Ministério do Esporte Confira entrevista do ministro Aldo Rebelo ao jornal Público, de Portugal
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Confira entrevista do ministro Aldo Rebelo ao jornal Público, de Portugal

Ministro brasileiro do Desporto diz que "não há elefantes brancos na fauna do Brasil"

07.07.2012
Filipe Escobar de Lima
    
Aldo Rebelo regressou ao governo que tinha deixado em 2005 para limpar a casa. Entrou há sete meses para substituir Orlando Silva como ministro do Desporto, depois de este ter sido afastado por Dilma Rousseff devido a suspeitas de corrupção. Em plena fase de preparativos para o Mundial 2014 e na contagem decrescente para os Jogos Olímpicos de 2016, a queda de Silva só não foi tão estrondosa devido à entrada de Rebelo, o comunista zen, como o tratam no Brasil.

À frente da pasta mais importante para um país que vai receber as duas provas desportivas mais relevantes do planeta, Aldo Rebelo aparenta uma calma inusitada. O Brasil é acusado de não cumprir os prazos - diz-se que apenas 5% das obras estão concluídas, a dois anos do Campeonato do Mundo -, sofreu duras críticas do secretário-geral da FIFA, Jerôme Valcke, e vê-se agora a braços com o lugar de Silva, expulso com acusações de vários crimes de corrupção e desvio de fundos para o programa do ministério destinado a projectos de organizações não governamentais (ONG).

Preocupado? Não. Despreocupado? Também não. Aldo Rebelo sabe o que o espera. O Mundial de 2014 traz desafios, mas não há mistérios nem dificuldades para o Brasil realizar o evento. "Não sou ingénuo. Sei dos problemas e o governo está trabalhando para resolvê-los", disse em conversa com o PÚBLICO.

Mesmo quando a competência do Brasil é questionada, com críticas de que o país está mais empenhado em ganhar a Copa do que em organizar a competição? "Nós temos na nossa herança cultural um certo pessimismo e uma certa descrença que herdámos de Portugal, do velho do Restelo, mas também o espírito desbravador e realizador dos navegadores", disse para justificar, identificando-se com estes últimos. "Agora, o Brasil tem de navegar, fazer as coisas e ir adiante", continua, confiante. É um veterano nestas andanças, 56 anos, presidente da Câmara dos Deputados entre 2005 e 2007.

Tem no currículo o cargo de presidente do Brasil, o primeiro comunista a consegui-lo, mas só por um dia, quando Lula estava a ser tratado a um cancro na Venezuela, e o vice-presidente José Alencar no médico, nos EUA. Assumiu as honras no dia 12 de Novembro de 2006 e deixou a cadeira no dia a seguir, com o regresso de Lula.

Depois teve de descer à terra. E enfrentar as críticas. Internas e externas. A mais violenta veio da boca do secretário-geral da FIFA, quando disse que o Brasil precisava de um chuto no traseiro para que as coisas fossem apressadas.

"É normal, num empreendimento tão grandioso, que essas diferenças apareçam", afirma agora, e têm de ser administradas "em função do interesse comum" que une o governo brasileiro, a FIFA, os patrocinadores e a própria Copa do Mundo. "A FIFA está tão interessada no êxito da Copa como nós estamos", garante.

Isto é agora. Na altura, Rebelo reagiu intempestivamente, quase perdendo a sua face zen, quando exigiu à FIFA que trocasse de interlocutor. "Por tudo o que o Brasil representa, as declarações são inaceitáveis", desabafou.

Águas passadas, nesta altura. Valcke já esteve no Brasil duas vezes depois desse episódio, Rebelo já esteve na sede da FIFA e o melhor, segundo o próprio, é a "cooperação e a harmonia".

Internamente, a organização do Mundial e dos Jogos Olímpicos também não é bem vista. A estes críticos, Rebelo chama "velhos do Restelo". "Se fosse por esses, nem carnaval havia", solta, sentado no sofá de um hotel em Lisboa, impassível, blazer por cima de um pólo, simples, quase a sorrir.

São pertinentes essas críticas. Não teme, à semelhança de Portugal, ficar com "elefantes brancos", estádios abandonados sem ocupação, como em cidades mais pequenas e do interior. "Não há elefantes brancos na fauna do Brasil", ironizou. E garantiu que esses estádios (serão 12 ao todo), muitos dos quais com energias renováveis, se irão rentabilizar pelas valências multiusos que até passam por universidade (Recife) e conjuntos habitacionais.

É a segunda vez que o Brasil recebe um Mundial. "Não tem mistérios nem segredos", destaca, frisando que o país é o único que participou em todas as fases finais e já organizou uma edição, em 1950. "A Europa vivia ainda um momento de crise, devastada pela guerra, e não tinha como organizar a Copa", relembra. Então, o Brasil "fez o Maracanã em menos de dois anos", pelo que o Mundial "não tem segredos".

E os Jogos Olímpicos? Há dois exemplos distintos, como Barcelona em 1992, que a Espanha aproveitou para dar um pulo e conseguir tornar-se uma potência desportiva, e a Grécia em 2004, que se afundou na crise, na economia e sem grandes feitos no desporto.

Organizar Mundial e Jogos é apontado como uma festa de dois meses e uma dor de cabeça para dez anos. Rebelo foi buscar mais uma vez o carnaval. "Não dura nem um mês, é uma semana, e as pessoas fazem carros alegóricos luxuosos que são para usar menos de uma hora", diz.

Tanto o Mundial como os Jogos Olímpicos "são oportunidades que se descortinam para os países certos", assegura. "Pode ser uma grande oportunidade para o futuro ou, se não se tiver cuidado, pode transformar-se num fracasso", explica. No caso do Brasil, "só pode ser um sucesso".

Olimpíadas: Rio 2016 já rendeu mais patrocínios que Londres 2012

É uma bomba prestes a explodir nas mãos de Aldo Rebelo. O seu trabalho é quase o de MacGyver. Tentar fazer com que tudo corra bem, quando tem muito para correr mal. A FIFA já avisou os organizadores de que não podem voltar a falhar, ou então o Mundial passa para outras mãos - Inglaterra está de prevenção.

Quanto aos Jogos Olímpicos, apesar de ainda faltarem quatro anos, já se começam a levantar vozes críticas. Numa operação de charme que passou por Lisboa, o ministro, em Portugal para a abertura da 8.ª edição dos Jogos da CPLP, falou mais nos sinais positivos que nos negativos que este tipo de organização pode trazer.

Ao exemplo da Grécia, que se afundou depois dos Jogos de Atenas, em 2004, Rebelo respondeu com a confiança de um país com uma pujante economia (é a sexta do mundo).

E deu números: "Os Jogos Olímpicos do Rio já renderam mais patrocínios do que os de Londres", disse, sorridente. "Vai ser uma oportunidade para o desenvolvimento do país, não só desportivo, mas também científico e tecnológico", continuou. Servirá para "superar certas deficiências", destacando telecomunicações, mobilidade urbana e segurança.

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