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Confira a entrevista do ministro do Esporte ao jornal Valor Econômico
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- Publicado em Sexta, 30 Agosto 2013 17:50
Confira matéria publicada no jornal Valor Econômico nesta sexta-feira (30.08).
http://www.valor.com.br/cultura/3252480/copa-do-mundo-padrao-brasil#ixzz2dU2XZIpJ
"Copa do Mundo padrão Brasil"
Por Robinson Borges e Rosângela Bittar
A luz do sol de inverno de Brasília ilumina a placa sobre uma discreta parede em tons pastel. Letras cursivas contornam a primeira palavra: Lake's. Em seguida, alinhadas fontes maiúsculas formam o complemento: Restaurante. Tão prosaica nas fachadas brasileiras, essa união bilíngue normalmente sinalizaria apenas que estamos na frente de um dos principais endereços gastronômicos da capital, mas nesta tarde remetem também a uma inescapável ironia. É o lugar escolhido pelo comunista Aldo Rebelo, um notório nacionalista, para este "À Mesa com o Valor".
Crítico agudo do "dialeto de Miami", esse sertanejo de Alagoas se tornou conhecido por seus controversos projetos em defesa da soberania cultural. Só para lembrar, ele já sugeriu a criação de um Dia Nacional do Saci-Pererê, para substituir a importação cultural do Halloween, e propôs uma lei que limitava o uso de estrangeirismos no Brasil. Nesta tarde, no entanto, o ministro do Esporte decidiu suspender as alfândegas e entregar-se aos prazeres da carne - no Lake's.
O nome do restaurante pode ser fruto de uma "imposição da cultura dominante sobre a cultura dominada", mas também teve como inspiração algo bem brasileiro, uma belíssima vista do Lago Sul de Brasília, onde uma primeira unidade da churrascaria da família surgiu três décadas atrás. Hoje, na Asa Sul, a casa é um daqueles lugares naturalmente acolhedores, com mobiliário contemporâneo e cozinha internacional que não despreza as delicadezas do sabor local. Seu padrão é Fifa.
Os raios solares que se expressam timidamente pela janela do hall - desculpe, ministro, antessala é melhor - deixam o ambiente mais agradável. Aldo já está descontraidamente acomodado em um poltrona de couro quando os repórteres entram. Ele experimenta uma cachaça Mercedes, produto 100% brasileiro, e faz sua primeira defesa da identidade nacional. "Não sou contra estrangeirismos", diz, ao saborear pequenas porções de amendoim. "O idioma se enriquece com o aporte de novas expressões. O que você não pode conceber é a substituição do seu idioma por um estrangeiro, achando que isso tem algum sentido de modernidade e de sofisticação."
No ginásio, em sua Viçosa natal, o jovem José Aldo Rebelo Figueiredo foi aluno do padre Jatobá, um latinista afetuosamente ligado ao idioma. Ao frequentar suas aulas, aprendeu que o português foi um fator importante da construção da unidade do país, tema que se tornaria central em seu itinerário político e intelectual. "O Brasil não vai resolver bem a questão democrática, não vai resolver bem a questão social, se não tiver a questão nacional como eixo orientador das grandes decisões", fala com a empolgação típica dos bons oradores.
Alinhado em um terno azul-marinho combinando com uma camisa branca de listras igualmente azuis, Aldo está com o semblante tranquilo, sem muitas evidências de seus 57 anos. Depois da tumultuada Copa das Confederações, o ministro fez um retiro de alguns dias em Viçosa. No interior, mantém um sítio com plantação de mandioca, feijão e capim e alguns cavalos. É lá, próximo de Maria Cila, sua mãe, e das irmãs, que costuma pegar manga no pé e nadar no rio. Os cavalos são uma paixão especial: a cavalgada é o esporte nacional mais antigo, antecede o futebol, costuma dizer. Seu primeiro contato ocorreu aos 3 anos, quando o vaqueiro José Figueiredo Lima, seu pai, o pôs em uma sela. Virou seu esporte. Em sua terra, garante, não é o ministro. É um local.
Na tela do celular, exibe instantâneos do ócio. Em uma das fotos está orgulhosamente acompanhado de dois garotos que moram em uma comunidade de 30 pessoas e vestem camisa do Palmeiras. "Eu fotografo palmeirenses", diz.
Quando está em Brasília, muitas das partidas de seu Palestra do coração são vistas ali mesmo, quase sempre na companhia da oposição. "Tenho amigos que são gremistas, outros que são Colorado, Fluminense", conta. "Trago os amigos para ver os jogos do Palmeiras e venho com amigos para ver os jogos deles." Esporte, afinal, é confraternização. Incluindo a língua: não se espante se ouvi-lo, no Lake's, gritar pênalti em vez de penalidade máxima.
No comando dos dois eventos esportivos mais importantes da história do país, Aldo vê o esporte como de interesse público nacional. Mais do que um ardoroso palmeirense, revela-se um torcedor do futebol. Quando jovem, chegou a jogar como lateral-direito, tentou ser centroavante e zagueiro. Acabou no gol, mas a carreira não deslanchou. Mais tarde, usou sua paixão para escrever um livro: "Palmeiras x Corinthians 1945 - O Jogo Vermelho".
Apesar de ter sido criado na Inglaterra há um século e meio, o futebol foi incorporado e praticamente reinventado por aqui - a palavra também foi adaptada do inglês na pronúncia e na escrita. "No Brasil, tornou-se esporte nacional. Muita gente achava que não ia dar certo, o próprio Graciliano Ramos pensava isso", observa. "Em uma sociedade tão desigual como a que tínhamos no século passado, foi um esporte que abriu a janela para os jovens pobres e negros. Qual foi a primeira celebridade negra e pobre do país? Foi o Friedenreich [craque do futebol amador]. O povo abraçou o futebol como uma causa", diz, enquanto pastéis de queijo e carne são acomodados à mesa.
Mas o contagiante entusiasmo brasileiro pelo futebol parece ter ido para o escanteio durante a Copa das Confederações. No lugar da tradicional torcida-delirando-vendo-a-rede-balançar, a pátria em chuteiras foi ocupada por manifestantes que reclamavam contra o custo e o legado dos megaeventos. Algumas pistas do desconforto da opinião pública já estavam dadas, meses antes, com a repetição exaustiva do bordão "se agora já está assim, imagina na Copa".
Com a voz mansa, mas firme, Aldo enfatiza a tese de que houve uma campanha contrária à Copa no Brasil construída principalmente pela oposição e pela imprensa, "com todo o respeito". A crítica aos gastos excessivos com o torneio é indevida, diz. "Estão gastando R$ 32 bilhões com a Copa coisa nenhuma. Estão gastando o dinheiro com mobilidade urbana." Os investimentos facilitam a realização do mundial, mas seriam realizados com ou sem os megaeventos. Vasculha os números em sua memória e menciona uma pesquisa Datafolha, divulgada depois das manifestações, que mostrava o apoio de 65% dos brasileiros à Copa no país - apenas um em cada quatro declararam ser contrários. "Quem é contra a Copa do Mundo? Sou eu? Não sou eu, é uma parte da imprensa."
Jornalista e ex-aluno de direito na Universidade Federal de Alagoas (não concluiu o curso), Aldo advoga que a cobertura não é circunscrita ao governo do PT, do qual o seu PCdoB é aliado. "A expressão fracassomaníacos não é petista. Vocês lembram de quem é?"
"Fernando Henrique", respondem, ao mesmo tempo, os dois repórteres.
Quando era presidente da Comissão de Relações Exteriores no governo FHC, o deputado federal semanalmente recebia missões internacionais de investidores e ministros de Estado. Nos dias das visitas, sua primeira providência era retirar de cima da mesa todos os jornais diários. "Mandava minha secretária guardar", lembra-se. "Se algum investidor lesse as manchetes, não botaria um centavo neste país, que 'estava se dissolvendo'. Por que diabos alguém botaria dinheiro aqui?"
Com amendoins à mão, o ministro confessa: viveu momentos de aflição em junho. Acompanhou de perto quase todas as partidas nos estádios, temendo que alguma delegação fosse impedida de chegar, o que poderia comprometer a credibilidade do Brasil como anfitrião. "A única coisa que começa na hora no mundo inteiro é um jogo de futebol. Às 4 horas, o juiz está em campo, o time tem que estar, se não estiver, perde por WO. Por isso, ele é punido."
A angústia, ele suspeita, pode ter sido compartilhada pela Fifa, que temeu os efeitos dos protestos, especialmente por causa dos grandes contratos que possui com marcas internacionalizadas. E o pior: se algo desse errado, não havia um plano B para o evento.
O telefone celular toca. É seu braço direito, o secretário-executivo Luis Fernandes. "Preciso atender." Ao fim da ligação, uma constatação: os pastéis e os amendoins acabaram. Hora de irmos para uma mesa maior no salão principal. Não há lugares vazios. Como em boa parte dos bons restaurantes de Brasília, os espaços são quase todos ocupados por homens engravatados e do jet set político. "Garantimos a privacidade", avisa Zeli da Costa, responsável pelo Lake's e pai da proprietária, Gisela da Costa.
Aldo acena para alguns, cumprimenta outros e senta-se à mesa redonda reservada em um canto no salão. A poucos metros está seu colega Garibaldi Alves, que antes de partir se dirige a Aldo e faz uma provocação solidária. "Hoje eu estou no jornal, mas estou bem acompanhado", diz o ministro da Previdência Social. "Faz parte da luta", responde o comunista, sem aparente constrangimento.
Na edição da "Folha de S. Paulo" daquela manhã, Garibaldi era apenas coadjuvante. O foco de reportagem com chamada na primeira página era Aldo. A matéria informava que o ministro havia aproveitado uma missão oficial a Cuba, no Carnaval, para levar a mulher e o filho a bordo de um jatinho da FAB. Ao lado, um texto lembrava que, quando a voz rouca das ruas gritava contra políticos, Garibaldi voava, também pela FAB, para assistir à final da Copa das Confederações no Maracanã.
O assunto é indigesto, mas Aldo tem se defendido. Alega não ter ido a Cuba a passeio e que sua mulher, funcionária do governo do Distrito Federal, e o filho de 21 anos, estudante de relações internacionais na Universidade Católica, também foram convidados por Havana para participar dos programas. Seus adversários, no entanto, não se convenceram: batem na tecla de que a mulher e o filho não representavam o governo brasileiro.
De fato, nem tudo funciona como Aldo gostaria. Veja o caso da picanha fatiada, uma das especialidades da casa, que o ministro escolheu para comer. Felisberto, o garçom, pede desculpas e explica que houve um problema técnico com o motor da serra: a carne com aquele corte não está disponível. A solução é uma picanha individual, sugestão muito bem acolhida pelo fotógrafo e pela repórter, com quem Aldo divide uma farofinha com ovos. Todos pedem ao ponto. O repórter opta por um salmão na brasa e Fernando Guedes, o assessor de comunicação, prefere uma "entrecôte". O ministro bebe água sem gás e sem gelo. Sucos de tomate e laranja e refrigerantes são as outras opções de bebida.
Com mais de cinco mil livros em sua biblioteca pessoal, Aldo também é um leitor voraz. Leu todos os livros do gaúcho - "como é mesmo o nome dele?" - "Tabajara Ruas". Mas não está muito familiarizado com outros contemporâneos. É fã dos canônicos Guimarães Rosa, Machado de Assis e Tolstói. "Releio bastante." Não por acaso, a conversa segue recheada de citações. Uma pergunta sobre conjuntura é sempre respondida pela voz de autores que examinaram a alma brasileira: Graciliano, Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre passeiam frequentemente pelas frases do ministro, ele também escritor.
- O senhor acha que o Brasil vai dar conta brilhantemente de fazer a Copa do Mundo no ano que vem e a Olimpíada de 2016?
- Vamos enxugar o texto, como diria o nosso Graciliano. O Brasil vai fazer a Copa. Frase curta é sempre melhor. Temos de fazer uma Copa com a infraestrutura da Alemanha? É evidente que não. É uma Copa com a infraestrutura do Brasil. Fazer uma Copa com o calor humano da Alemanha? Não, com o calor humano do Brasil. As pessoas vão vir aqui porque a nossa rede hoteleira é melhor que a europeia? Não.
O ministro faz uma reafirmação da brasilidade e manda uma mensagem aos detratores do tal "jeitinho brasileiro", que preferem a racionalidade alemã e veem no improviso uma "deformidade que quase liquida seu povo como civilização".
"Gilberto Freyre diz que é a nossa capacidade de improvisar que faz a diferença. Essa capacidade é a criatividade." Ou, como já observou Darcy Ribeiro, o Brasil é uma espécie de Roma renovada, mais democrática, porque foi batizada e lavada pelo sangue africano e indígena. Com essa fusão harmônica de raças e culturas, o país poderia dar outro exemplo a um mundo onde conflitos étnicos, nacionais e religiosos pesam demais na vida das pessoas, acredita. "O multiculturalismo não consegue resolver isso. Não temos escolha, a não ser a de sermos o que somos, uma sociedade que não pode admitir preconceito de raça, de etnia."
Os pratos logo chegam, todos se servem e o ministro se mostra sintonizado com a tese do amálgama do Brasil do tropicalista Jorge Mautner, que defende justamente a capacidade do brasileiro de acolher o diferente, de misturar-se a ele, de incorporar seus atributos, de reinterpretar tudo e incluir posições contrárias e opostas, chegando a um caminho do meio, ao equilíbrio.
Mais um gole de água, uma pequena pausa. A afinidade intelectual com Mautner, revela, fez do músico, poeta, cineasta e membro do PCdoB, um dos principais interlocutores na discussão sobre as celebrações de abertura da Copa do Mundo e da Olimpíada. "Ele é meu consultor não remunerado. Sou muito amigo dele e admirador da forma dele de pensar", faz questão de ressaltar.
O governo brasileiro participa das conversas com os organizadores. "É a imagem do Brasil para o mundo. Ou seja, não pode haver uma apropriação da nossa imagem. Mas claro que o COI [Comitê Olímpico Internacional] é um organismo privado."
No encerramento da Copa do Mundo, no Maracanã, Aldo faz sua aposta: a seleção canarinho fará bela figura. A final será entre Brasil e Espanha, ou Alemanha, ou Argentina, ou Itália, os favoritos de sempre. Na Olimpíada, é mais cauteloso. "Vamos ter um desempenho muito bom no quadro de medalhas", diz. "Nossa meta é ficar em décimo lugar nos Jogos Olímpicos e em quinto nos 'Paraolímpicos'."
- O senhor não fala paralímpicos?
- Chamamos de "paraolímpicos".
Aldo se recusa a usar a orientação do Comitê Paralímpico Internacional para o Brasil se alinhar mundialmente aos demais países. "É uma briga de marca feia", comenta. "Não é linguística. Paralímpico é para não ficar parecido com olímpico."
Sua exaltação ao nacional, no entanto, não o impede de se unir ao universalismo e recorrer, por exemplo, às modernidades tecnológicas que favorecem a conexão com o mundo. Usa a internet - sim, ele não fala rede mundial de computadores -, atualiza frequentemente o Twitter, lê livros no Kindle - não gosta - e teve de abandonar o Facebook depois de três tentativas fracassadas de mantê-lo ativo. Rapidamente sua página atingia o limite máximo de cinco mil amigos.
Mas, certamente, nenhum desses insistentes amigos era ambientalista, turma que não "curtiu" o que considerou um desastroso parecer de Aldo sobre o relatório de mudança do Código Florestal. O debate polarizou o país. O comunista atuou no meio de um tiroteio e foi visto como um aliado dos ruralistas. "Era o interesse do desenvolvimento do país, não é o problema social do grande fazendeiro contra o pequeno. Era a agricultura do Brasil que estava em jogo."
Felisberto está de volta. Aldo pede que leve os pratos. Não comeu tudo, mas parece satisfeito. "Depois, se houver uma sobremesa aqui para a nossa companheira, eu acompanho."
A esta altura o restaurante está se esvaziando, poucas pessoas falam e as frases de Aldo se destacam. "Vocês sabem que havia um convite da Rita para vocês irem lá em casa?", pergunta. Rita de Cássia Rebelo é sua mulher, coordenadora na Secretaria da Mulher do governo do Distrito Federal, também militante do PCdoB e conhecida em Brasília como uma excelente cozinheira. Mas, como os entrevistados desta seção são convidados do Valor, a contraproposta para que ele escolhesse um restaurante foi feita e aceita.
Quando estão em Brasília, Aldo, Rita e Pedro, o filho único do casal, moram na 302, em um bloco de apartamentos. Em São Paulo, durante os fins de semana, vivem no Jardim Paulista. A capital é seu berço eleitoral - já foi candidato a vice-prefeito em chapa com Marta Suplicy -, mas a vida em cidades grandes não espantou a memória afetiva dos violeiros e repentistas nordestinos de sua infância e juventude. "Fui criado ouvindo esse povo nas feiras. Meu imaginário, o meu mundo, nasceu com eles. Gonzagão é o máximo." Também é fã dos Racionais MC's, grupo de rap que dá voz à cultura da periferia de grandes centros urbanos. "Gosto muito de 'O Homem na Estrada'."
A manifestação social da letra, de certa maneira conversa com sua militância política, que começou ainda em Alagoas. Acompanhou as manifestações de 1968 no Colégio Agrícola Floriano Peixoto, foi do centro acadêmico da Universidade Federal do Estado, presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE), foi eleito vereador em São Paulo e está em seu sexto mandato como deputado federal. Muitos o veem como um dos nomes mais influentes do Congresso Nacional. Passou de líder do PCdoB a líder do governo, foi eleito presidente da Câmara e tornou-se ministro de Relações Institucionais de Lula. Reeleito deputado federal em 2010, foi escolhido por Dilma para a pasta do Esporte para substituir o também comunista Orlando Silva, afastado por suspeitas de irregularidades.
Com o texto bem enxuto, como sugere Graciliano, Aldo diz que não há alteração programática entre os dois governos petistas. "Os estilos são diferentes, mas são governos de continuidade."
Visto como habilidoso conciliador, o nome de Aldo chegou a circular para a substituição de Ideli Salvati na articulação do governo, que enfrenta dificuldades com a base, até com antigos aliados.
- Pelo que o senhor conhece de coordenação política, o PMDB é um problema ou uma solução?
- Olha, meu conhecimento de coordenação política para trás não serve para muita coisa não.
- É a primeira vez que o senhor está negando a importância da história neste almoço.
A resposta é escorregadia. "Política é uma coisa tão rica, tão dinâmica, tão carregada de improvisos. Não adianta você achar que tem um modelo de coordenação política."
O garçom se aproxima novamente e pergunta se alguém deseja sobremesa. Aldo procura saber se há doce de jaca. "Tem não, doutor", responde Felisberto, que emenda: "Tem doce de leite, mamão, coco..." Mais uma tentativa do ministro: "Caju?" Não há resposta, e Aldo acolhe o doce de coco mesmo. Infelizmente, seus favoritos não estão disponíveis. Os repórteres vão de dois pedaços frugais de abacaxi.
A sobremesa vem rápido. O doce não ameniza uma pontada de amargura: o ministro vê como um efeito colateral indesejável da jornada de junho o desgaste da instituição da política. "Eu acho que o risco é você ter uma rejeição a tudo o que ela [política] é a favor. Mesmo que seja bom."
Ainda há tempo para um cafezinho. Felisberto chega com quatro xícaras.
Com a Copa do Mundo no ano que vem, o potencial para que novos protestos ocorram parece grande, ainda mais com um calendário eleitoral a seguir. Em junho, a agenda vasta das reivindicações favoreceu, do ponto de vista do ministro, uma "agenda da América", com uma prateleira de identidades. "Ou seja, foi uma expressão de fragmentação, que é a democracia de mercado. A coisa mais difícil para mim é a negação da questão nacional", afirma Aldo. É sua última defesa da ideia de nação. Mais de duas horas já se passaram. Chegou o momento de partir. As despedidas são feitas à porta do restaurante. Na rua, o sol está a pino e continua iluminando o Lake's Restaurante.