Ministério do Esporte Sonho de uma índia
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Sonho de uma índia

O jogo nem havia começado. Janaína, índia da tribo Bororo, estava inquieta. Ansiosa. Andava de um lado para o outro. Amarrava os longos cabelos, já castanhos e castigados pela ação do sol. Conversava com as colegas. Procurava encorajá-las. Corria no campo para se aquecer. Calçou o tênis e o meião surrados. Não via a hora do início da partida contra a tribo Gavião. Sabia que, se perdesse hoje (25), não disputaria a final amanhã (26). Aos 16 anos, Janaína "que na aldeia é conhecida como Iwarare Ekureudo "tem um sonho: ser jogadora de futebol. Janaína, na verdade, tem muitos sonhos. Nasceu na aldeia de Meruri, a 120 quilômetros de Barra do Garça, em Goiás. Vive ali com os pais e seis irmãos. Estuda graças ao trabalho dos missionários. Chegou à quinta série. Sabe ler e escrever corretamente. Na oca, construiu um mundo particular. Um mundo que é só dela. Admira alguns homens brancos. Queria conhecer os jogadores Ronaldinho Gaúcho e Marcelinho Paraíba, seus maiores ídolos. Ouve o cantor Leonardo, num velho gravador que hoje faz mais barulho que toca música. Mas ela insiste. Adora suas canções. "Elas falam de amor", diz, encabulada. E, assim, com tudo que povoa sua imaginação, dorme sonhando com um mundo muito distante de onde vive. Às vezes, acorda no meio da noite. E volta a sonhar. Janaína é bonita. Tem cara de menina. Jeito de menina. O sorriso, que deixa à mostra dentes perfeitos e encanta o interlocutor, sai naturalmente. A índia Bororo é assim: espontânea. Até mesmo falando dos seus mais secretos sonhos. "Queria jogar num time de verdade. Virar profissional. Talvez eu vá treinar num time em Goiânia. Só falta meu pai deixar", diz. E admite, olhando para as colegas da tribo que se aqueciam para a partida: "Gosto da aldeia onde moro, mas queria viver um pouco na cidade grande". O jogo começa. A lateral direita sabe o que faz. Lidera as companheiras. Corre. Apóia o ataque. No meio da partida, resolve tirar o tênis e o meião. Fizeram calos nos pés. Descalça, joga melhor. Voa no gramado. Dá bicicleta. Ela sabe o que faz. Inevitavelmente, arranca aplausos da torcida.Fim do jogo. A tribo Bororo ganha de 2 X 0. Janaína sai do campo aos pulos. Abraça as amigas. Ela está feliz. "Felicidade pra mim é também ganhar uma partida de futebol", confessa, com os olhos marejados. No sábado (27), Janaína voltará a sua tribo. Voltará à mesma oca. Ouvirá o cantor sertanejo Leonardo no velho gravador enferrujado. E assistirá na televisão, que tem na aldeia, ao programa do maior ídolo, o trapalhão Didi, Renato Aragão. "Se pudesse ia dar um abraço nele. Ele faz a gente rir..." Quando era pequena ouvia histórias sobre o assassinato de um padre que defendia sua gente. "Meu pai contou que homem branco matou o padre só porque ele lutava pelos direitos do índio", diz. E reflete, com bastante maturidade para pouca idade: "Tem homem branco que não gosta da gente. Faz mal pra índio até hoje. E a gente nunca fez mal a ninguém". Na cabeça da menina-índia de 16 anos, muitos sonhos. Muitos planos. Todos possíveis. Todos realizáveis. Na verdade, Janaína só quer mesmo ser feliz. "O que é felicidade pra mim? É ter minha mãe, meu pai e meus irmãos do meu lado. Todo mundo com saúde". Marcelo Abreu
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