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Artigo do ministro Aldo Rebelo: Copa é aquarela do Brasil
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- Publicado em Quarta, 14 Maio 2014 17:14
Há quem ainda questione a realização da Copa de 2014 em doze cidades do Brasil, e sobretudo em regiões que, do ponto de vista dos monopólios midiáticos, não têm lastro urbano nem esportivo para receber um evento de tal magnitude. O preconceito, que podemos chamar de sudestecentrismo, desqualifica algumas sedes como locais que nem mereciam estádios modernos e confortáveis semelhantes aos colossos arquitetônicos reformados ou construídos para o torneio.
Um país comparativamente pequeno, como a Alemanha, do tamanho de Mato Grosso do Sul, distribuiu a competição de 2006 por 12 pontos de seu território. A África do Sul, que equivale ao Pará, dividiu a de 2010 em nove sedes. Único país maior que o Brasil a sediar uma Copa, os Estados Unidos fizeram a de 1994 também em nove cidades – espalhando-a de São Francisco a Boston, com a malícia de esconder os estados mais pobres, como Idaho e Mississipi.
O Amazonas não é um dos estados mais desenvolvidos do Brasil, mas, como disse em recente palestra sobre a Copa no King´s College de Londres, Manaus, onde a seleção inglesa vai jogar, tem um estádio cuja beleza e funcionalidade rivalizam com o de Wembley. A Amazônia, com dois terços do território nacional, constitui uma civilização própria, com natureza, usos, costumes e imaginário que atraem admiração ao Brasil. Como poderíamos deixá-la fora da Copa?
Seria fácil fazer a nossa segunda Copa em poucas cidades do Sudeste e do Sul, como em 1950, agora talvez com a inclusão conciliatória de Brasília. Poderíamos até mesmo fazer o Mundial só em São Paulo, mas não seria uma Copa do Brasil profundo. Seria uma secessão na síntese nacional excluir cidades de regiões distintivas do País, a exemplo da Cuiabá do Pantanal e a Manaus da Amazônia.
Com 8,5 milhões de km², o Brasil divide-se politicamente em regiões que grosso modo correspondem a biomas e formação social peculiares. Temos o Sul dos Pampas, o Sudeste da Mata Atlântica, o Centro-Oeste do Pantanal, o Nordeste da Caatinga, o Norte da Floresta Amazônica. Uma Copa do Mundo, o evento mais assistido do planeta, por bilhões de telespectadores, é uma oportunidade não só para que as cidades-sede e suas regiões recebam os benefícios econômicos e sociais proporcionados pelo megaevento mas também se qualifiquem como mostruários do conjunto edênico verde-amarelo que fascina o mundo.
Aldo Rebelo
Ministro do Esporte
Artigo publicado na edição de sábado (10.05) do Diário de S. Paulo