Nem sempre foi fácil a vida da estudante Renata dos Anjos de Jesus, 15 anos. Muito pelo contrário, era cheia de sacrifícios. Quando criança, ela e o irmão mais velho, Ronei, ajudavam no sustento da família. Para comprar "mistura" catavam papelão e latinhas de alumínio nas ruas de Praia Grande, em São Paulo. Há seis anos ela entrou para o Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil (Peti) e conheceu o Navega SP, projeto patrocinado com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte. O desempenho da jovem  canoísta é a prova de que talento é uma questão de oportunidade.

Em outubro do ano passado, Renata emplacou o primeiro lugar do pódio no Campeonato Brasileiro de Canoagem de 2011. O evento foi em Angra dos Reis (RJ). Mas a proeza da garota prodígio não parou por aí. Poderia até ser uma disputa regular do esporte, se não fosse o fato de a menina concorrer na categoria sênior, com canoístas na faixa etária de 15 a 24 anos.

Não bastasse o ouro no brasileiro de canoagem, Renata de Jesus continuou surpreendendo a todos com outras conquistas. Além de primeiro lugar no Campeonato Paulista, foi vice-campeã nos Jogos Abertos do Interior.

O esporte mudou para melhor o perfil da menina, que antes era muito tímida. Por causa da baixo autoestima e mesmo adorando a canoagem, ela chegou a faltar, por muitas vezes, às aulas do Navega SP porque tinha dificuldades de relacionamento com os demais alunos. Hoje Renata é referência de amizade e de superação com os colegas. "Aquela garotinha encabulada não existe mais. Quando ela chega a nossa unidade é uma festa", conta Silvio Bello, coordenador do programa.

Renata conta até com fã clube. Hoje a aluna é chamada carinhosamente de "Renatinha Fashion", apelido dado por Bello, que também foi professor de canoagem da garota. O codinome tem explicação. "Em cada aula, há uma produção especial da canoísta, que sempre chega com um largo sorriso no rosto e se apresenta com um penteado diferente, unha pintada, brincos na orelha e levemente maquiada", revela o educador.

Olimpíadas Rio 2016
Entre os planos da canoísta não poderia faltar o sonho olímpico. "Quero erguer a bandeira brasileira nos Jogos Olímpicos de 2016 porque à época estarei com a idade de 19 anos. Se eu continuar nesse ritmo de vitórias, acredito que consiga integrar a equipe principal de canoagem do Brasil", planeja.  

Quanto à vida em família, a adolescente reconhece as melhorias que o trabalho do Peti e do esporte proporcionaram. "Se eu não tivesse saído das ruas e entrado para a canoagem, meu pai Jaiton dos Anjos não estaria trabalhando como zelador de prédio e a gente, nem minha mãe, não teríamos tranquilidade para cuidar em casa dos meus irmãos menores e nossa vida não estaria tão diferente", admite a alteta, ao ressaltar o orgulho que sente do irmão Ronei, hoje com 21 anos, que também trabalha e também divide as despesas de casa.

O Navega SP oferece aulas gratuitas de remo, vela e canoagem para 700 crianças e adolescentes. Seu foco é a educação e a inclusão de crianças carentes. "A competição é apenas uma das ferramentas pedagógicas no trabalho de formação do cidadão por meio de esportes náuticos", explica o coordenador Silvio Bello.  

Projeto esportivo incentivado
O Navega SP tem a execução técnica do Clube de Natação de Maratonista (Cnam). A Lei de Incentivo ao Esporte conta com apoio de três empresas que totalizam uma doação/patrocínio de cerca de R$ 2 milhões. Entre as instituições que colaboram com o desenvolvimento e o fortalecimento do esporte nacional estão a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e Imprensa Oficial de São Paulo (Imesp).

 
Carla Belizária
Foto: Divulgação
Ascom - Ministério do Esporte
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