No antigo povoado de Berimbau, em Santo Amaro (BA), que há 50 anos virou a cidade de Conceição do Jacuípe, a fábrica de xadrez e de damas do Programa Pintando a Cidadania garante ao esporte o status inquestionável de ferramenta de transformação social. Convênios firmados ao longo dos oito anos entre o Ministério do Esporte e a Associação Cultural Jacuipense (ACJ) ajudaram a cidade a combater o desemprego, agregaram valor à profissão e melhoraram a qualidade de vida dos 142 funcionários - 105 mulheres e 37 homens.

Instalada no município de 30 mil habitantes, a unidade jacuipense é a única do governo brasileiro na produção de kits de xadrez e de damas. São fabricados cerca de 20 mil jogos por mês. O esporte é um dos maiores geradores de renda da região, ao lado de indústrias de utensílios eletroeletrônicos e de fabricação de ventiladores, ferros de passar roupas e batedeiras.

A iniciativa de produzir os dois tipos de jogos, segundo o presidente da ACJ, Alírio Dantas, partiu da preocupação que a direção da entidade com 30 anos de fundação  teve em como estimular a inteligência e a concentração dos alunos que estudam numa unidade escolar do governo baiano que funciona dentro da estrutura da associação. A escola de ensino fundamental Tancredo Neves ainda permanece dentro das instalações e atende, atualmente, cerca de 700 estudantes.

"Foi um xeque-mate na criatividade. Lembramos do xadrez que é conhecido como a ginástica da mente. Assim, fizemos um projeto inicial voltado para a modalidade e  apresentamos ao Ministério do Esporte que a acatou. Mais tarde, partimos para a confecção de jogos de damas, com o foco voltado  para a recreação", lembra Dantas.
 
Reciclagem
Atendendo a recomendação do Ministério do Esporte, a fábrica logo em seguida, passou a utilizar a matéria-prima reciclada. O principal produto utilizado na confecção das peças é o polipropileno, material encontrado em cadeiras, mesas de plástico e nas garrafas pet, que são moídas. Ao apresentarem-se no formato granulado, com carga de 18%, elas são consideradas de excelente qualidade.

O gerente de produção Aloísio Costa é um dos sete gerentes de produção. Ele pilota uma máquina injetora de xadrez na qual deposita a matéria prima granulada que passa por uma espécie de canhão que a derrete numa temperatura de 300 graus. Em seguida, o produto esfria na temperatura mínima entre 40 e 62 segundos, dentro de formas que comportam dois jogos de peças de uma única vez. As peças saem fixadas numa base e depois são descoladas e retiradas todos os excessos.

Para ele, o Pintando a Cidadania chegou em boa hora. "Porque gera renda e ajuda as famílias mais carentes", disse. Há cinco anos na produção de jogos esportivos, Aloísio garante ser eternamente gratificado.  "Antes eu trabalhava dia e noite como funcionário em uma fábrica de plásticos e borracha, com renda de um salário. Hoje recebo R$ 1.185,00 para sustentar decentemente a minha esposa e meus dois filhos", disse.

O corte dos tabuleiros fica por conta de profissionais como Joseene Pereira dos Santos, 28. Com uma régua nas mãos, ela corta milimetricamente a base dos jogos, numa medida de 47 x  49 centímetros. Casada e mãe de dois filhos, ela se diz satisfeita por trabalhar na fabrica.

"Antes eu atuava como funcionaria de material hospitalar por oito horas diária e um salário mínimo. Trabalhar no programa que funciona dentro da minha própria cidade é bem melhor. Além de seis horas de serviço e de receber um salário mínimo, ainda sobra tempo para acompanhar crescimento dos meus filhos e para estudar", revela. "Dentro do Pintando a Cidadania passei à agregar valor à profissão e a freqüentar curso técnico de marketing", justifica.

Depois de cortada o tablado, o material vai para a serigrafia onde recebe a pintura. Passado o processo, aqueles que não foram bem finalizados recebem pintura manual. Depois são secados. Quanto às peças, estas são embaladas cuidadosamente. O xadrez com 32 peças, a metade na cor branca e a outra, preta. Cada lado do jogo conta com oito peões, dois bispos, dois cavalos, uma rainha e um rei. "No mesmo processo de  confecção também passam as peças da dama, um yoyal de 32 peças, a metade branca e a outra preta. Tudo é embalado - peças, tabuleiro e uma cartilha feita pelo Ministério do Esporte - em garrafas do estilo cano preto, com cerca de 8 centímetros de diâmetro e 30 centímetros de altura. Toda a produção é encaminhada para a pasta que a distribui para escolas públicas do país.