Ministério do Esporte Entrevista // Olimpíadas do Rio mudam patamar do tênis de mesa nacional
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Entrevista // Olimpíadas do Rio mudam patamar do tênis de mesa nacional

Ficar entre os oito no masculino, 12 no feminino, e com até quatro pódios na Paraolimpíada. Essas são as metas do tênis de mesa do Brasil para os Jogos de 2016, no Rio de Janeiro. Caso consiga o objetivo, o Brasil terá a melhor campanha de sua história da modalidade. A preparação inclui períodos de treinos da seleção a cada dois meses, participação em torneios internacionais e intercâmbios e o suporte de técnicos e equipamentos de primeira linha.

O presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, ressalta que a projeção tem conexão direta com os investimentos que vêm sendo feitos da base ao alto rendimento. Com o Ministério do Esporte são convênios para compra de equipamentos, viagens, pagamento a atletas, técnicos e equipes multidisciplinares. Pela Lei de Incentivo ao Esporte, a entidade conseguiu recursos com uma empresa chinesa, dona de um dos melhores clubes de tênis de mesa do mundo.

O fato de o Brasil receber as Olimpíadas de 2016 foi, segundo o dirigente, um catalizador de recursos para o esporte. A melhoria na estrutura permite que jovens desenvolvam seu potencial, como Hugo Calderano, 18 anos, bronze nos Jogos Mundiais da Juventude, em Nanquim, na China. O legado olímpico também é pensado para as próximas gerações. Com o auxílio de consultorias e parcerias internacionais, a CBTM tem desenvolvido projetos como o “Sacando para o Futuro” e “Diamantes do Futuro”, com o objetivo de detectar e desenvolver novos talentos.

Confira a entrevista:

Metas olímpicas

Hoje estamos na 22ª colocação no ranking mundial no masculino. Parece distante, mas para se ter uma ideia, a equipe seguinte das Américas mais bem colocada é Cuba, no 35º posto. Nossa meta é estar entre as oito melhores em 2016, o que não é difícil. São 16 equipes nas Olimpíadas. Passando do primeiro jogo, estaremos entre os oito melhores e disputaremos uma partida que será a mais importante da nossa história. Se vencermos, vamos para a disputa de medalha. O feminino ganhou esse ano o Mundial da segunda divisão e estamos em evolução. A nossa meta é ficar, pelo menos, entre os 12 primeiros nos Jogos Olímpicos.

(Foto: Danilo Borges/ME)(Foto: Danilo Borges/ME)


Quatro pódios
Houve uma evolução muito grande no paraolímpico. Temos a maioria dos mesatenistas na Bolsa-Atleta ou na Bolsa Pódio. Temos um Centro de Treinamento em Brasília e outro em Piracicaba. Nestes locais reunimos os melhores. Como em outras profissões, isso motiva os atletas a crescerem.

Nos Jogos Paraolímpicos de 2016 a meta é conquistar até quatro medalhas. Temos muitas chances com a Bruna Alexandre na classe 10, com a equipe da classe 9/10 e em mais duas categorias entre os cadeirantes (classes 1 a 5), o que é uma evolução fantástica. Esse trabalho é de longo prazo, mas o Brasil já é respeitado. Eu diria que a meta até 2016 é ter a equipe masculina paraolímpica entre as cinco melhores do mundo.

Preparação
Para se chegar a essas metas, foi traçada uma estratégia há seis anos, com o auxílio de um consultor francês que contratamos. Nossos objetivos estão sendo cumpridos. Inclusive, a medalha de bronze do Hugo Calderano, em Nanquim, fazia parte do plano. Fomos atrás dos melhores profissionais do mundo: técnicos, preparadores físicos, psicólogos, especialistas em Dartfish, um programa de computador que dá a velocidade da bola, o efeito e decompõe o movimento dos atletas.

Temos um patrocinador da China, a empresa State Grid, do ramo de energia elétrica. Eles estão investindo no Brasil e têm o melhor clube de tênis de mesa da China, além do time de futebol, o Shandong Luneng. Eles compraram um Centro de Treinamento em Porto Feliz (SP). Eles investem em futebol e tênis de mesa. Todo o processo de evolução do feminino está baseado no intercâmbio com a China, através desta empresa, que é nossa patrocinadora pela Lei de Incentivo ao Esporte.

Gustavo Tsuboi é um dos destaques da equipe masculina
Com a equipe masculina, optamos por juntar todos na Alemanha, já que temos seis atletas atuando no campeonato de lá. Conseguimos um convênio com o clube Ochsenhausen para que os atletas morem na mesma cidade e treinem no mesmo local, quando forem se juntar na seleção, apesar de jogarem por clubes adversários. Isso foi algo que conseguimos com muita conversa. A cada dois meses eles se reúnem para dez dias de treinamento intensivo. (Foto: Divulgação/CBTM)(Foto: Divulgação/CBTM)

Também temos treinos no centro de São Caetano (SP) e eventos no Brasil. Em março, teremos a primeira Copa Brasil em Piracicaba, que contará com mais de 600 competidores. Faremos um evento internacional, a Copa Latina, com os mesatenistas da seleção e com quatro atletas internacionais de alto nível durante a Copa Brasil. Ainda teremos um desafio paraolímpico entre um mesatenista inglês e o Paulo Salmin, da classe 7.

No total, teremos seis eventos no Brasil este ano, onde colocaremos os atletas brasileiros para o público conhecer. É bom para os atletas sentirem a pressão. Uma coisa é estar na Alemanha, outra é estar no Brasil, com ginásio lotado e transmissão na TV. Simulamos um pouco o ambiente do Rio em 2016. Neste ano ainda teremos, em novembro, os eventos-teste. São oito equipes. O Brasil, por ser sede, estará tanto no masculino quanto no feminino.

Para a seleção paraolímpica temos as etapas mundiais, treinos na Inglaterra e na véspera dos Jogos treinaremos no Rio. Traremos jogadores internacionais que não participarão dos Jogos para servirem de sparring. A comissão técnica achou importante trazer jogadores que não estarão nas Paraolimpíadas para não revelarmos o nosso jogo. E 15 dias antes das Paraolimpíadas vamos treinar no Rio para fazermos a aclimatação.

Investimentos
No passado, tínhamos o conhecimento, mas não tínhamos recursos. Quando o Rio foi escolhido para ser a sede dos Jogos Olímpicos, passamos a ter os recursos. O Ministério do Esporte nos apoia completamente. Se você me perguntar o que está faltando, eu respondo que não falta nada. Com isso, melhoramos nosso patamar. Temos convênios com o Ministério do Esporte, que envolvem o pagamento dos atletas, técnicos e equipes multidisciplinares, compra de equipamentos e material. Com os recursos pagamos todas as viagens internacionais. Temos os recursos da empresa chinesa, possível graças à Lei de Incentivo ao Esporte. Não temos patrocínio direto de empresa estatal, mas temos recursos indiretos da Caixa Econômica Federal com o Comitê Paralímpico Brasileiro.

Sequência
Além de bons resultados com o time atual, estamos plantando bases permanentes para o tênis de mesa. Temos um projeto no Rio de Janeiro que se chama “Sacando para o Futuro”, em 50 escolas. São cinco mil crianças jogando tênis de mesa. A confederação dá o material e a Secretaria Municipal paga a extensão da carga horária aos professores. É uma parceria importante e que queremos fazer em outros estados.

Temos um projeto que copiamos da França, porque lá eles têm 240 mil jogadores e 4.600 clubes. Nós, com uma população bem maior, temos 10% disso. Todos os anos, nesses clubes franceses, eles selecionam crianças de sete a nove anos, cerca de oito mil, em um processo que dura um ano. No fim ficam 700 e depois eles tiram os principais talentos, entre oito e 12 nomes. Eles ficam nos clubes e são acompanhados pela federação, inclusive em relação ao desempenho escolar. Se elas vão mal na escola, a federação paga reforço. A cada dois meses eles se reúnem e treinam. Quando completam 14 anos, se atingiram os objetivos e metas, os atletas vão para um Centro de Treinamento em Paris. Ele vira um profissional do tênis de mesa.

É o mesmo que estamos fazendo no “Diamantes do Futuro”. As nossas crianças treinam a cada dois meses juntas. Contratamos um treinador português, que está capacitando os nossos técnicos. Todo ano os atletas vão para China e para a Europa, desde os sete anos. Eles passam a conhecer os adversários. Mandamos quatro jogadores entre nove e 12 anos para a China. Eles ficaram 20 dias no Shandong Luneng, pelo projeto. No mês de maio, estamos indo ao campeonato mundial e a equipe vai passar 15 dias treinando no clube.

Um CT em cada estado
Outro projeto é termos um centro de treinamento em cada estado. Temos um no Amapá, um em Sergipe e estamos finalizando um em Alagoas. Não estamos pensando em grandes centros, mas em centros com quatro, cinco mesas, com 400 metros quadrados, cujo objetivo principal é detectar talentos, pelo menos, quatro por estado. Com isso, teríamos mais de cem crianças, que seriam acompanhadas indiretamente pela confederação.

Temos toda a tecnologia, o conhecimento e trocamos experiência com a França. Nosso trabalho é esse, não deixar ter uma lacuna entre a geração de agora, com Gustavo Tsuboi, Hugo Calderano, Cazuo Matsumoto, Thiago Monteiro e a próxima geração. Acompanharemos as crianças desde os sete anos até o altíssimo nível. O Brasil não vai parar em 2016, este ano tem de ser um marco. Além de ir bem nos Jogos, temos obrigação de continuar evoluindo.

Gabriel Fialho
Ascom – Ministério do Esporte
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