Pensei em fazer um protesto no aeroporto de São Luis, tirar os meus tênis e ficar ali descalço até os tênis serem liberados. Informei à imprensa que a alfândega paulista me exigia pagar o dobro do que pagara nos EUA para liberar os tênis. Os organizadores da prova conseguiram liberar o material e uma grande revista de circulação nacional publicou a minha foto correndo ao lado de um garoto descalço. TEVE repercussão mundial? Mostrei a reportagem para o pessoal da loja onde comprei os tênis, nos EUA, e expliquei o meu projeto. Me fizeram uma grande doação, acompanhada de uma nota fiscal de custo zero, e ainda me encaminharam para uma outra loja onde me doaram mais tênis ainda. Acharam a minha proposta, socialmente, muito boa, na medida em que tirasse o garoto da rua para praticar o atletismo. QUAL é o critério para você fazer a doação dos tênis em Taguatinga? O garoto entra para o nosso grupo e começa a treinar seguindo as instruções que eu mando via fax. Assim que eu venho a Taguatinga o novato me é apresentado e recebe o seu par de tênis. Eu não cobro resultados dos garotos, apenas que ele espalhe a nossa proposta. MENINO já gosta de contar histórias. O que tem acontecido com a sua ordem de espalhar a notícia? O grupo cresceu assustadoramente. Fiquei sem condições de fornecer tênis a tanta gente. Então, coloquei o assunto na minha página na Internet (www.joaquimcruz.com) e passei a receber tênis de muitos simpatizantes da causa.
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