Ministério do Esporte Confira entrevista do ministro Aldo Rebelo à revista Isto É
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Confira entrevista do ministro Aldo Rebelo à revista Isto É

Entrevista/Aldo Rebelo

"Copa não ganha eleição nem voto"

Ministro do Esporte diz que brasileiro não mistura a paixão pelo futebol com a política, revela o esquema montado contra apagões e relaciona aqueles que considera os maiores adversários do Brasil

por Paulo Moreira Leite e Claudio Dantas Sequeira

Principal responsável pela coordenação de todas as áreas da Copa do Mundo, o que inclui o futebol, as obras de infraestrutura, o trânsito e até a velocidade das esteiras de bagagem nos aeroportos, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, percorreu, nas duas últimas semanas, seis cidades-sede – Natal, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Cuiabá e Manaus – para conferir o trabalho de prefeituras e governos estaduais. Carregando um relatório prévio, elaborado por auxiliares do Planalto após consulta às partes envolvidas, Aldo repassa a situação de cada lugar, ponto a ponto, em reuniões realizadas nos próprios estádios onde as partidas serão disputadas. Em março, o ministro fará uma segunda rodada, nas seis cidades restantes. Com esse volume de informações, o ministro está otimista com relação à Copa. Na terça-feira 11, antes de embarcar para uma nova expedição de fiscalizações, concedeu a seguinte entrevista:

O Brasil vai estar pronto? Teremos Copa?
Não tenho a menor dúvida. Temos feito reuniões de planos operacionais sempre. Em todas as sedes da Copa. Reunimos toda a equipe do governo federal, do estádio, da segurança, da saúde, das telecomunicações, dos aeroportos, portos. Vamos até os estádios, com as equipes dos governos estaduais e das prefeituras, para que as pessoas se conheçam, para que repassem o que será feito durante a Copa. E tudo está muito acertado.

Mas é mais fácil acertar tudo nas reuniões do que na vida real...
Nesses encontros a gente vai no detalhe. Cada uma dessas operações tem um centro de comando e um centro de gravidade. Mas queremos saber como tudo vai funcionar. Transporte, por exemplo, é um problema da cidade, mas nós acompanhamos tudo de perto. Na Copa não vai acontecer o que aconteceu com o Papa, quando a turma errou o caminho. Não queremos esse tipo de confusão.

Apesar do que o sr. diz, nas últimas semanas nós tivemos apagões em várias cidades brasileiras. Como garantir que isso não ocorra durante os jogos?
Não vamos ter apagões. Mas, se eles ocorrerem, não irão afetar os jogos. Temos geradores alternativos em todos os estádios que irão entrar em funcionamento na mesma hora. A transmissão dos jogos também está assegurada com o duplo cabeamento para o sinal que colocará som e imagem no mundo inteiro. No ano passado, ocorreu uma queda de sistema no Superbowl americano. Em nosso caso, o risco de cair o sistema é zero, zero, zero, vírgula alguma coisa.

Como o sr. imagina que ficará o trânsito nas cidades durante os jogos? Há especialistas que projetam o caos?
Quando você analisa os dados reais, de quem está envolvido diretamente com a Copa, pode ter uma ideia mais clara do que deve acontecer. A experiência mostra que em eventos desse porte há, em primeiro lugar, uma grande permuta entre viajantes e passageiros. Muita gente está chegando à cidade-sede, mas muita gente está saindo. As empresas de evento não fazem feiras nem seminários nessa época. O passageiro tradicional, que visita parente, que viaja a negócios, para ir a um museu, também não viaja. Em Londres, durante a Olimpíada, havia menos gente na cidade durante os jogos olímpicos do que em dias normais.

O sr. está querendo dizer que, durante a Copa, o Rio de Janeiro, por exemplo, poderá receber menos turistas do que recebe normalmente?
Quem não gostava de esporte não foi para Londres naquele período, mas para Budapeste, para Praga, para Madri. Já sabemos que algumas cidades brasileiras terão menos visitantes do que em outras épocas do ano. No Rio de Janeiro, não haverá o mesmo número de visitantes que a cidade recebe durante o Carnaval. Em Salvador também não. A Copa vai ser um sucesso, mas não vamos ter, no Rio, aquela situação em que estrelas como Beyoncé e Madona disputam limusines e suítes para facilitar o trabalho dos fotógrafos.

O Maracanã terá proporcionalmente menos gente do que o Sambódromo?
Algumas empresas de turismo não vão levar o visitante para Cuiabá, por exemplo. Ele vai ficar em Goiânia ou Brasília. Irá para Cuiabá no dia do jogo, retornando na manhã seguinte. Quanto aos jogadores, a delegação chega do aeroporto e vai para o hotel, do hotel para o estádio. Em Belo Horizonte, que foi a pior situação durante a Copa das Confederações, 60 mil pessoas foram às ruas para protestar na noite do jogo. As seleções chegaram, jogaram e foram embora. Não houve nenhum incidente.

Como o sr. avalia o movimento “não vai ter Copa”?
Na última manifestação contra a Copa, em São Paulo, os manifestantes precisaram ser protegidos pela polícia para não serem atacados pela população. Não há clima para protestos violentos durante a Copa.

Mas temos assistido a atos de barbárie que assustam os turistas.
As pessoas sabem que atos como o que vimos do jovem preso no poste na Praia do Flamengo são episódios isolados. O Brasil não é isso. Nenhum país é julgado assim. Ninguém deixou de ir à Disney porque no passado os soldados americanos foram fotografados em Abu Ghraib torturando prisioneiros iraquianos. Os turistas sabem que vão ser bem acolhidos e a segurança será garantida através do trabalho que está sendo feito, do investimento em centros de comando e controle e da integração das polícias com as Forças Armadas.

Por que esses centros não são colocados em atividade agora para evitar os enfrentamentos entre manifestantes e a polícia?
Você acha que existe algum meio de algum policial evitar que um manifestante leve um rojão na bolsa e jogue nos outros como aconteceu naquele protesto no Rio? O que ele pode fazer? Revistar previamente cada manifestante? O direito à manifestação pacífica é assegurado pela Constituição e, a princípio, toda manifestação é pacífica. A polícia só pode agir depois que o protesto degenera em violência.

Então como garantir que essas cenas não ocorram na Copa?
A violência não será a pauta da Copa. A pauta da Copa será a festa.
 
Esse discurso otimista é uma orientação do governo?
Eu respondo pelo meu discurso. Respondo pela Copa, porque sou o coordenador da Copa. A Copa é uma festa em todo o mundo e aqui não pode ser diferente. Deve ser uma festa ainda maior. O futebol é o esporte mais universal do planeta e o povo brasileiro é responsável por isso. Foram os brasileiros, especialmente os pobres, os negros, que transformaram o esporte naquilo que se tornou hoje. Se não fosse por eles, o futebol seria mais um jogo inglês de minorias, como o críquete, o rúgbi.

E a Seleção Brasileira...
O grupo está coeso, tem identidade, uma cara. O Felipão tem essa característica. Consegue fazer com que os jogadores produzam melhor. O próprio Neymar passou a valer mais depois do Felipão.
 
Quais são os principais adversários do Brasil?
Espanha e Alemanha. A seleção espanhola é um time maduro, com grande aplicação tática. Tem jogadores muito habilidosos, jogam juntos há muito tempo e tem como base dois grandes times, o Barcelona e o Real Madri. A Alemanha tem hoje jogadores excepcionais, como o volante Bastian Schweinsteiger. É uma seleção também experiente. Além desses, sempre se espera algo de uma seleção como Argentina, Itália. Por isso digo que é mais difícil ganhar a Copa do que organizar a Copa. Eu não tenho que passar por essas seleções...

Mas tem que passar pela burocracia, pelos erros, pelas críticas...
A oposição não tem a habilidade desses astros do futebol, nem talento.

O sr. acha que a oposição vai trabalhar contra a Copa?
Não. Mas não é por falta de vontade. É por medo. Se ela faz oposição à Copa e ela dá certo, todos os méritos vão para a mão do governo. E se a Copa, por alguma razão não desse certo, eles ficariam marcados por terem torcido contra. Mas Copa não ganha eleição nem voto.

Por quê?
As pessoas sabem que futebol tem um universo. O torcedor não tem outra relação que não seja a do futebol. As pessoas torcem pela Seleção Brasileira, não pelo governo nem pela oposição. Numa família, o filho mais educado é capaz de torcer contra o time do pai. Um irmão torce contra o time de outro irmão. O mundo do futebol é a fantasia.  A diretoria do seu time não é o seu time. Você não vai deixar de torcer pelo seu time porque não gosta da diretoria.

O que falar do legado extra-esportivo?
As obras desse chamado legado iam ser feitas com Copa ou sem ela. Ninguém está fazendo metrô em Fortaleza por causa da Copa. Está antecipando por ela, mas não deixaria de fazê-lo. Os aeroportos iam ser reformados porque a demanda por serviços aeroportuários aumentou muito. São obras antecipadas. Mas a Copa é boa por si mesma.

O que o sr. acha do movimento “Bom Senso”?
Acho bom, porque procura dar ao futebol uma dinâmica mais racional. Nossos jogadores jogam nos grandes clubes em média 20 partidas a mais do que os que estão em clubes europeus. Com isso, vão mais para departamentos médicos, são mais exigidos fisicamente e têm carreiras mais curtas. Mas há outro problema: 1% tem calendário demais e 99% não têm. Então é preciso reduzir o calendário de quem tem essa superexposição e arrumar calendário para quem não joga o suficiente.

O Ministério do Esporte pode ajudar a melhorar isso?
O governo perdeu esse papel. Quando o Brasil foi alvo das reformas neoliberais que demonizaram o Estado, alguns liberais pegaram carona no discurso de que era preciso desregulamentar, tirar o Estado do futebol, entregar ao mercado. As pessoas sabiam disso e entregaram na mão das aves de rapina. O mercado não faz filantropia. É bom que se destaque que o futebol é uma das raras instituições do Brasil que se afirmaram à margem do mercado e do Estado. Quando o Estado chegou, antes do mercado, foi para regulamentar, estabelecer regras de funcionamento do futebol. Mas já era uma atividade consolidada. As grandes torcidas já existiam, os times já eram instituições centenárias.

Mas os jogadores e os clubes não faturavam como hoje.
Os jogadores, os astros, eram artesãos remunerados pelos seus admiradores que iam aos estádios, pagavam o ingresso para vê-los em atividade. Foi assim que surgiram Ademir da Guia, Pelé, Garrincha, Rivelino e tantos outros. Recentemente é que os grandes patrocinadores, detentores de imagem, chegaram. Ajudando por um lado, os jogadores passaram a ganhar mais, mas, ao mesmo tempo, pondo em risco a fantasia e o encanto dessa arte, transformando o futebol numa mercadoria. Isso é um risco muito grande, pois a relação do torcedor com o time não é uma relação de mercado, é paixão.

Entrevisa publicada na edição deste domingo (16.02) da revista Isto É

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