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Confira artigo de Benjamin Steinbruch publicado na Folha de S.Paulo
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- Publicado em Quinta, 27 Março 2014 15:32
Jogai por nós
Benjamin Steinbruch
Pessoas que estiveram no Maracanã em 16 de julho de 1950, quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, contam que, terminada a partida, "ouviu-se" um profundo e assustador silêncio.
A plateia de 200 mil espectadores, aparentemente, curtia naquele momento o que o mestre Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata, a grande fraqueza do homem brasileiro.
Acredito sinceramente que hoje os brasileiros já superaram esse complexo de inferioridade, e não apenas no futebol. Se assim não fosse, o país não teria conquistado o direito de sediar em um período tão curto os dois mais importantes eventos esportivos do mundo, a Copa e a Olimpíada.
Na economia, o complexo também não se justifica. A despeito de todos os percalços, o Brasil é hoje a sétima maior economia do mundo, rivaliza com os EUA na produção de grãos, tem um grande parque industrial e aplica programas sociais de grande prestígio internacional pela distribuição de renda e diminuição da pobreza. Há ainda, evidentemente, enormes desafios a superar na educação, na saúde, na segurança e em várias outras áreas.
Têm todo o direito de protestar aqueles que são contra a realização da Copa no Brasil, embora essas manifestações devessem ter começado muito antes, quando o Brasil se candidatou para ser a sede, em 2003, ou quando foi escolhido pela Fifa, em 2007.
Quem é contra, porém, não tem o direito de apelar para a violência. As pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros apoia a realização da Copa e isso precisa ser respeitado.
Seria redundante relacionar os benefícios desse grande evento para o país e nem haveria aqui espaço suficiente para isso. Basta citar alguns dados: turistas devem deixar US$ 7 bilhões no país nos 30 dias de competições; entre 2010 e 2014, os setores de turismo e serviço ligados à Copa devem movimentar cerca de R$ 140 bilhões; vários investimentos em infraestrutura estão sendo feitos nas 12 cidades-sede -mesmo que atrasem e não fiquem prontos para os jogos, serão realizados; aeroportos foram e estão sendo remodelados e ampliados; só na construção de aeroportos foram gerados 25 mil empregos; no total, a estimativa é de 330 mil vagas permanentes e 380 mil temporárias.
Os aeroportos ficarão superlotados? O acesso aos estádios será complicado? Turistas serão maltratados? Hotéis e restaurantes vão exagerar nos preços? Sim, tudo isso pode acontecer. Mas é preciso ter em conta que falhas ocorrem em todos os Mundiais. Na França, em 1998, milhares de torcedores foram enganados e, embora tivessem comprado seus ingressos, não conseguiram entrar no Stade de France, em Saint-Denis, para ver aquela desastrosa final entre Brasil e França.
Na Alemanha, em 2006, o torcedor tinha de caminhar quase dois quilômetros num descampado de terra para chegar à monumental Allianz Arena, em Munique, para ver Brasil x Austrália. Em Marselha, em 1998, na véspera da semifinal entre Brasil e Holanda, hooligans andavam no meio do congestionamento agredindo motoristas negros com socos e xingamentos.
A organização da Copa é uma oportunidade para cultivar o sentimento de orgulho nacional e a própria imagem do país no exterior. Na África do Sul, 84% dos turistas que foram à Copa de 2010 disseram ter melhorado sua opinião sobre o país, que tinha a pecha de ser um dos mais perigosos do mundo.
Os estádios construídos e reformados no país são maravilhosos, uma demonstração da competência da arquitetura brasileira. Houve superfaturamento e corrupção? É possível e isso não é problema apenas nas obras da Copa. É uma chaga brasileira, que exige investigações e punições. Os estádios serão elefantes brancos quando a Copa terminar? Não necessariamente. O país do futebol, com 200 milhões de habitantes, tem o direito e até a obrigação de dispor de 12 estádios modernos que, nas mãos da iniciativa privada, poderão ser usados não só para futebol mas para grandes shows e outros eventos de massa.
No passado não muito distante, os países buscavam afirmação nacional por vitórias militares, em guerras e conquistas territoriais. Hoje, felizmente, impõem-se (ou deveriam se impor) por outras qualidades, como avanços econômicos e tecnológicos, civilidade, sustentabilidade, práticas democráticas e, por que não, conquistas esportivas.
Coluna publicada na edição de 25.03 da Folha de S.Paulo