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Armando Nogueira Te cuida, esporte! A vida do cronista esportivo, pelo menos, no Brasil, tem sido, ultimamente, um falar sem fim contra a corrupção da cartolagem, a violência da torcida, a alienação de jogador famoso. Ainda bem que tivemos um campeonato de clubes satisfatório. Vez por outra, temos a chance de encontrar pessoas que contemplam o mundo do esporte com um olhar privilegiado. Que nos ajudam a abrir os olhos para uma realidade que o dia-a-dia desfigura na vertigem dos fatos. Meu encontro com o sociólogo italiano Domenico De Masi foi inesquecível. Amante do futebol, torcedor do Nápoles, De Masi é apaixonado por todos os territórios lúdicos da vida do ser humano no mundo moderno, autor de vários livros - entre eles "O Ócio Criativo", sucesso nas livrarias brasileiras - Domenico De Masi concedeu-me uma entrevista para o Programa Armando Nogueira, no canal Sportv. Tomara que vocês gostem tanto de ler as idéias que aqui transcrevo quanto eu gostei de ouvi-las no mano a mano com este afável e brilhante intelectual italiano. Um pouco de história. "Os gregos e os latinos fizeram do esporte a base das suas vidas. O cuidado com o corpo e o cuidado com a alma eram, os dois, importantíssimos. A vida dos romanos - das dez da manhã até o pôr-do-sol - era nas termas. Aí, praticavam esportes, liam, estudavam, se divertiam e faziam negócios. Viviam, enfim. Os gregos fizeram do esporte o ideal de harmonia: harmonia do corpo e harmonia da mente. Tanto que as competições atléticas eram feitas junto às competições de poesia. Podia-se vencer as competições atléticas ou as competições de poesia, porque não havia uma divisão clara entre corpo e alma. O corpo acima de tudo O esporte grego e o esporte romano eram completamente diferentes do esporte atual, no qual existe uma divisão entre alma e corpo e, principalmente, entre alma e negócio. O jogo se tornou uma especialidade de pessoas que só fazem isso e que cultivam apenas o corpo, dando pouca atenção à alma. O corpo é preparado para vencer a competição atlética, para vencer a competição esportiva em troca de um ganho econômico. Portanto, o corpo é uma mercadoria vendida a peso de dinheiro. O esporte vai morrer... O que temos hoje é a intenção de cada campeão, de cada atleta, de destruir o adversário. Não a emulação solidária que existia na Grécia e em Roma, onde todos competiam para crescer juntos fisicamente, espiritualmente. Se continuar preso aos negócios e ao dinheiro, o esporte vai morrer. A única forma de salvar o esporte é separando-o progressivamente da dimensão mercantil. Tanto os atletas quanto os espectadores se divertiam. Atualmente os dois sofrem. É um encontro entre estressados e os estressados não dão alegria um ao outro. Apenas aumentam, progressivamente, seu estresse. Assim, repito, o esporte vai acabar morrendo. O carro de Schumacher Existem dois tipos de espectador: os que se identificam de tal modo com os atletas que neles se projetam, num processo alienante. Têm uma vida desesperada ou porque são pobres ou porque são explorados ou porque são tristes, e então se identificam com a vitalidade do atleta, com a vitalidade da estrela. Já o outro tipo de espectador está envolvido no ciclo econômico do esporte. É uma alienação de tipo econômico. No outro lado, o atleta, por sua vez, também é alienado, porque não vive mais o corpo na sua essência mas o vive como um produto tecnológico. Um certo economista disse que um frango tem mais tecnologia do que carne. Schumacher tem mais tecnologia do que músculos, tem mais tecnologia do que inteligência, tem mais tecnologia do que vitalidade. Schumacher é um produto tecnológico completo. Quando está ao volante, não dá pra saber quem é mais humano: o carro ou Schumacher. Como atleta, talvez o carro seja mais humano do que ele. Ele é um produto de laboratório. Um produto como uma geladeira, como um computador. Um produto feliz, porque ganha muito dinheiro. E, no entanto, ganhar muito dinheiro não significa ser muito feliz. O dinheiro não traz felicidade, ele a assegura, o que é muito diferente. Então, temos um tipo de patologia humana que nos leva a correr para ter sempre mais renda, não obstante o fato de o aumento da renda não se traduzir em um aumento da felicidade. É patético. O ócio e o trabalho A sociedade industrial, que durou cerca de 200 anos, determinou uma forte ruptura entre o estudo, o trabalho e o ócio. Ou melhor, dedicou uma fase da vida - a das crianças e dos jovens - ao estudo; uma segunda fase da vida ao trabalho, a fase adulta; e a fase da aposentadoria, para descansar. E durante a semana dividiu os dias de trabalho e os dias de descanso. Uma divisão alienante, uma divisão que cria estresse. Precisamos recompor esses três elementos, ou seja, fazer com que, quando se trabalha, também se aprenda e também se divirta. Eu acho que, no esporte - para os gregos e para os romanos - as três atividades estavam juntas. O esporte era trabalho, era aprendizado e era brincadeira. O esporte produzia riqueza, mas produzia sobretudo aprendizado e alegria. O tipo de esporte atual produz estresse . Enquanto não se fizer essa recomposição, o esporte será cada vez mais estresse e será um engano, um grande engano, por meio do qual se procura remover, se procura esquecer os graves problemasda sociedade.
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