Ministério do Esporte Saudade na hora de partir
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Saudade na hora de partir

Hora de arrumar sacos. Desarmar e amarrar redes. Fazer trouxas. Os IV Jogos dos Povos Indígenas, em Campo Grande, chegaram ao fim. Nas ocas, silêncio. Sensação de partida mesmo. Uma ou outra rede ainda pendurada. Um radinho solitário ligado num canto. Uma peça de roupa secando no sol. Definitivamente, hora de voltar à aldeia. Passeando pelo Parque das Nações, pouco antes de embarcar, a índia Rikbatsa Ivaneide, de 15 anos, olhava a arena vazia. Sentou-se na arquibancada. E pensou nos sete dias que marcaram e provavelmente mudaram sua vida. "Vou sentir saudade", diz a menina, com ar pensativo. "O que é saudade? É lembrar de coisa boa". Não podia haver resposta mais verdadeira. Sozinha, Ivandeide deixou a arquibancada. Precisava pegar o ônibus que a levaria a Mato Grosso. Uma longa viagem. Longe da arquibancada central, Suturiane Pataxó, de 25 anos, arrumava as últimas peças do artesanato que trouxe para vender. Moradora de Coroa Vermelha, no Sul da Bahia, Suturiane é a líder das mulheres da aldeia, uma espécie de vereadora local. Na bagagem, além do artesanato, a índia guardou boas recordações. "Conheci a etnia Tembé. Eles são muito carinhosos". E fez um desabafo: "Foi bom também para que as outras etnias, que tinham preconceito contra a gente, nos vissem de outras maneiras. Vissem que estamos fazendo trabalho de resgate da nossa cultura". A líder Suturiane, que estudou até o segundo grau, tem planos para o futuro: Vou estudar pro vestibular de Direito. Alguém tem que lutar pelo nosso povo". Antes de pensar mais seriamente nisso, tinha algo mais urgente para fazer. Recolher o que não vendeu e partir. Até Coroa Vermelha muita estrada pela frente. Nas ocas, o clima foi de despedida. Os Guató, evangélicos, tocavam violão. Luiz Carlos, de 19 anos, mesmo com o braço esquerdo quebrado, em decorrência de uma partida de futebol dos IV Jogos, animava os índios. Sentados na porta da oca, a música era cantada alegremente. Falava de Jesus e no bem que ele faz em quem nele acredita. Os índios de outras etnias, mesmo sem entender o que os Guató cantavam, ouviam em silêncio. O Guató Zaqueu, de 28 anos, puxava a canção. "A melhor coisa que aconteceu nesses jogos foi conhecer nosso parentes", avaliou. Com pureza e sinceridade impressionantes, respondeu ao repórter o que era saudade. A voz saiu pausada: "Saudade é ter lembrança de alguém e saber que a pessoa vai estar dentro do nosso coração". Em seguida, emocionou ainda mais toda aquela gente que o acompanhava nas canções: "Saudade também dói. A dor é porque a pessoa vai tá longe". Zaqueu e seus 40 "irmãos" da aldeia seguiram de ônibus até Corumbá, em Mato Grosso. Depois, num barco, viajaram por mais 40 horas até chegar à aldeia. "Lá, a gente vai fazer um grande culto na Casa da Oração", prometeu. Na oca dos Parecis, habitantes de Tangará da Serra, em Mato Grosso, Elisabeth, de 19 anos, pintava o rosto do índio Valdeci, 21. "A gente chegou pintado e tem que voltar pintado. É pintura de dia especial", explica ele. Perguntado sobre o que mais gostaram nos jogos, Elisabeth e Valdeci foram unânimes: "O melhor foi conhecer os Enawene- Nawe. Eles são alegres e estão sempre rindo, apesar de não entender português". Cada um dos índios que participou dos IV Jogos voltará para sua aldeia com uma história para contar. Seja ela qual for. Histórias de homem branco. Histórias de sua gente. Histórias deles mesmos. Uma coisa ficou bem clara. Saudade, apesar da língua, da cultura e de qualquer outra coisa, é, sim, universal. Basta apenas saber senti-la. E é isso que os índios levaram, também, na bagagem. Só isso já teria valido a pena. MARCELO ABREU
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