Ministério do Esporte Aprendizado para homem branco
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Aprendizado para homem branco

Clima de festa. Festa bonita, com homens e mulheres pintados. Mulheres que carregam filhos no colo. E os fartam com o leite forte que jorra do peito. Sem vergonha de mostrar os seios. Homens que mostram virilidade carregando enormes pedaços de madeira. Festa de índio. Na melhor tradução. E com o que há de mais belo na sua cultura. Ritual sagrado de um povo. Os IV Jogos dos Povos Indígenas, realizados no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, viraram mais que atração esportiva. Viraram celebração de vida. Celebração de uma gente que luta para resistir - hoje não são mais que 350 mil - e provar que pode ser mais que figura exótica em cartão postal. Arquibancada cheia. Pelo menos duas mil pessoas no Parque das Nações Indígenas, na tarde de ontem (21). Homem branco e índios sentados para assistir às competições de Arco e Flecha, Zarabatana e Corrida de Tora. Homem branco sentado para ver o que índio sabe fazer. Índio ávido para demonstrar o que praticamente nasceu fazendo. Vendo tudo de longe, Neusa da Silva, de 42 anos, não perdia um só detalhe da prova de arco e fecha. Da tribo Ofayé, lamentava por ter pouco representante da sua etnia nos IV Jogos. "A gente é pouco aqui. Vim com meus dois filhos e minha nora", disse. "Meus filhos vão nadar", contou, sem esconder o orgulho. "Se eles nadam bem? Ah, nadam sim. Desde menino". Preparando-se para competir, Dário, de 19 anos, da tribo Yanomami, não se continha de ansiedade. "É a primeira vez que participo dos jogos. Vou acertar no olho do peixe", prometeu ele, referindo-se à competição de Arco e Flecha. Na prova, o objetivo é acertar exatamente o olho do animal. Sinal de pontaria certeira. Na aldeia, sinal de alimento e fartura. "Na aldeia, a gente usa a fecha para caçar peixe, tatu, tartaruga e até cutia", explica o Xavante Tobias, de 27 anos. A competição começa. Índios dão show de pontaria. Mas a torcida do homem branco, implacável, não perdoa erros de alguns competidores, que não conseguiram acertar o alvo. Homem branco vaia. Índio não consegue entender o que isso representa. Melhor assim. Índio continua e acerta mais uma vez. Quando erra, fica em silêncio. Abaixa a cabeça. Adversários cumprimentam-no, como sinal de apoio. Homem branco, sentado na arquibancada, assiste a essa demonstração de solidariedade. Melhor rever o conceito de civilização que homem branco tanto se orgulha. Depois da prova de Arco e Fecha, a tribo Matis apresentou a Zarabatana, prova que tem como objetivo acertar, com um cano longo feito de madeira, uma melancia pendurada a um tripé e posicionada a 30 metros do alvo. No final, o show da tarde, com a Corrida de Tora. Homem branco torceu. Finalmente aprendeu a aplaudir. Índios e índias, de todas as idades e preparos físicos, carregam pedaços de madeira nas costas. Na aldeia, os pedaços de madeira chegam a pesar 100 quilos, para competição entre homens, e 50 para mulheres. Na aldeia, a equipe que perde a competição chora. Depois, canta. É um cântico triste. "Perder é triste mesmo. A gente chora", desabafa o Xavante Modesto, 35 anos. Os que ganham a Corrida de Tora festejam abraçados. Aqui, como foi apenas uma demonstração para homem branco, tudo acabou em canto alegre. Tudo acabou num show de confraternização. Como é, na verdade, a essência desse jogos. Assistindo àquela manifestação natural e espontânea, homem branco aplaudiu. Ficou de pé na arquibancada. Talvez homem branco tenha entendido, usando toda civilidade, que índio realmente não compreende vaia. Até o final desses jogos, talvez homem branco ainda possa aprender muito com o índio. Assim, da forma mais simples que alguém pode ensinar.
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