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Pedro Gonçalves, o Pepe, garante vaga olímpica na canoagem slalom
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- Publicado em Segunda, 13 Junho 2016 18:55
O último fim de semana rendeu mais uma vaga para o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Pedro Gonçalves, o Pepe, garantiu a classificação para o K1 Masculino durante a 2ª Etapa da Copa do Mundo de Canoagem Slalom, em La Seu d’Urgell, na Espanha.
O atleta garantiu a segunda colocação entre os brasileiros no evento, mas mesmo com esse resultado o canoísta conseguiu assegurar sua participação nos Jogos do Rio, em agosto. “Depois de tanto tempo lutando eu consegui!”, comemorou Pepe. Ricardo Taques foi o melhor brasileiro no K1 Masculino em La Seu d’Urgell, terminando em 36º (104.14s) na disputa da semifinal. Pedro Gonçalves, Renan Soares e Guilherme Mapelli pararam nas classificatórias.
Ana Sátila avançou à semifinal no K1 Feminino e terminou em 7º lugar depois de uma descida sem penalidades. “Consegui diminuir duas posições da primeira para a segunda etapa” comenta a canoísta, que em Ivrea, na Itália, na 1ª Etapa da Copa do Mundo, tinha conquistado o 9º lugar.
Charles Corrêa e Anderson Oliveira, no C2 Masculino, chegaram à semifinal, mas com o tempo de 109.67 segundos eles ficaram somente na 15º posição, o que os deixou de fora da final. Já a dupla Welington Munhoz e Cassiano Alfredo não passaram das classificatórias.
No C1 Masculino, a briga pela vaga olímpica está quase definida. Felipe Borges fez o melhor tempo na segunda descida das classificatórias entre os brasileiros, com 104.88 segundos, e Leonardo Curcel ficou em segundo, com 104.98s. Charles Corrêa, que teria chances de alcançar Borges, ficou em terceiro, com 111.40s.
Com esses resultados, Borges precisa só garantir uma participação na 3ª Etapa da Copa do Mundo, em Pau, na França, para ficar com a vaga do C1 Masculino nos Jogos Rio 2016. “Estou confiante. Ainda prefiro esperar oficialmente”, disse o atleta.
K1: uma vaga disputada e sonhada
Em 2012, o canoísta Pedro Gonçalves achava que o “mundo havia acabado” em 13 centésimos de segundos. Esse foi o tempo que tirou de Pepe a vaga nos Jogos Olímpicos Londres 2012 e deu a classificação para o canadense David Ford. “Eu vi a vaga pular nas minhas mãos” comentou o brasileiro.
Quatro anos mais tarde, os centésimos perseguiram o jovem atleta, durante a Seletiva Nacional, realizada em abril. Em uma disputa acirrada, ele foi o melhor por apenas 25 centésimos, ficando à frente de Ricardo Taques na disputa. “Foi emocionante. Mas vi que a briga estava em aberto” declarou.
Pepe percebeu que a vaga não viria facilmente e que pequenos erros precisavam ser corrigidos. Nas duas etapas da Copa do Mundo, ele fez sua parte e garantiu sua primeira participação nos Jogos Olímpicos.
Natural de Piraju (SP), Pepe saiu de casa em busca de crescimento esportivo com apenas 16 anos. Ele se mudou para Foz do Iguaçu e hoje é um dos símbolos da sua cidade natal, ao lado da dupla Charles Corrêa e Anderson Oliveira.
Agora, Pepe tem dois sonhos: “Quero conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio e torcer para que meu esporte seja mais conhecido e reconhecido no cenário nacional, a começar por minha cidade, que tem talentos incríveis para serem explorados”, afirmou.
As atenções agora vão se voltar para Pau, na França, onde será disputado, no próximo fim de semana, de 17 a 19 de junho, a 3ª Etapa da Copa do Mundo de Canoagem Slalom.
» Equipe Brasileira na 2ª Etapa da Copa do Mundo de Canoagem Slalom, em La Seu d’Urgell, na Espanha:
Atletas
(K1F/C1F) Ana Sátila
(C2) Anderson Oliveira e Charles Corrêa
(C2) Cassiano Alfredo e Wellington Munhoz
(C1M) Felipe Borges
(C1M) Leonardo Curcel
(K1M) Guilherme Mapelli
(K1M) Pedro Gonçalves
(K1M) Renan Soares
(K1M) Ricardo Taques
Equipe Técnica
Ettore Ivaldi
Guille Diez-Canedo
Jordi Domenjo
Diorgines Antunes
Antônio Carlos Pinto
Fonte: Confederação Brasileira de Canoagem
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- Publicado em Segunda, 13 Junho 2016 17:00
Barcelona 1992: E o vôlei enfim chegou lá
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- Publicado em Segunda, 13 Junho 2016 16:35
Era verão na Europa. E o ginásio de Montjuïc, em Barcelona, fervilhava por conta de um calor bem diferente naquele 26 de julho de 1992. Diante da Coreia do Sul, a Seleção Brasileira masculina de vôlei, depois de dois sets equilibrados, vencidos por 15/13 e 16/14, se impôs na terceira etapa e fechou o duelo, o primeiro do time naquela edição dos Jogos Olímpicos, com um placar mais confortável: 15/7.
Do lado de fora da quadra, o paulista José Roberto Guimarães havia acompanhado tudo com uma perturbadora angústia, um sentimento incômodo que só foi embora quando o time finalmente marcou o 15º ponto no terceiro set. Emocionado e sentindo que havia tirado um peso das costas, Zé Roberto percorreu as arquibancadas com os olhos e, depois, foi comemorar o triunfo de seu time de uma maneira que ele jamais esqueceu.
“Esse foi um jogo para mim épico, porque eu estava muito nervoso, muito ansioso. Eu estava ávido por um resultado positivo”, conta o treinador. “E quando esse jogo termina, a minha mulher estava no ginásio e eu vou cumprimentá-la. Eu chorava que nem criança. Na minha cabeça, eu pensava: ‘Nós já estamos classificados para a outra fase. Nós já não estamos fora. Pelo menos entre os oito times do mundo a gente já está’. Olha como é que estava funcionando a minha cabeça... A gente saiu do Brasil pelo menos para tentarmos ser quarto colocado” prossegue Zé Roberto.
O que nem ele e muito menos nenhum dos jogadores ou qualquer pessoa na comissão técnica podia imaginar era que a vitória sobre os sul-coreanos representava o início de uma caminhada sem precedentes para o vôlei brasileiro. Ali começava uma trilha que consagraria o Brasil na Espanha e transformaria o treinador e aqueles jogadores em ídolos do esporte nacional.
Nascido em 31 de julho de 1954, na pequena cidade de Quintana, no interior de São Paulo, Zé Roberto tinha todos os motivos para se sentir pressionado em Barcelona. Oito anos antes, em Los Angeles 1984, a Seleção Brasileira masculina de vôlei havia chegado à final dos Jogos Olímpicos e conquistado o maior resultado da modalidade para o país até então. A chamada geração de prata, com nomes como William, Renan, Montanaro e Cia., arrebatara uma legião de fãs e tinha transformado o vôlei em uma paixão nacional.
Tanto em Los Angeles 1984 quanto nos Jogos Olímpicos de Seul 1988, quando a Seleção masculina terminou em quarto lugar, o Brasil tinha no comando um técnico extremamente respeitado e conceituado internacionalmente: Bebeto de Freitas. Agora, na edição espanhola dos Jogos Olímpicos a situação era completamente diferente.
Em Barcelona, Zé Roberto – que como levantador havia disputado os Jogos Olímpicos de Montreal 1976 – experimentava seu batismo de fogo como técnico. Aos 37 anos, e ainda no começo da carreira como treinador, ele fora surpreendido, em 1992, já no ano olímpico, com o convite para assumir o comando do time brasileiro. Aceito o desafio, ele havia preparado a equipe de uma maneira inovadora, quebrando paradigmas em treinos e testando novas formas de atuar em quadra. Uma aposta ousada, que resultaria em uma recompensa inimaginável.
“A minha história na Seleção Brasileira de 1992 começa em 1989, quando o Bebeto me chama para ser o assistente técnico dele. Eu fiquei dois anos, 89 e 90, até o Mundial do Rio de Janeiro. O Mundial do Rio de Janeiro acaba e o Bebeto resolve ir para a Itália e aí a comissão técnica da Seleção Brasileira é desfeita, assume um outro técnico em 1991, e a minha carreira estava toda ela sendo já traçada para as seleções de base”, lembra o treinador.
“Eu já era técnico da Seleção infanto e juvenil do Brasil e tinha disputado dois campeonatos mundiais e sido vice-campeão nas duas competições. Aí as coisas com o Brasil não vão tão bem no Pan-Americano (de 1991, em Havana) e o Nuzman me chama e me faz o convite para ser o técnico da Seleção na Olimpíada”, prossegue o treinador, referindo-se a Carlos Arthur Nuzman, à época presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e hoje presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Rio 2016.
“Lógico que para mim foi um susto ser convidado para um evento da magnitude dos Jogos Olímpicos, da responsabilidade que são os Jogos Olímpicos. Eu demorei um pouco para responder e quando eu respondo já começo a pensar na comissão técnica. Aí a gente monta com o Julinho, com o Matias e com o Marcos Miranda e a gente começa o treinamento”, detalha Zé Roberto.
Desconfiança
No início do trabalho que levaria o Brasil à glória em Barcelona, o treinador teve que superar alguns obstáculos que acabaram sendo determinantes para a conquista do ouro na Espanha. O primeiro, como era de se esperar, foi a desconfiança dos atletas.
“Eu já via que era um grupo talentoso. Eu era um dos que tinha trabalhado no sistema defensivo, que era a incumbência que o Bebeto tinha me dado. Então, eu já conhecia esses jogadores, já tinha jogado contra alguns deles (na época em que atuara como levantador) e isso me ajudou também com esse conhecimento”, lembra.
“Quando começa o treinamento, lógico que eu via nitidamente nos olhos desses jogadores que eles não acreditavam muito na proposta de trabalho. Mas eles não acreditavam muito porque além de eu ser um técnico jovem, eu estava substituindo um dos melhores técnicos do mundo, que era um técnico que tinha estado com eles durante anos”, continua.
“Como técnico, eu tinha pouquíssima experiência. E lógico que tinha essa desconfiança, porque uma coisa é você ser assistente-técnico e outra coisa é você assumir a responsabilidade de um técnico no treinamento”, prossegue Zé Roberto.
“Ao mesmo tempo, na minha cabeça, eu tinha toda uma filosofia de trabalho que eu tinha aprendido com vários técnicos que foram importantes na minha carreira e nos últimos dois anos que eu tinha ficado com o Bebeto e com o Jorge Barros. Aí eu trago essa filosofia e, juntamente com o Marcos Miranda, que era o assistente-técnico, a gente bota isso em prática. E as coisas começam a acontecer”, conta o treinador.
“Uma das coisas que eu aprendi durante esses anos era fazer diferente, não copiar, não ter sempre o mesmo padrão. Ou seja, tentar aproveitar as melhores características dos jogadores que você tem como grupo. E foi isso o que a gente tentou fazer. Nós tínhamos jogadores super versáteis e que a gente poderia fazer, com esses jogadores, algumas mudanças táticas que poderiam revolucionar o voleibol do mundo. E na realidade foi isso o que aconteceu. Quando o time começa a treinar em um ritmo muito forte e começa a jogar com as melhores seleções do mundo, o time começa a chamar a atenção em alguns detalhes”, frisa Zé Roberto.
O fantasma de Cuba
O primeiro desafio de peso que Zé Roberto encarou com o Brasil foi a Liga Mundial em 1992, em geral um termômetro do que o planeta pode esperar em anos de Jogos Olímpicos. A competição caminhava para sua fase decisiva quando a Seleção Brasileira se viu diante de um fantasma que havia muito assombrava a equipe: Cuba.
Nas rodadas anteriores, o Brasil tinha feito uma campanha apenas razoável, tendo disputado 12 jogos e perdido cinco: um para a Coreia do Sul e todos os quatro duelos diante da Itália. Mas então, contra os cubanos, algo marcante aconteceu. Um momento esperado por muitos anos e que fortaleceu a Seleção Brasileira de uma maneira fundamental para o que estava por vir em Barcelona.
“O time faz uma trajetória normal (na Liga Mundial), mas melhorando, até o dia em que a gente vai jogar com Cuba. Isso faltava mais ou menos um mês para os Jogos Olímpicos. E já tinha oito anos que o time do Brasil não conseguia vencer o time de Cuba”, recorda Zé Roberto. A seguir, ele narra uma passagem que ficou para sempre gravada em sua mente:
“Dois a dois, 11 a 8 para nós (no quinto set), e acontece um lance nesse jogo onde a gente saca, o time de Cuba, através de um jogador chamado Sarmento, recebe, só que a bola vem para o nosso lado com uma bola que nós chamamos de xeque, de graça. O Carlão ataca e o levantador cubano está infiltrando. Quando o levantador cubano viu o Carlão pulando e ele não teve tempo de pular e viu o Carlão já na bola, ele puxa a rede por baixo. Quando ele dá esse toque na rede por baixo, eu levanto do banco e vou bater na rede, dizendo que ele tinha puxado, tentando mostrar para o juiz, mas não adianta. O juiz dá mão na rede do Carlão”, recorda.
“Eu fiquei alucinado e atravessei a quadra para o lado de Cuba e fui fazer alguns elogios para a mãe do levantador, que era o Diago (jogador que foi por muitos anos o capitão de Cuba). Quando os caras me viram fazendo isso, todo mundo veio correndo na minha direção. Amauri, Renan, Carlão... todo mundo veio me tirar daquela confusão. Eu tomo cartão vermelho, Cuba faz mais um ponto, vamos a 11 a 10, e aí os ânimos se acalmam. Eu sento no banco de novo e nisso veio o saque de Cuba. Eu nunca vi o Giovane saltar tanto na minha vida. A bola seguinte ele derrubou, botou no chão, e a gente fez o 12º. Na bola seguinte de Cuba, a gente consegue um contra-ataque e ele bate de novo, derruba, e a gente faz o 13º ponto. E aí, em um bloqueio, vem o 14º ponto. Depois Cuba consegue virar, faz o 11 x 14, e a gente fecha o jogo ganhando de Cuba em um jogo épico. Dois dias depois, a gente jogava de novo com Cuba e ganhamos. E aí o time começou a sentir que dava”, conta Zé Roberto, referindo-se à possibilidade de conquistar um bom resultado nos Jogos Olímpicos.
Os triunfos sobre os cubanos representaram um divisor de águas para o Brasil semanas antes dos Jogos Olímpicos. Os próximos desafios na Liga Mundial seriam contra os Estados Unidos e esses últimos dois confrontos serviriam para confirmar que a Seleção estava no caminho certo rumo ao que a esperava em Barcelona.
“A gente vai jogar nos Estados Unidos e chegamos no dia 4 de julho (feriado do Dia da Independência). Nada funcionava. Não conseguimos treinar, foi um caos. Só conseguimos treinar no dia 5 e jogávamos no dia 6. Perdemos o jogo. Depois, jogamos no dia 8. Quando vamos treinar, no dia 7, o time estava voando, esmurrando a bola, já entrando no astral do jogo. A gente ganha dos Estados Unidos por 3 a 0, mas a gente não se classifica para a fase final (da Liga Mundial). A gente fica em quinto. Mas só que ali a gente nós éramos outro time”, frisa Zé Roberto.
Cortes e caixinha
Passada a Liga Mundial e já com as indicações de que ele tinha uma equipe com os ânimos renovados para trabalhar, Zé Roberto se viu diante de um novo momento de desconforto pelo qual todo o treinador tem que passar antes de grandes torneios: a definição do grupo, o que sempre implica em dispensar alguns atletas.
“Foi difícil. Todos os cortes foram difíceis. A gente começou a trabalho com 18 jogadores e aí tivemos que diminuir a lista até chegar em 14. Os dois últimos cortes foram muito complicados, que foram exatamente o Kid e o Claudinei, dessa geração. Mas só podiam ir 12 jogadores e foi o que aconteceu”.
Com o grupo dos Jogos Olímpicos de Barcelona formado por Maurício, Talmo, Marcelo Negrão, Janelson, Jorge Edson, Tande, Giovane, Paulão, Pampa, Douglas Chiarotti, Amauri e o capitão Carlão, Zé Roberto começou os trabalhos voltados para as Olimpíadas. E aí entrou em cena outra inovação.
“Na realidade, esse time tinha muitas regras. Nós tínhamos a caixinha, que funcionava para atraso, uniforme... Para tudo o quanto é horário que você possa imaginar, de café da manhã, almoço e jantar, tinha uma caixinha a ser paga para quem atrasasse. Do treino, do uniforme... Eu cheguei a colaborar, se não me engano, com 280 reais na caixinha. Quem mais pagou a caixinha foi o Carlão”, entrega.
“Mas era uma coisa que funcionava porque acabava mexendo com todo mundo, porque ninguém queria atrasar. Quem atrasasse era sacaneado pelo grupo e então acabou que mobilizou o grupo inteiro em função de uma regra de caixinha porque nós não queríamos mais nos desgastar. Quem era o responsável pela contabilidade da caixinha era o Pampa. Que fim levou esse dinheiro eu não sei. Eu sei que uma parte foi roubada nos Estados Unidos em um assalto que teve no nosso hotel antes dos Jogos Olímpicos. E ela continuou até as Olimpíadas. E nós nunca tivemos problemas por causa dela. Em relação a horário todo mundo cumpria à risca. Era bem engraçado até”, prossegue.
E foi assim – com um grupo confiante pelas vitórias sobre Cuba e Estados Unidos na Liga Mundial e cada vez mais comprometido nos treinamentos com medo dos gastos com a caixinha – que o Brasil entrou em quadra naquele 26 de julho de 1992 para estrear com vitória sobre a Coreia do Sul nas Olimpíadas de Barcelona.
Rússia e Holanda
O segundo compromisso do Brasil nos Jogos Olímpicos de 1992, no dia 28 de julho, foi contra a chamada Equipe Unificada, formada por países da antiga União Soviética, cujo bloco comunista havia se dissolvido no ano anterior.
No vôlei, a Equipe Unificada era apenas um nome diferente para a Rússia e é esse o adversário que Zé Roberto se recorda quando comenta a vitória do Brasil por 3 x 1, com parciais de 15/6, 15/7, 9/15 e 16/14.
“Foi um 3 a 1 em um ginásio que não era o principal e ali tinha Oleg, Fomin, Kuznetsov... Era um senhor time. Era um timaço aquele time da Rússia. Quando a gente ganha esse jogo, o mundo começa a olhar para a gente de uma outra maneira. Foi uma vitória que a gente esperava um 3 a 2, esperava uma dificuldade, e logicamente que a gente estava em um apreensão muito grande pelo resultado. Aí o time começa a entrar em um patamar de jogo que a Rússia não conseguia acompanhar e aquilo chamou a atenção da gente. Nós estávamos com o time muito certinho. Muita gente atacando de várias posições, o bloqueio acontecendo, a defesa... Aí isso começou a chamar atenção para o nível que a gente estava”, analisa o treinador.
Com duas vitórias contundentes nos dois primeiros desafios olímpicos, a Seleção Brasileira partiu para o seu terceiro compromisso em Barcelona, no dia 30 de julho, desta vez diante da Holanda. O resultado foi um novo triunfo, desta vez por 3 x 0, com parciais de 15/11, 15/9, e com direito a um desconcertante 15/4 na última parcial, o que mudou a maneira como o Brasil passou a se ver naquela edição dos Jogos.
“Quando a gente vai jogar com a Holanda e eu vejo o time da Holanda entrando em quadra, já que a gente nunca tinha jogado com eles nem na Liga Mundial, eu olhei aquele time daquele tamanho e falei: ‘Meu Deus do céu.!’ Tinha um jogador de 2,16m. O levantador tinha 2,04m. O central era um dos menores do time e tinha 2 metros. Eu falei: ‘Nossa Senhora! Como é que nós vamos passar por esse bloqueio?’”, conta Zé Roberto.
“Começa o jogo e o nosso time jogando com muita velocidade, bom passe, e o time da Holanda com dificuldade na marcação. Vira daqui, vira de lá, e a gente ganha o primeiro set, ganha o segundo e aí, na hora que a gente ganhou o terceiro e ganha por três a zero de um time que era considerado um dos melhores do mundo, nós começamos a acreditar e ver as Olimpíadas de uma forma diferente”, continua.
A vitória sobre a Holanda colocou o Brasil nos holofotes e com três triunfos na conta os rivais começaram a atentar que o time de Zé Roberto, embora não tivesse se classificado entre os quatro melhores na Liga Mundial, não era uma equipe que deveria ser desprezada.
“Quando a gente começa a entrar na Vila (após o resultado diante dos holandeses), as pessoas começavam a falar: ‘Pô, os cruzamentos vão mudar... Tudo o que se esperava vai mudar’. Eu ouço isso do técnico da Itália e aí eu já começo a pensar que a coisa pode acontecer diferente. Mesmo assim, todos nós ainda mantínhamos os pés no chão. Ninguém pensava muito grande ou sonhava ainda em ser medalha de ouro”, ressalta Zé Roberto.
De novo, os cubanos
Dois dias depois de terem abatido a Holanda, o Brasil voltou à quadra, no dia 1º de agosto, para encarar mais uma vez a turma da ilha de Fidel Castro. Assim como o Brasil, Cuba vinha de três vitorias – sobre a Holanda, a Argélia e a Rússia. Portanto, aquela partida era um duelo de invictos em Barcelona. E mais do que isso, uma enorme rivalidade servia para tornar o duelo ainda mais interessante.
“Nós tínhamos ganhado os últimos dois jogos de Cuba, mas eram oito anos perdendo. Aí, o quarto jogo (nas Olimpíadas), contra Cuba, começa no mesmo diapasão. O time jogando melhor do que tinha jogado no Brasil, o time de Cuba sendo marcado muito bem, o Joel Despaigne (atacante) com dificuldade de virar, os dois centrais com dificuldade ali no centro, os ponteiros com dificuldade no passe e o time do Brasil virando com facilidade, principalmente nos contra-ataques”, detalha Zé Roberto.
“E aí a gente fecha o jogo por três sets a um (com parciais de 15/6, 15/8, 12/15 e 15/8) e praticamente ali era selado o primeiro lugar do grupo, porque nós tínhamos a Argélia pela frente, que era o próximo adversário”, encerra o técnico do Brasil.
Nos dois dias seguintes após a vitória sobre Cuba, Zé Roberto ocupou-se em segurar os ânimos de seus jogadores. A caminhada até ali tinha sido muito bem-sucedida, mas ainda havia um último compromisso na fase de classificação e era preciso evitar o perigo do deslumbramento.
No dia 3 de agosto, o Brasil encarou a Argélia em um confronto que não foi o passeio que muitos esperavam. “Aí vem aquela coisa do técnico, que vai para a preleção com aquela coisa de ter cuidado e com a euforia (dos jogadores) lá em cima e eu preocupado com a Argélia, que era franca atiradora e sem muito a perder”, lembra o treinador.
“O jogo com a Argélia começa com uma dificuldade, o time não joga, não vira, e a Argélia criando problema no nosso time. Aí eu começo a mudar. Também era a chance de dar oportunidade para outros jogadores. E nesse jogo começa a entrar o banco. Entra Pampa, Amauri, Talmo, Jorge Edson, e aí a gente consegue ganhar da Argélia por três a zero”, resume. O placar terminou com parciais de 15/8, 15/13 e 15/9.
Desse jogo, em particular, as memórias de Zé Roberto vão além do que aconteceu dentro de quadra. “Quando eu vou para a coletiva de imprensa, um dos repórteres que está no fundo da sala me pergunta: ‘Vocês não acham que vocês menosprezaram o time da Argélia?’ Rapaz, aquela pergunta parece que ferveu os meus miolos. Eu saí de mim, porque eu disse: ‘A gente está passando um sufoco aqui, fizemos o que nós fizemos até agora e a Argélia jogou muito bem’. Nosso time tinha dado uma baixada de adrenalina, mas não foi desrespeito pela Argélia, até porque nós tínhamos passado sufoco até aquele momento, apesar de termos ganho”, desabafa o treinador.
Japão nas quartas de final
No dia 5 de agosto, a Seleção Brasileira retornou ao ginásio de Montjuïc para disputar a primeira partida da fase de mata-mata. Nas quartas de final, o rival foi o Japão e agora não havia mais margem para erro. Ao perdedor restava fazer as malas e voltar para casa.
“Aí vem o cruzamento com o Japão e era sempre jogo difícil pela velocidade com que o Japão jogava, com um time que explorava muito o nosso bloqueio. E era um time que também tinha uma defesa muito eficaz”, analisa Zé Roberto.
“Mas a gente consegue passar pelo Japão por três a zero (parciais de 15/12, 15/5 e 15/12). O Japão tinha um jogador chamado Ohtake, que tinha 2,17m e era um cara que chamava muita atenção e que estava difícil de marcar. Até que o Jorge Edson entra em uma substituição em um momento de dificuldade e consegue tocar numa bola, a gente faz o contra-ataque e consegue fechar o set. Aí a gente classifica para a semifinal, para o jogo contra os Estados Unidos”, lembra o treinador.
O Brasil na semifinal
Superado o Japão, a Seleção Brasileira garantiu lugar na semifinal dos Jogos Olímpicos de Barcelona. Naquele momento, José Roberto Guimarães, os jogadores e toda a comissão técnica conquistaram a meta inicial, traçada quando o time deixou o Brasil.
“Quando a gente passou entre os quatro, a gente já tinha meio que cumprido o dever de casa. Não íamos passar vergonha. Nós iríamos voltar para casa pelo menos com o dever cumprido e com a meta alcançada. Mas nós não tínhamos tirado um peso. Tudo aquilo tinha dado uma euforia maior e, ao mesmo tempo, como nós tínhamos ganhado um jogo dos Estados Unidos e perdido outro, a gente sabia que podíamos jogar de igual para igual com eles e que era um jogo que a gente poderia ganhar”, conta.
Do outro lado do Atlântico, encantada com a maneira daquela Seleção jogar, a torcida brasileira estava cada vez mais confiante, embora, em Barcelona, nem Zé Roberto e nem os jogadores tivessem noção do que estava se passando no Brasil. Na terra do futebol, o vôlei estava cada vez mais em evidência pela expectativa de um sonhado ouro olímpico. Enquanto isso, na Espanha, o desafio, naquele momento, era lidar com a ansiedade por mais um duelo contra os Estados Unidos, que poderia garantir ao time, pelo menos, a medalha de prata.
“Aí vem a expectativa e a ansiedade na Vila. Os meninos já começam a dormir um pouco mal pela possibilidade (de chegar à final). A gente não tinha ideia do que estava acontecendo no Brasil, até porque não tinha internet ainda. Era só por telefone, por orelhão, e todo mundo ainda duro, então não tinha muita possibilidade de falar em casa”, conta o técnico.
O Brasil estava a um passo de repetir o feito da Seleção de 1984. Mas, àquela altura, mesmo com uma campanha tão significativa, a conquista do ouro ainda era, para todos, algo impensável. “Imagina... O Brasil tinha perdido em 88 (nos Jogos Olímpicos de Seul) e tinha perdido em 84 (Los Angeles, na final) para os Estados Unidos. Então ninguém pensava nisso de maneira nenhuma. Nas últimas competições nós tínhamos perdido para eles. Existia a possibilidade de a gente jogar de igual para igual com eles. Essa era a nossa ideia. Mas pensar em ser campeão olímpico jamais”, reforça Zé Roberto.
De novo na final
No dia 7 de agosto, a Seleção Brasileira masculina de vôlei mais uma vez entrou em quadra para brigar por um lugar em uma final dos Jogos Olímpicos. E aí entra em cena uma incrível coincidência.
No dia 8 de agosto de 1984, quase que exatamente oito anos antes, o Brasil havia enfrentado a Itália na semifinal masculina dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. O resultado foi uma vitória por 3 x 1, com a equipe do técnico Bebeto de Freitas tendo que se recuperar após ter perdido o primeiro set por 15/12.
Em Barcelona, a história do Brasil se repetiu exatamente da mesma forma. Se os italianos venceram o primeiro set em 1984 por 15/12, desta vez foram os Estados Unidos que aplicaram o mesmo placar na Seleção Brasileira na primeira parcial daquela semifinal olímpica. Mas, assim como ocorreu em Los Angeles, a recuperação foi rápida. E o time de José Roberto Guimarães fechou os três sets seguintes por 15/8, 15/9 e 15/12 para selar a vaga na decisão dos Jogos de 1992.
“Quando a gente começa, no primeiro set, que foi 15 a 12, nós erramos 13 saques. E na minha cabeça, do jeito como o time estava jogando e pela forma como o time estava se comportando, se a gente encaixasse um pouquinho mais o saque a gente tinha chances. Porque o time estava errando muito pouco e tinha equilibrado o jogo com os Estados Unidos”, recorda Zé Roberto.
“Aí a gente ganha o segundo set, o terceiro e o quarto. A gente ganha por 3 x 1. Quando a gente ganha aquele jogo e entra na zona de medalha, a gente já tinha repetido o melhor resultado do Brasil, mas sem boicote. Porque quando o Brasil foi vice-campeão houve o boicote (dos países do bloco soviético, que não disputaram os Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, por conta da guerra fria) e a Rússia não tinha jogado. Ali a gente já tinha feito história dentro dos Jogos Olímpicos e dentro do voleibol do mundo”, ressalta o técnico.
Um treino decisivo
O que um treinador estreante nos Jogos faz quando sua equipe, contrariando as próprias expectativas, avança a uma final olímpica? José Roberto Guimarães se lembra muito bem das medidas que tomou após o sucesso diante dos Estados Unidos.
“A minha única preocupação era manter tudo aquilo que a gente tinha feito até então. Eu sou muito pé no chão nesse sentido. Eu não queria que o time tivesse um outro deslumbramento, tivesse um outro foco ou que o time se achasse (melhor do que era)”, explica. “Então, a única coisa era manter os rituais, manter a concentração, evitar ao máximo o contato com a imprensa, porque depois que a gente começou a passar (de fase) a gente começou a ser mais frequentado, mais assediado, porque antes a gente não era. E aí começa a ter uma euforia muito grande”.
Felizmente, não era apenas Zé Roberto que pensava assim. “O grupo logo assimilou. Eles mesmos já estavam fechados nessa situação de continuarem fazendo as mesmas coisas. A gente manteve os mesmos rituais, de chegar do treino e dar um mergulho na praia que ficava na Vila, a gente almoçava e jantava junto, então a gente conservou os mesmos rituais desde o início. Mesmo depois de ter ganhado dos Estados Unidos e ter passado para a final a gente não alterou absolutamente nada”, revela.
No dia 8 de agosto, um novo episódio marcante para José Roberto Guimarães se passou em quadra. Desta vez longe dos holofotes da imprensa. Para ele, aquela experiência surgiu quase que como uma epifania.
“No dia seguinte (à vitória sobre os Estados Unidos), a gente vai treinar e lógico que tem uma euforia no ar. Mas ali a gente treina 45 minutos para jogar contra a Holanda, que tinha ganhado de Cuba, e quando eu vejo aqueles 45 minutos de treino teve uma particularidade. Eu parei o treino antes do final. Ou seja: nós estávamos programados para treinar uma hora, uma hora e quinze. Quando deu 45 minutos eu disse: ‘Para, para, para...’ E os caras: ‘Tá maluco? Parou o treino? Você sempre treina a mais? O que está acontecendo?’ E eu disse: ‘Eu não preciso ver mais nada. Eu já vi o que eu queria ver. Não preciso mais ver. Agora nós temos só que descansar, concentrar e o mais importante é que ninguém se machuque. Vamos para o jogo! Estamos prontos!’”
Uma noite diferente
Encerrado o último treino antes da final, Zé Roberto experimentou pela primeira vez a estranha sensação de espera que todos os que avançam a uma decisão olímpica são forçados a viver na noite que antecede o momento de brigar pela medalha de ouro. E ele não demorou a descobrir que aquela noite era completamente diferente de todas as outras que ele havia vivido até ali.
“Não foi normal. Nós estávamos em dois apartamentos e eu dormia no mesmo quarto que o assistente técnico, o Marcos Miranda. O Matias e o Julinho, que eram o fisioterapeuta e o preparador físico, ficavam no outro quarto”, conta o treinador.
“Eu não conseguia dormir e levantei e fui para sala. Quando eu chego na sala, eu vejo o Tande. Aí eu pensei: ‘Esse moleque não está conseguindo dormir. Vou ter que conversar com ele’. Aí sento na sala, fico conversando e tal, perguntando como está a vida, o que ele está achando, mas querendo que ele sinta sono e que vá descansar. Depois de uma hora, uma hora e meia de papo, ele vai para a cama dele, dorme, e eu ainda fico um pouco ali, porque eu não conseguia dormir”, narra.
Passar pela noite da véspera de um momento tão importante, entretanto, é apenas uma parte do ritual dos finalistas olímpicos. A angústia não termina quando o sol surge. Ainda restam as horas de espera até o momento de disputar a medalha de ouro. E Zé Roberto tem registrado em detalhes na memória tudo o que viveu no histórico 9 de agosto de 1992.
“Naquele dia, a gente levanta cedo para o café. O tempo estava meio nublado em Barcelona. Aí nós vamos para a região do ônibus, eu sento no mesmo lugar que eu sempre sentei nos ônibus, todos os jogadores na mesma posição, e aí vamos para Montjuïc. Estão jogando Cuba e Estados Unidos (na disputa do bronze). Aí eu chego para o pessoal da organização e pergunto: ‘Qual o nosso vestiário?’. E eles dizem: ‘O vestiário de vocês é aquele ali’. Eu olho e digo: ‘Não, eu não vou não! Nós vamos esperar o vencedor do jogo entre Cuba e Estados Unidos e nós vamos para o vestiário do vencedor’. Eu queria a energia positiva de quem ganhou a semifinal. Esperamos limpar o vestiário e fomos para o vestiário de Cuba. Aí teve a preleção. Mas aí já estava todo mundo viajando, achando que nós tínhamos ganhado da Holanda e que a gente podia repetir o feito”.
9 de agosto de 1992 – Um ouro histórico
Em resumo, é correto afirmar que, diante da Holanda, a Seleção Brasileira masculina de vôlei foi engatando as marchas set a set. Basta ver o placar: vitória por 3 x 0, com parciais de 15/12, 15/8 e 15/5.
O final daquela gloriosa campanha na Espanha termina com uma cena que milhões de brasileiros que acompanharam aquela partida jamais se esqueceram: um saque indefensável do camisa 1 da Seleção Brasileira: Marcelo Negrão. Para José Roberto Guimarães, contudo, a história da primeira medalha de ouro do vôlei brasileiro em Jogos Olímpico já tinha sido escrita momentos antes da pancada de Negrão do fundo da quadra.
“Na realidade não foi naquele momento”, diz o treinador, referindo-se ao que ele pensou quando o Brasil tornou-se um campeão olímpico. “Eu já não estava ali no 12º ponto. Até o cinco a cinco foi igual. Mas depois a gente fez seis, sete, oito, nove... No 12º ponto, quando eu vi que o time estava muito equilibrado e que a gente tinha possibilidade de ganhar, eu já não estava mais ali. Na minha cabeça eu queria que acabasse aquele jogo. Eu não via a hora daquilo terminar. Estava faltando ar, faltando fôlego, faltando tudo o que você possa imaginar. Eu já não estava raciocinando, eu já não estava ajudando o time”, confessa.
“Mas eles estavam muito tranquilos. Eu olhava para o time e a única coisa que me deixava tranquilo era que eu via que eles também estavam demasiadamente conscientes do que estavam fazendo. E o time do lado de lá todo perdido, correndo e errando, e o nosso time muito sereno. Virava, virara... ponto! Virava, virava... ponto! Até o 14º, quando foi o Marcelo Negrão para o saque. A gente fez um rodízio todo no 14 a 5 até o Marcelo voltar para o saque. Foi quando ele fez o ponto”, continua.
Euforia no retorno
Celebrar o ouro em Barcelona foi uma coisa. A festa em quadra após o triunfo diante da Holanda e a emoção e euforia na premiação foi seguida por momentos de grande alegria na Vila Olímpica. Mas foi apenas no retorno ao Brasil que José Roberto Guimarães e todos os envolvidos naquela façanha tiveram a verdadeira consciência do feito protagonizado na Europa.
“Demorou até a gente voltar para o Brasil e entender o que estava acontecendo aqui. Demorou até chegar ao aeroporto (em Congonhas). Teve a invasão do aeroporto. Eu estava sentado na mesa e falei com o cara da polícia: ‘O negócio não é comigo, é com os jogadores. Deixa eu ficar quietinho aqui’. Eu só via o pessoal passar correndo. Quebraram o vidro do aeroporto, queriam abraçar os meninos, queriam festejar junto com os meninos e eu só vendo passar o povo...”, lembra o treinador.
“Aí depois isolaram a gente em uma sala. O carro do Corpo de Bombeiros já estava posicionado. Nós fomos no ônibus até a corporação do Corpo de Bombeiros na Tiradentes e na Tiradentes a gente subiu no carro do Corpo de Bombeiros e ali a gente passou pela 23 de Maio. Quando a gente passou pela 23 de Maio parou tudo no lado de lá, com todo mundo em cima das pontes, saindo para fora dos prédios, dos edifícios... Foi aí que a gente se deu conta do que tinha acontecido no Brasil e de que a coisa estava diferente”, continua.
Ali, José Roberto Guimarães não tinha como ter noção do que o destino lhe reservaria após os Jogos Olímpicos de Barcelona. Mas o fato é que sua história de sucesso nas Olimpíadas estava longe de terminar com o ouro de 1992. Em seu caminho ainda haveria espaço para outros dois momentos de igual grandeza, desta vez com a Seleção Brasileira feminina, nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e Londres 2012. Mas essas são duas histórias que serão contadas separadamente e mais adiante na série de reportagens Brasil de Ouro...
Por ora, o treinador se limita a recordar como se sentiu ao olhar para trás e perceber que, aos 38 anos, tinha se tornado um campeão olímpico. “Primeiro, eu sou um cara muito de raízes. Uma das coisas mais importantes de uma pessoa é jamais esquecer de suas raízes. Então eu sempre me lembrei muito de onde eu vim, dos meus sonhos, das pessoas que eu encontrei, das pessoas que me ajudaram, o porquê que eu fui para o vôlei, como eu fui para o vôlei, o que aconteceu na minha vida dentro do vôlei e o meu sonho, depois de ter parado de jogar, de virar técnico, dando prosseguimento da minha carreira como treinador sem sair do vôlei”, diz Zé Roberto.
“A minha maior preocupação era não abandonar o vôlei. E eu consegui manter isso. Eu tenho toda essa história de gerações atrás de mim, de jogadores que tanto colaboraram, que tanto fizeram, que não eram profissionais, pois a maioria estudava, trabalhava, e que tinham um sonho de conquistar um dia uma medalha de ouro como nossos grandes ídolos japoneses, tchecos, que foram as escolas que acabaram influenciando a escola brasileira. Eu me vi naquele centro do furacão junto com os jogadores. Nós conseguimos uma conquista que o mundo sonha conquistar. Então foi uma coisa maior do que um sonho realizado. Ali eu já podia morrer que já estava feliz”, encerra o técnico.
Hoje, perto de completar 61 anos, José Roberto Guimarães é um dos maiores nomes do esporte brasileiro em todos os tempos. Ele é o único brasileiro com três medalhas douradas em Jogos Olímpicos no currículo e único treinador do planeta a ter levado um time masculino e um feminino ao topo do pódio olímpico. Uma história que, todos esperam, possa ter mais um capítulo vitorioso no Rio de Janeiro, em agosto, nos Jogos Olímpicos do Brasil.
Luiz Roberto Magalhães – brasil2016.gov.br
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Chama olímpica entra na Região Norte por Palmas, a mais jovem das capitais brasileiras
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- Publicado em Domingo, 12 Junho 2016 16:03
Depois de percorrer 148 municípios de 11 estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste do Brasil, a chama olímpica aterrissou, neste sábado (11.06), na mais nova das capitais brasileiras. Às margens do Rio Tocantins, Palmas recebeu em suas largas e planas avenidas, um revezamento da tocha que se estendeu por 32 quilômetros e levou às ruas 155 condutores – muitos deles responsáveis por mudar e melhorar a vida dos moradores por meio do esporte.
O tocantinense Tarcizo Lima, de 49 anos, é um deles. Há 14 anos ele criou um projeto para levar o futebol à criançada da cidade. O batizou de Arne 64, uma referência ao primeiro endereço de sua iniciativa. De lá pra cá, passou de 27 para 200 alunos, recebeu olheiros de times nacionais interessados em seus talentos, venceu campeonatos na Região Norte e hoje, em seu pequeno quarto, não há mais espaço para enfileirar os 108 troféus acumulados nessa trajetória. "Mas o primeiro presente que a gente ganha é o respeito da criança e da sua família e, em segundo lugar, a transformação na qualidade de vida dessas pessoas", admitiu ele.
A família, por sinal, é a base do trabalho comandado por Tarcizo. Para seguir no projeto é preciso que as crianças tenham boas notas na escola e que os pais acompanhem o dia-a-dia dos seus filhos, participando ativamente das decisões. "Não tenho filho biológico, mas costumo dizer que hoje tenho 200 filhos", disse, sorridente.
O brasiliense Inácio Almeida, de 10 anos, faz parte da família da bola. Recém chegado a Palmas, o garoto disputou um amistoso contra outros meninos do Arne 64. Uma semana depois, integrava a equipe. "Além de gratuito, o projeto dá a todo mundo a chance de jogar. Somos recebidos como família ", contou Inácio. A mãe, a autônoma Soraia Almeida, de 46 anos, reforça as palavras do menino. "O projeto vai além do futebol, promove uma integração entre as famílias. Há uma grande mobilização nossa para levarmos tudo isso adiante."
Quando o professor desceu do ônibus de condutores, encontrou parte da turma na calçada da avenida, de faixa empunhada, uniforme do time e com grito de guerra ensaiado: naquele lugar passaria um campeão, Tarcizo Lima, de tocha na mão! Empolgados, sob a supervisão dos pais, eles seguiram correndo ao lado do técnico, entre gritos e fotos.
Dedicar-se ao bem estar do outro parece ser uma missão dada à educadora física Soraia Tomaz. E, aos 50 anos, ela aplica sem perder o sorriso constante – e a determinação de seguir. À frente da Reviver, associação que leva cultura e esporte a crianças e jovens com algum tipo de deficiência, a professora tem conseguido transformar a vida de paratletas de Palmas. Basquete sobre cadeira de rodas, bocha, aulas de idiomas e música são apenas algumas das atividades praticadas por lá. Em breve, ela pensa em implantar o vôlei sentado para quem não tem mobilidade nas pernas. "Quando cheguei aqui tinha um plano de aulas, mas percebi que precisava me adaptar aos meus alunos e transformar a maneira ortodoxa de ensinar. Deu certo", lembrou ela.
Uma de suas alunas é Rhailma de Sousa, de 19 anos. A garota começou a praticar esportes na Apae. Em 2014, a ex-treinadora Gleice Souza identificou nela o potencial para o arremesso de peso. De lá pra cá, a paratleta já conquistou três títulos nacionais na modalidade e 15 medalhas, ao todo.
A deficiência intelectual é superada a cada dia com a disposição de Rhailma e, assistida pela instituição, ela passou a viajar o país em competições nacionais. O esporte levou tranquilidade à sua rotina, emocionando-a a cada medalha conquistada."Carregar a tocha é uma felicidade, uma coisa boa que não dá pra explicar." Para preparar a aluna para a condução, a professora Soraia fez uma réplica da chama olímpica e ensaiou com Rhailma seu grande momento. Não deu outra. Nos 200 metros que percorreu, ela correu tão rápido que chegou a dar uma canseira na preparada guarda da Força Nacional.
Paixão pelo atletismo
A professora Letícia Suarte tem uma história de luta e coragem. Há 18 anos, enfrentou uma gestação complicada de gêmeos. Um deles morreu antes mesmo de ela dar a luz. Desenganada, a filha Vitória sobreviveu, mas teve sequelas. Os médicos não deram mais do que um mês de vida à garota, que hoje é uma das jogadoras de bocha da Apae de Palmas. Aos 48 anos, Letícia dá conta de uma quádrupla jornada diária: o trabalho, os cuidados da casa, o mestrado e a prática do atletismo. E não deixa a peteca cair. "O esporte é realização e desafio. Não há desculpas para ficar parado".
O atletismo entrou em sua vida meio que por acaso. E ficou. Diariamente ela pratica a modalidade, pela qual se diz "apaixonada". Como condutora da tocha, Letícia sentiu-se honrada por representar a cidade no tour que roda o país. "Sou parte responsável por não deixar que a chama acesa na Grécia se apague. Isso por si só já é grandioso."
História
A "caçula das capitais", um dos apelidos dados a Palmas, foi fundada há 27 anos. Até então, fazia parte do estado de Goiás. Foi na Constituição de 1988 que se criou o 26º estado brasileiro: Tocantins. A capital tocantinense de mais de 265 mil habitantes tem suas curiosidades. Uma delas é um incontável número de rotatórias, presentes em todos os cruzamentos. Outra está no planejamento urbano, semelhante ao de Brasília. A cidade também pegou emprestado da capital do país muitos dos seus nomes de ruas e logradouros, onde letras e números formam endereços muitas vezes estranhos e curiosos para a maioria dos brasileiros.
Incentivo ao esporte
Graças ao investimento do Governo Federal, Tocantins terá um Centro de Iniciação ao Esporte com ginásio reversível e pista de atletismo, orçado em R$ 3,9 milhões. A parceria Estado/União já entregou a primeira pista oficial de atletismo da capital, localizada na Universidade Federal do Tocantins.
As Federações de Judô e Taekwondo também receberam equipamentos, como tatames, placares, sistema de videomonitoramento e telões, como resultado de parceria com o Ministério do Esporte. Vinte e quatro atletas nascidos ou que vivem no estado receberam o Bolsa Atleta no último ano, e o nadador paralímpico Ítalo Gomes Pereira, prata e bronze no mundial de Glasgow, na Escócia, e ganhador de ouro e três bronzes no Parapan de Toronto, é beneficiário do Bolsa Pódio.
Mariana Moreira e Hédio Ferreira Júnior, de Palmas - brasil2016.gov.br
Ascom - Ministério do Esporte